teatro
Memórias do teatro e da vida
"As Três (velhas) Irmãs" no Teatro Nacional D. Maria II
A partir do clássico de Anton Tchèkov As Três Irmãs, as atrizes Graça Lobo, Mariema e Paula Só revisitam memórias da vida e dos palcos, sob a batuta de Martim Pedroso, num comovente espetáculo-homenagem.
Perdidas algures na gélida província russa, em torno da mesa da sala da casa de família, as irmãs Olga, Masha e Irina preparam-se para comemorar o aniversário da última. A ocasião é talvez um pretexto, ou um argumento, para falar do passado e sonhar ainda com um futuro noutro tempo e noutro local (Moscovo, ou, porque não, Londres…).
Na verdade, em palco não estão propriamente as três irmãs, mas sim Graça Lobo, Mariema e Paula Só, sendo as suas memórias pessoais, do teatro e da vida, a confundirem-se com as das personagens de Tchèkov. Por isso, Martim Pedroso, artesão deste “espetáculo-homenagem”, se refere a As Três (Velhas) Irmãs como “uma memória de Tchèkov”, carregada de imagens projetadas por três grandes atrizes do teatro português.
Mas, este não é um espetáculo feito apenas de passado. Graça Lobo conta as suas histórias com a jovialidade de quem permanece eternamente jovem, Mariema continua a cantar como se tivesse 20 ou 30 anos, e Paula Só representa uma Irina tão incrivelmente virginal como se o tempo não tivesse passado por ela. Como sublinha Martim Pedroso, “o artista nunca perde a vontade de fazer o seu trabalho, porque sempre emprestou a vida à arte e a arte à vida”. Talvez por isso, “a peça simboliza o querer viver” e deixa um lastro de futuro, mesmo quando se sabe que o tempo não cessa a sua marcha.