opinião
Queremos continuar a pensar e fazer Teatro
Um artigo de Miguel Seabra e Natália Luiza
Em 1992, os atores e encenadores Miguel Seabra e Natália Luiza fundam o Teatro Meridional. A companhia, hoje sediada no Poço do Bispo, é uma das mais reputadas estruturas do teatro português, tendo sido, em 2010, distinguida com o Prémio Europa Novas Realidades Teatrais. Para a edição de maio da Agenda Cultural de Lisboa, os diretores artísticos do Teatro Meridional foram convidados a refletir sobre o teatro que dirigem em tempos de pandemia e a enorme incógnita do futuro.
O Teatro enquanto arte e ofício, ganha sentido através da presença conjunta de pessoas num mesmo lugar, a uma mesma hora, para assim vivenciarem conjuntamente uma situação ficcional e relacional entre quem executa e quem observa, entre Artistas e público, palco e plateia.
Esta crise pandémica está a paralisar o mundo de forma nunca antes vivida, circunstância que já está a influenciar os comportamentos e os relacionamentos humanos e, consequentemente, a forma como a classe artística, em plena combustão invisível, cozinha o incógnito futuro.
Por outro lado, nenhum modelo de programação consegue ainda ter resposta para uma situação em que se desconhece quando é que se regressa à vida dita normal e quais as exigências funcionais que nos vão ser colocadas, entre muitas outras questões.
O nosso olhar Meridional perante o mundo, está inevitavelmente também em processo de reflexão/ação, antevendo que as características do público, enquanto entidade recetora, também sofrerão alterações significativas e, como tal, os mecanismos e processos de comunicação terão igualmente de se agilizar inteligentemente.
Uma coisa é certa: queremos continuar a pensar e fazer Teatro e, embora a relação com o público, de imediato, só seja possível de uma forma virtual, estamos a aproveitar este período para refletir e concretizar atividades – já lançámos várias iniciativas de âmbito criativo nas redes sociais e vamos continuar a explorar esse campo de comunicação – e pensar projetos que envolvam os nossos pares e o público e que nos permitam alimentar outros saberes.
Queremos acreditar que este é um período em que todos temos de fazer ainda mais uns com os outros e, principalmente, uns pelos outros.