Os livros de dezembro

Oito livros para o Natal

Os livros de dezembro

“Todos os bons livros se parecem: são mais reais do que se tivessem acontecido”. Esta citação de Ernest Hemingway pode tornar-se num belo mote para o Natal de 2019. Através de uma simples oferta, vamos trazer novas vidas aos nossos familiares e amigos facultando-lhes a entrada na espantosa realidade do mundo da literatura. Sugerimos oito livros, mas há muito mais para ler e oferecer na livraria perto de casa. Feliz Natal e boas leituras!

Henry Bergson

O Riso

O filósofo Henry Bergson, Prémio Nobel de Literatura de 1927, opôs-se ao positivismo e ao materialismo desenvolvendo uma análise crítica do conhecimento fundamentada nos conceitos de memória, duração e intuição. Ao adoptar a biologia, a fisiologia e a psicóloga como bases do seu pensamento influenciou várias áreas da criação artística como o cinema e a literatura (Marcel Proust incluiu na sua obra monumental Em Busca do Tempo Perdido conceções de Bergson sobre a memória). O presente livro reúne três artigos sobre o Riso, analisado através do método que consiste em determinar os “processos de fabricação “ do cómico e, ao mesmo tempo permite descobrir qual a intenção da sociedade quando ri. O autor escreve que não pretende responder às interrogações sobre o significado do riso visando “encerrar numa definição a fantasia cómica. Vemos nela, antes do mais, algo de vivo. Tratá-la-emos, por muito leve que ela seja, com o respeito que devemos á vida. Limitar-nos-emos a vê-la crescer e desbrochar.”

Relógio D’Água

Paulo José Miranda

Um prego no Coração

Natureza morta

Vício

Em 1999, Paulo José Miranda tornou-se o primeiro vencedor do Prémio José Saramago com a novela Natureza Morta, reeditada neste volume, 20 anos depois. Escreve poesia, ficção, teatro e ensaio e publicou recentemente uma biografia de Manoel de Oliveira, A Morte não É Prioritária. O presente livro, de requinte gráfico assinalável, com belíssimas ilustrações de Tiago Albuquerque, reúne os três primeiros romances do autor, através dos quais procurou penetrar, em linguagem límpida e pensamento fino, os meandros da criação a partir de três artistas de grande relevo, dois poetas e um músico: Cesário Verde, João Domingos Bomtempo e Antero de Quental. Mais do que uma trilogia de recorte histórico, estes textos escritos em diferentes estilos – epistolar, narrativo e diarístico – mergulham na relação dos autores com as suas próprias obras e com as interrogações que nelas expressam.

Abysmo

Michel Pastoureau

Vermelho

O presente livro é o quarto de uma série em curso iniciada com Azul (2000), Preto (2008) e Verde (2013).Um quinto deverá suceder-lhes, dedicado ao amarelo. Á semelhança dos anteriores, é um livro de história que estuda o vermelho nas sociedades europeias, do paleolítico aos nossos dias, sob todos os seus aspectos, do léxico aos símbolos, passando sobre a vida quotidiana, pelas práticas sociais, pelos saberes científicos, pelas aplicações técnicas, pelas morais religiosas e pelas criações artísticas. Segundo o autor, o vermelho é a cor arquetípica, a primeira a ser reproduzida pela humanidade em pinturas parietais e adornos corporais. Vinculado ao fogo e ao sangue desde épocas remotas, é a cor do Graal e do amor nos romances de cavalaria. Será também a cor dos proscritos, das forças do mal, indiciando perigos e interdições. Marginalizado por Newton e renegado pela Reforma protestante, perde o seu estatuto de primeira cor e torna-se demasiado vistoso, e até imoral. Permanecerá, no entanto, como a cor do erotismo, da alegria e da revolução.

Orfeu Negro

José Luandino Vieira

Luuanda

O escritor José Luandino Vieira estava preso há quatro anos no Tarrafal quando, Em 21 de Maio de 1965, a Sociedade Portuguesa de Escritores deliberou atribuir-lhe o Grande Prémio de Novela, pela sua obra Luuanda. Nessa mesma noite a sede da SPE foi assaltada e por elementos da PIDE e da Legião Portuguesa. Nessa mesma data, o Ministro da Educação Nacional, extinguiu a Sociedade Portuguesa de Escritores. “Fechou os olhos com força, com as mãos, para não ver o que sabia, para não sentir, não pensar mais o corpo velho e curvado da vavó, chupado da vida e dos cacimbos, debaixo da chuva remexendo com as suas mãos secas e cheias de nós os caixotes de lixo dos bairros da Baixa”. Este pequeno excerto da obra é revelador da rutura que causou ao estabelecer uma norma angolana, distinta da portuguesa, na escrita e representação cultural, através do recurso a uma mistura de português e inúmeras palavras e expressões em quimbundo que recriavam a oralidade da linguagem da vida real. Luuanda reúne três contos sobre o tema da sobrevivência nos musseques angolanos, os bairros pobres da cidade.

