Amar, beber, esquecer

'Casimiro e Carolina' no Teatro Nacional D. Maria II

Amar, beber, esquecer

Depois de História dos Bosques de Viena e Fé, Caridade e Esperança, Tónan Quito regressa a Ödon von Horváth para contar a história de um amor ensombrado pela crise. Casimiro e Carolina está em cena até 29 de abril no Teatro Nacional D. Maria II.

Será possível o amor sobreviver em tempos de crise? O enredo de Casimiro e Carolina, à semelhança do de outras grandes histórias de amor, é suficientemente pessimista para o considerar impossível. Apesar de tudo, estamos perante uma comédia, tão acre como o sabor da cerveja que escorre pelas bocas de personagens sequiosas por esquecer a realidade e, se possível, a si mesmas.

Tudo se passa ao longo de uma noite, numa festa de cerveja, em Munique. A crise de 1929 ensombra o futuro imediato e no horizonte adivinham-se dias ainda mais sombrios, mesmo que o magnânimo “navio que voa”, o Zepelim, pareça anunciar uma Alemanha renascida e, de novo, poderosa. Porém, cá em baixo “morre-se à fome”, como aponta o recém-desempregado Casimiro, revoltado com o fascínio de todos perante aquele anúncio de um mundo de oportunidades a cruzar os céus.

Apesar do desespero, Casimiro tem o amor da namorada, Carolina. E está numa festa para se divertir, dançar e beber. Mas, a realidade, essa transporta-a consigo, e nunca dela se liberta, mesmo que todos em seu redor a queiram esquecer. E isso, ele não perdoa a Carolina, que exige, naquele momento, viver tudo o que a festa tem para dar.

Pela terceira vez, o ator e encenador Tónan Quito dirige uma peça de Ödon von Horváth, dramaturgo que até há poucos anos era pouco representado em palcos portugueses, mas que a crise iniciada em 2008 revestiu de uma assinalável atualidade e urgência. Segundo Quito, “Horváth é um cronista magistral” que plasmou em parte considerável da sua obra o ambiente que se vivia na Alemanha nos finais dos anos 20 e inícios de 30, pronunciando a tragédia que se viria a abater sobre a Europa.

Casimiro e Carolina, provavelmente a sua peça mais famosa, é um ensombrado “elogio ao amor”, mas também o retrato de um mundo em que tudo está à venda (como o amor, o sexo ou as emoções) composto como se de uma comédia se tratasse, mas com “personagens que jamais dizem o que pensam. E isso é, precisamente, o núcleo da tragédia no teatro de Horváth.”