dança
O regresso de uma peça icónica
Francisco Camacho apresenta 'O Rei no Exílio - Remake'
27 Anos depois da estreia, Francisco Camacho regressa a O Rei no Exílio, solo icónico do coreógrafo e bailarino, composto originalmente para o Klapstuk Dance Festival. Um Remake para ver, a 29 de junho, no palco da Sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II.
Em 1991, o jovem coreógrafo e bailarino Francisco Camacho partiu à procura de um “lugar para ser intérprete”, ainda no rescaldo da sua passagem por Nova Iorque, onde até equacionou trocar a dança pelo teatro. Foi na figura do último rei de Portugal, D. Manuel II, que se inspirou para criar a peça que seria determinante para a sua carreira, e onde introduzia o questionamento da forma artística como marca que haveria de perseguir em todos os seus trabalhos.
Ao lado de Fernanda Lapa, que acompanhou todo o trabalho de voz e de composição do personagem (apesar do coreógrafo o considerar “apenas uma figura apontada”), e de Carlota Lagido, que criou o figurino e foi “ajuda indispensável em todo o processo criativo”, Camacho concebeu um solo onde o intérprete (à época, também numa espécie de exílio, porque a situação da dança em Portugal era muito periclitante) se apõe à figura do último monarca português, explorando conceitos de Poder, de masculinidade e de solidão, enquanto testa os limites da dança e do teatro.
O sucesso internacional de O Rei no Exílio – “foi a peça que me abriu as portas” – deveu-se, nas palavras de Camacho, à “natureza coreográfica ser diferente daquilo que se fazia na época. Apesar de haver muita dança-teatro, sobretudo em França, a peça colocava a dança dentro de uma moldura teatral, ao mesmo tempo que promovia a justaposição entre mim, enquanto intérprete, e o personagem.”
Em 2013, com a crise no auge, Camacho regressaria a esta criação. Mas a opção foi fazer dela um Remake, com outros tempos e com menos de si mesmo. “Estou mais velho e mais pesado, e já não me interessa olhar tanto para mim como naquela altura, em que procurava descobrir-me”, confessa. Por isso, O Rei no Exílio – Remake é uma peça mais política, “com menos razão privada e mais razão de Estado, comparativamente à criação original, que até está imortalizada num filme dirigido para a RTP por Bruno de Almeida, filmado num estúdio de Nova Iorque.
Depois de várias récitas em Portugal e no estrangeiro ao longo dos últimos anos, o Remake desta que é considerada uma das obras mais marcantes da dança contemporânea portuguesa, sobe ao palco da Sala Garrett para uma apresentação única, que marca também os 25 anos da EIRA, estrutura dirigida pelo coreógrafo.