Luís de Matos

"Só não gosta de magia quem nunca viu ao vivo um espetáculo de magia"

Luís de Matos

O maior mágico português está de regresso com #CONECTADOS. Sobre o palco do Teatro Tivoli BBVA, de 18 de dezembro a 3 de janeiro do próximo ano, o imparável Luís de Matos apresenta "o primeiro espetáculo híbrido". Um conceito inovador onde a plateia vai muito para além do público presente na sala de espetáculos.

Em que altura da sua vida percebeu que queria ser mágico?

Todos os dias continuo a escolher este caminho que me diverte, realiza e permite fazer o que mais gosto. Tudo começou como hobbie e, no final da minha carreira académica e início de vida profissional, acabaria por ocupar todo o meu tempo. Momento em que a necessidade de escolha era imperiosa para pôr fim à vida dupla que começava a tomar a ganhar proporções difíceis de manter…

Foi o mágico mais novo a receber o Devant Award, o mais prestigiante prémio de magia do mundo. Que importância têm os prémios na sua vida?

São sempre excelentes surpresas, sobretudo por serem distinções para as quais não se pode concorrer… São uma consequência direta do nosso trabalho, chegam-nos de surpresa e sempre as recebi com grande humildade. Porém, a sua importância reporta-se sempre ao que fizemos no passado. Gosto de interpretá-las como incentivos e responsabilização para o futuro, procurando que sirvam como fasquias pessoais, na esperança de ser melhor amanhã do que fui ontem.

O que é mais importante: uma boa crítica ou um público feliz?

Indiscutivelmente, um público feliz. É para ele que eu trabalho. É o aspeto mais importante da minha atividade. Sem público não há magia, só ilusões. As críticas são sempre o exteriorizar de uma opinião pessoal que podemos respeitar mais ou menos. Acima de tudo, respeito enormemente as críticas da equipa que me acompanha há décadas e que sabe, como ninguém, perceber o que podemos coletivamente melhorar.

Como reage aos comentários das pessoas que criticam os seus truques?

Adoro! Independentemente de serem mais ou menos agradáveis e, por vezes, surpreendentes, são excelentes ferramentas de crescimento. Dão-me a conhecer mais sobre o meu trabalho… É como uma análise SWOT que nos dá a conhecer forças, fraquezas, oportunidades e “ameaças”.

Já conseguiu converter alguém que dizia não gostar de magia?

Muitas vezes, no final dos meus espetáculos, há sempre alguém que partilha que esteve ali contrariado… Que foi a reboque dos pais, dos filhos, do namorado ou de um amigo, e que adorou! Só não gosta de magia quem nunca viu ao vivo um espetáculo de magia. Na verdade, quando alguém me diz que não gosta de magia costumo perguntar que espetáculos já viu. Habitualmente a resposta é um silêncio pensativo que culmina com “pois… acho que nunca vi…”.

O confinamento tem sido uma altura inspiradora para criar truques?

Criar com a minha equipa tem sido a grande salvação do abismo. Temo-nos mantido ocupados e criativos. Graças a isso julgo ainda não ter perdido a minha sanidade mental… O espetáculo #CONECTADOS é o claro exemplo do abraçar das contingências transformando-as em oportunidades criativas. Jamais teríamos criado um conceito tão original e surpreendente se não fosse todo o pesadelo por que estamos a passar.

“Sem público não há magia, só ilusões.”

 

Como vê o estado da magia em Portugal?

Muito bem! Há toda uma nova geração que se apaixona diariamente e que traz sangue novo e vitalidade. Fico muito feliz!

Já trabalhou com grandes nomes internacionais. Há alguém com quem lhe falte trabalhar?

Falta sempre alguém… Ou mesmo renovar desafios com aqueles com quem fomos construindo cumplicidades.

Há algum truque que ande a imaginar há anos, mas a que ainda não conseguiu dar forma?

Existem vários nesse estado. A maioria do público que segue o meu trabalho está longe de imaginar que todos os dias, de segunda a sexta, das 9 às 18, trabalhamos no Estúdio33. É um constante turbilhão entre ambição e humildade, ideias que surpreendem e projetos falhados que só funcionavam no nosso desejo.

Quando assiste a um espetáculo de magia de um colega seu, consegue sempre adivinhar como são feitos os truques?

Desde cedo que adotei uma técnica… ver duas vezes! Uma como espectador, outra como profissional. E isso não é só válido para espetáculos de magia… faço o mesmo com musicais, peças de teatro, etc. É a minha tentativa de combater a deformação profissional e tentar resgatar a frescura que caracteriza um “espectador normal”.

Em dezembro, regressa ao Tivoli para o espetáculo #CONECTADOS, que, para além das pessoas presentes, inclui também interação com o público em casa. Agora mais do que nunca, a tecnologia é um aliado precioso?

O digital está há muito nas nossas vidas. A pandemia deu-lhe uma primazia nunca antes vista. Neste espetáculo, levamos o digital ao limite da conectividade, no sentido de que a magia aconteça no palco, na plateia e em casa daqueles que os espectadores presentes convidarem para participar remotamente. Até hologramas vamos ter…

Por que motivo devem as pessoas assistir a este espetáculo?

Três razões: porque depois de nove meses de jejum é importante que as famílias assistam a espetáculos e experienciem cultura ao vivo, sem ser através de um ecrã de computador ou televisão; porque #aculturaésegura e nenhum serviço noticioso até hoje reportou nenhuma cadeia de contágio que tenha tido origem numa sala de espetáculos, e porque a minha equipa e eu preparámos com muito amor e empenho aquele que será provavelmente o nosso melhor espetáculo de sempre.

É presença assídua na televisão nacional há anos, e nunca passa muito tempo sem ter um espetáculo novo. Parar é morrer?

Absolutamente. Quando a pandemia caiu sobre nós, a minha equipa e eu íamos iniciar uma digressão que, durante 23 semanas, passaria por outras tantas grandes cidades europeias. Fizemos a estreia na República Checa, em Praga, e, a seguir, viemos para casa. No início fiquei apático como todos, revoltado e em negação na esperança de que tudo não passasse de um pesadelo. Não passou e ficámos sem reação. A dada altura, numa revista inglesa, li um artigo cujo título era Sink or Swim. As três palavras da expressão Afundar ou Nadar foram para mim uma verdadeira epifania. Percebi que são essas as duas possibilidades de escolha que temos ao nosso dispor. Não temos sequer direito a perguntar por quanto tempo teremos que nadar, ou que distância, ou se a água está quente ou fria… a alternativa a nadar é escolher afundar.