Quando o vírus atingiu o planeta, a realidade do dia a dia tornou-se distópica. Ruas vazias de pessoas e carros. Termos novos ou reconfigurados: as cercas sanitárias, o teletrabalho, o R, as incidências.
À porta das pequenas mercearias de bairro, subitamente reanimadas do coma em que se encontravam, filas de homens e mulheres sorumbáticos, ansiosos com a distância que tinham que manter dos outros seres humanos. O açambarcamento, por parte de alguns, de papel higiénico e de desinfetantes, em detrimento da restante comunidade.
O pânico que se instalava nos olhos de cada um sempre que ao seu lado alguém tossia ou espirrava. A busca frenética por álcool gel. E, especialmente, a necessidade imperiosa de se encontrar máscaras, esse artigo quase que de pensamento mágico, capaz de proteger o seu portador da ameaça invisível e insidiosa que rondava à sua volta.
E depois, aguçada pela absoluta falta, a improvisação. As folhas de couve. Os tecidos cortados de camisas velhas e novas. Os moldes partilhados em linha e as especificações técnicas debatidas por todos. Artesanais, profissionais ou meramente utilitárias, as máscaras surgiram no nosso quotidiano sob todas as formas, feitios e materiais.
Escondem-nos, incomodam-nos, defendem-nos, anonimizam-nos ou individualizam-nos. São elas um dos símbolos desta nossa pandemia. E é também delas que se fala nesta exposição, usando-as como pretexto para falarmos de nós, dos nossos desejos e medos, enquanto pessoas e comunidade.
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