Caminho

João Eduardo Ferreira e Paulo Romão Brás

O Ciclo Curvo das Noites

Fundada em 2017, de periodicidade eventual, a revista A Morte do Artista tem ilustrado temas como A Queda, O Outro e A Mentira. Nos três números já editados homenagearam-se Mário de Carvalho, Gonçalo M. Tavares e Lídia Jorge, que contribuíram com textos inéditos. E publicaram-se textos de escritores como Adolfo Luxúria Canibal, Aldina Duarte, Carlos Bessa, Hugo Mezena, Nuno Moura, Rita Taborda Duarte, Yolanda Castaño, entre outros. A Morte do Artista estreia-se agora como editora ao publicar O Ciclo Curvo das Noites, obra que reúne 34 poemas e um texto de João Eduardo Ferreira e 16 trabalhos gráficos de Paulo Romão Brás. A obra alterna poemas intimistas e poemas que revelam a veia satírica do autor (Elevante, Carta a uma Senhora, Dilema, Definir Estratégias). Possui, sobretudo, o condão de relembrar que toda a boa poesia, como a vida, tem segredos por desvendar e que só aprendemos a disfrutá-la plenamente quando renunciamos a decifrá-los. Como escreve o poeta: “Se não houvesse segredos, / na prática poderíamos dispensar até a própria vida.”

A Morte do Artista

Fernando Venâncio

Assim Nasceu uma Língua

Formado em Linguística Geral e docente de língua e cultura portuguesas nas universidades holandesas de Nimega, Utreque e Amsterdão, Fernando Venâncio considera a Língua portuguesa “um idioma em circuito aberto”. Para o provar recua à época em que o idioma se formou orientando-nos numa caminhada que toca a língua galega ou o português brasileiro, evidenciando as profundas derivas que lhe deram forma. Para o autor falar da história da língua portuguesa é falar das origens, influências, elasticidade e ainda das derivações que resultaram, por exemplo, no português do Brasil. Do polémico Acordo Ortográfico de 1990, Fernando Venâncio garante que foi, no mundo real, um devaneio inútil e dispendioso. No mundo real, português brasileiro e português europeu acham-se num processo de afastamento irreversível em todos os aspectos do idioma. Ao autor, nunca deixaram de inquietar as formas e as estruturas da sua língua materna, e também os processos históricos na origem delas. Assim Nasceu Uma Língua é o relato, simultaneamente apaixonado e rigoroso, dessa inquietação incessante.

Guerra & Paz

Diogo Rocha e Mário Ambrósio

Queijaria do Chef

Perú ou bacalhau? Eis o dilema incessante do jantar de consoada. Independentemente da escolha, numa mesa portuguesa não pode faltar a tábua de queijos nacionais: a variedade é grande e a qualidade excepcional. O presente guia destaca os queijos de território nacional certificados com a designação de DOP (Denominação de Origem Protegida) e IGP (Indicação Geográfica Protegida), acrescentando ainda alguns queijos, seleccionados pelo Chef, de regiões como a Madeira e o Algarve. A acrescentar às características, método de produção, sugestão de petisco e harmonização com vinho de cada queijo, encontrará mais de 50 receitas em que poderá utilizar os melhores queijos portugueses. Passando pela facilidade com que preparamos qualquer refeição com queijo sem que tenhamos de cozinhar, limitando-nos a fatiá-lo acompanhando-o com pão, fruta, bolachas ou salada, até às receitas mais sofisticadas, incluindo vieiras ou lavagante, sem esquecer as apetitosas sobremesas, este livro constitui um eloquente tributo a um dos maiores tesouros gastronómicos do nosso país: os seus queijos.

Casa das Letras

Sérgio Franclim

Mitos Gregos

O Triunfo dos Deuses

Perseu e Outros Heróis

“O mito é o nada que é tudo”, escreveu Fernando Pessoa na Mensagem. O poeta lembra-nos que apesar do mito não passar de uma explicação fantasiosa do real, mais do que o facto histórico concreto, possui um estatuto criador: é ele que “fecunda” a realidade, são as suas possibilidades criadoras que dão sentido ao real. De facto, é possível definir melhor um povo pelos seus mitos do que pela sua História. Quando pensamos na civilização clássica grega, são os deuses do monte Olimpo que imediatamente lembramos, mais do que os acontecimentos históricos da época. Recordamos o conjunto de histórias protagonizadas por figuras que conjugam características inerentes da personalidade humana e das forças da natureza e que propõem uma explicação para o surgimento do Universo e da vida. Nestes dois livros, Sérgio Franclim apresenta aos mais novos, de forma acessível mas rigorosa, as aventuras e desventuras destes heróis grandiosos, deuses e semideuses que espelham os comportamentos, os anseios e medos dos simples mortais. Estas duas obras cumprem uma nobre função que tem mais de dois mil anos: de geração em geração, fecundam a imaginação dos leitores ajudando-os a compreender o mundo a que pertencem através da gloriosa herança do passado.

Zéfiro