Musical para um Teatro transformista

'Xtròrdinário' celebra 125 anos do São Luiz

Musical para um Teatro transformista

Começou como D. Amélia mas, em pouco mais de uma década, virou República. Depois veio o fogo e a morte do fundador e chamaram-lhe São Luiz. Até hoje! Os 125 anos de história de um dos mais importantes teatros da cidade são passados em revista ao longo de duas horas pelo Teatro Praga. É um musical, tem José Raposo e a dupla Fado Bicha, é Xtròrdinário e está em cena até 18 de maio.

Não é de todo especulativo afirmar que o teatro sonhado (e fundado) pelo Visconde de São Luiz Braga no final do século XIX é um marco na vida de Lisboa. Tanto que, para assinalar os 125 anos do atual teatro municipal, o Teatro Praga concebeu um musical festivo onde se funde o cabaret e a opereta, e até mesmo a revista à portuguesa – ou a liderar o elenco não estivesse o versátil e sempre surpreendente ator José Raposo.

Com a sua habitual irreverência, os Praga criaram vários quadros ilustrativos da história do Teatro (que se confunde, inevitavelmente, com a da cidade e do país), desde a noite em que a “francesa” Rainha D. Amélia o inaugurou com uma opereta de Offenbach, até aos dias de hoje, marcado por uma espécie de “renascimento” iniciado sob direção de Jorge Salavisa, e continuado por Aida Tavares, atual diretora artística do teatro.

A dupla Fado Bicha (Tiago Lila e João Caçador) num dos muitos momentos musicais do espetáculo.

 

Ao longo do exigente trabalho de pesquisa e investigação feito para o espetáculo, André e. Teodósio, coautor e também ator, descobriu que “a história do São Luiz é uma surpresa permanente”. “Foi particularmente interessante perceber como ao longo do tempo este Teatro apresentou propostas artísticas que contrastavam com uma Lisboa atávica”. Teodósio lembra a passagem pelo São Luiz das grandes vedetas internacionais que deliciavam a sociedade lisboeta, mas não esquece as vanguardas, e até mesmo os primeiros espetáculos de transformistas no fim do século XIX, demonstrando que o São Luiz foi sempre “um espaço de diversidade e liberdade, mesmo quando os tempos não se coadunavam com estes conceitos.”

Toda esta ideia conjuga-se, simultaneamente, com a de um Teatro “transformista”, ou seja, em constante mutação, que passou por fases tão diversas e tão díspares. “Houve um período áureo, o das grandes vedetas, que praticamente se fecha com o incêndio; depois vieram os anos do cinema, a que se seguiram longas décadas com uma programação errante.”

“A história deste Teatro é uma surpresa permanente”, afirma André e. Teodósio.

 

O musical dos Praga define-se assim como uma celebração de todo esse percurso, com o São Luiz a afirmar-se como o grande protagonista ao longo de quadros protagonizados pelo Visconde de São Luiz e pela Rainha D. Amélia; pelas divas Eleonora Duse e Sarah Bernhardt; pelos futuristas e modernistas, como Santa Rita e Almada Negreiros; pelo ideólogo António Ferro ou pelo cineasta Leitão de Barros; e até pelos recentes diretores artísticos, Jorge Salavisa e Aida Tavares.

Com José Raposo como “grande mestre de cerimónias”, os Fado Bicha como “guest stars mais do que simbólicas da ideia de transformação”, todo um conjunto de atores que fazem parte da família Teatro Praga (para além de André e. Teodósio, o elenco conta com Cláudia Jardim, Diogo Bento, Jenny Larrue, Joana Barrios, Joana Manuel e João Duarte Costa), uma banda e bailarinos, que xtròrdinária é a história do São Luiz.