teatro
A “Fina Flor” à beira da Piscina
‘The Swimming Pool Party’ no Teatro São Luiz
Um assassinato está prestes a acontecer na Sala Mário Viegas do Teatro São Luiz. E será numa festa da “fina flor”, à beira de uma piscina que teima em não encher. The Swimming Pool Party, de Ricardo Neves-Neves, com direção de Mónica Garnel, estreia a 15 de fevereiro.
Porque gosta de “começar sem saber como acaba”, Mónica Garnel quis trazer para o palco um policial inspirado em Agatha Christie. Por isso mesmo, anunciou um assassinato, testemunhado ao vivo e em direto pelo público, tal qual como numa das aventuras de Miss Marple. Desafiou então Ricardo Neves-Neves a escrever uma peça onde ecoassem aquelas ambiências tão marcadamente british dos romances da célebre autora inglesa. Mas, o dramaturgo, confessa, não se sentiu suficientemente inspirado pela pena de Christie, até que, através do célebre The Cocktail Party de T.S. Elliot, encontrou a pista que o levou a montar o “crime”.
Para dar vida a oito personagens tão decadentemente festivas que se tornam sombrias, e que Neves-Neves criou como sendo gente de uma “classe elevada, mas insensível e ignorante”, Mónica Garnel fez-se rodear por um elenco rico em afinidades. Da Casa Conveniente/Zona Não Vigiada, trouxe Mónica Calle, Inês Vaz, Rute Cardoso, José Miguel Vitorino e Ana Água, e a estes juntou “amigos que muito admiro como o Álvaro Correia, da Comuna, e o Tiago Vieira, da Latoaria”. Sem esquecer, no desenho de luz, vindo do Teatro Meridional, Miguel Seabra, e, na música ao vivo, a também atriz Sofia Vitória. No fundo, como conclui a encenadora e atriz, “trouxe a minha casa atrás.”
Reunidos tão nobres ingredientes, Garnel empregou ao espetáculo “uma ideia de festa, enérgica e ruidosa, à medida do homicídio que está prestes a acontecer”. Num ambiente de artifício, povoado por figuras “excessivas e grotescas, que me lembram obras do pintor flamengo Jacob Jordaens (1593-1678)”, a encenadora pinta uma tela feérica à volta da piscina que teima em não encher. Até ao momento em que a água transborda e se desvenda o mistério.
A aguçar o apetite para a “festa”, minutos antes do início do espetáculo, é exibido na Sala Bernardo Sassetti (antigo Jardim de Inverno), um trecho de Espelho Quebrado, filme dirigido pelo bondiano Guy Hamilton, com Angela Lansbury a interpretar Miss Marple. Talvez valha a pena levar mais do que à letra a pontualidade britânica e chegar a tempo de dar uma espreitadela… Quem sabe se não lhe irá ser útil para desvendar o crime anunciado.