opinião
Um novo tempo e um novo lugar artístico
Um artigo de Susana Menezes
Dirigiu o serviço educativo do Teatro Maria Matos durante uma década. Em 2018 assumiu a direção artística de um novo teatro municipal em Lisboa, inteiramente dedicado ao público infanto-juvenil: o LU.CA . Teatro Luís de Camões, na Calçada da Ajuda. Susana Menezes foi uma das personalidades desafiadas pela Agenda Cultural de Lisboa para refletir sobre o teatro que dirige em tempos de pandemia e a enorme incógnita do futuro.
Durante este tempo pensámos nas crianças e nos jovens dentro das suas casas. Queríamos que pudessem continuar a relacionar-se com o LU.CA, ultrapassando a dimensão do teatro na calçada da Ajuda, transportando esta relação para um outro lugar na ausência de lugar físico.
Durante este tempo, estivemos em diálogo com os artistas organizando calendários e encontrando soluções para cada espectáculo e actividade que estava programada, trabalhando para garantir os compromissos que tínhamos assumido.
Dado o interesse de alguns artistas em testar o que este novo contexto propõe, alguns projetos transitaram para um modelo exploratório online.
Há obras que, por alguma razão, se ampliam através deste formato. Pelas características das metodologias utilizadas pelos criadores, foi possível avançar mais do que esperávamos, e ao mesmo tempo chegar a novos públicos.
Se, por um lado, esta paragem forçada tem sido extremamente penosa, por outro vemos que está a nascer um novo tempo e um novo lugar artístico. Como resultado deste confinamento, procuraram-se soluções criativas para a resolução de novos desafios que afinal se revelaram enunciados.
É nesta capacidade de redescoberta e de exploração que queremos investir.
O LU.CA está a desenhar o seu futuro em diálogo com as equipas artísticas, com os técnicos, os professores, os investigadores e os pais, e em relação com o que está à volta.
Ir ao LU.CA é assistir a espectáculos, mas também é conviver com as artes que orbitam à volta das practicas performativas; agora passaremos a explorar essa relação nos “novos espaços”.
Os palcos que aí vêm serão vários e as dinâmicas com os públicos terão de ir para além da experiência da rotina: o corpo no espaço físico do teatro.
Um teatro para crianças e jovens vai continuar a existir porque essa experiência é única, real e intransponível, mas queremos crescer noutros canais. Iremos fazê-lo não só construindo novas formas de contacto com as obras e com os artistas, mas também apresentando novas obras exploratórias que, acredito, se iniciem à luz deste novo contexto: projectos que encontrem no online um desafio e um contexto favorável para fazer crescer novas ideias.