A magia de contar uma história

"O Convidador de Pirilampos" estreia no Teatro São Luiz

A magia de contar uma história

Dois desenhadores, uma atriz e um músico contam uma história sobre um menino e o seu avô. O menino é como todos os meninos: curioso, explorador, criativo e com medo do escuro. Este menino também é inventor e gosta de 'cientistar'. Entende a língua dos pirilampos e sabe que entre eles há os que não se deixam apanhar, os sábios 'pirivelhos', que, além de precavidos, são bons contadores de histórias, tal como Ondjaki e António Jorge Gonçalves. O Convidador de Pirilampos estreia no Teatro São Luiz.

A história d’O Convidador de Pirilampos “começou por ser contada pela mãe Renata [ex-companheira de Ondjaki] ao filho Lino, depois passou pelas mãos de um escritor e de um desenhador, transformando-se num livro. Passou então para palco pela mão de dois desenhadores [para além de António Jorge Gonçalves, Paula Delecave], uma atriz e um músico, e vai ser também um audiolivro”. Quando recebeu o manuscrito de Ondjaki, Gonçalves não soube bem o que fazer, porque “as boas ideias às vezes são assim, não sabemos o que fazer com elas. Levou um bocadinho de tempo, mas um ano e meio depois o livro avançou e aí percebi que a história tinha pernas para andar”.

Desde o início, percebeu que o som tinha um peso importante: “há uma música no mundo, nas coisas, em nós. Sabia que ia querer trabalhar esta filigrana de voz com um instrumentista. Quando encontrei o clarinete do Zé e a voz da Cláudia percebi que tinha encontrado o par perfeito”. José Conde assume um papel fulcral com o seu clarinete, cujas notas soam sempre nas alturas certas, a dar o mote à narradora de serviço: Cláudia Semedo. A atriz, para quem o universo de Ondjaki não é novo (já tinha participado na peça A Bicicleta tinha Bigodes), supera todas as expectativas, dando ênfase às personagens sem as encarnar totalmente e sem perder a dimensão da história. Esse foi, para Cláudia, o grande desafio, “encontrar o rumo certo entre o storytelling e a representação”.

Nesta conversa a quatro (em que o uso da palavra é quase um monólogo), todos têm a mesma importância, como explica Gonçalves: “o quarteto tem de estar engrenado, porque se um descarrilha os outros vão atrás. A forma como a peça foi montada é um bocadinho um trabalho de relojoeiro”. E como é trabalhar com o público infantil? O universo dos mais novos encanta Cláudia, a quem o lado de “improviso e de trabalhar a verdade e o genuíno” interessa muito. “Os miúdos não têm filtros, são um público extremamente reativo e eu gosto muito disso”, diz a atriz.

Outro lado cativante de trabalhar com os mais pequenos é, diz, “as ligações que fazem e que nós, adultos, já não nos permitimos fazer devido à lógica e à razão”. Opinião semelhante tem o desenhador: “o público adulto vem com uma expectativa, pagou bilhete, cobra desde o primeiro momento o que vai acontecer. As crianças não sabem ao que vêm, para elas não é significativo se as pessoas que estão no palco são ou não conhecidas. Estão muito abertas e são muito espontâneas no seu julgamento. Os momentos mais gratificantes são no final dos espetáculos quando conversamos com elas. Aí sinto que estou a fazer alguma coisa que efetivamente faz a diferença”.

O Convidador de Pirilampos é uma peça que começou na imaginação de uma mãe e que ganhou vida própria. Há muitas formas de contar histórias, mas “uma coisa é contarmos uma história aos nossos filhos, à noite, na cama, e outra é estar numa sala de teatro perante dezenas de crianças. Isso é algo que me fascina muito: encontrar formas diferentes de poder contar uma história”, remata António Jorge Gonçalves. A peça está em cena no São Luiz Teatro Municipal, de 4 a 9 de junho.