Neon Soho

"Não quisemos fazer música para agradar ou para seguir um género"

Neon Soho

Os Neon Soho são um trio lisboeta de música eletrónica composto por Ana Vieira, Ricardo Cruz e Vera Condeço. Em 2019, o grupo lançou o EP Home e apresenta agora o álbum de estreia, Proof of Love, a 2 de novembro, no Teatro Maria Matos. Para conhecer melhor este projeto, a Agenda Cultural de Lisboa esteve à conversa com a vocalista Ana Vieira.

Como nasceram os Neon Soho?

O projeto começou comigo e com a Vera [Condeço]. Ela tinha algumas ideias para umas músicas e pediu-me para fazer uns improvisos. Isto já foi há alguns anos, e estávamos com alguma dificuldade em materializar estas ideias. Entretanto, e por coincidência, para uma das músicas do EP, Man Behind Me, a Vera pediu ao Ricardo Cruz que ajudasse com a guitarra. A partir daí houve uma enorme empatia, e a Vera sugeriu que ele fizesse parte do projeto. A partir do momento em que ele entrou foi incrível, foi uma espécie de elemento aglutinador porque somos os três completamente diferentes.

Porquê o nome Neon Soho?

São metáforas muito subjetivas que saíram de um brainstorming, e tem tudo a ver connosco. Soho é aquele lugar que existe em qualquer parte do mundo, algo multicultural de fusão de géneros musicais e de culturas. Somos muito diferentes quer a nível musical, quer de personalidade, por isso achámos que fazia todo o sentido. Por questões técnicas tivemos de acrescentar o ‘Neon’ porque em termos digitais ficava estranho ser só uma palavra. Escolhemos ‘Neon’ porque também tem a ver com um conceito citadino mais relacionado com a noite, e achámos que tinha a ver com a nossa música.

O vosso press anuncia este disco como “uma salada de pop, sem regras ou formalismos”. Como definem a música que fazem?

Exatamente assim. Escolhemos arriscar no que gostamos e no que nos diverte, de uma forma despretensiosa. Não quisemos fazer música para agradar, ou para seguir um género, quisemos fazer algo de que gostássemos realmente. Não há formalismos nem regras. Há algumas alusões a determinadas coisas dos anos 80 e 90, respeitando sempre as particularidades de cada um, uma vez que temos personalidades e gostos musicais distintos.

Proof of Love, o álbum de estreia, conta com produção de Rui Maia, um peso pesado na música eletrónica em Portugal. Como correu esta parceria?

Já tínhamos uma enorme admiração pelo trabalho do Rui e por todos os projetos em que participa. Achámos que ele era a pessoa certa para trabalhar connosco e desbloquear um bocadinho os nossos debates espasmódicos [risos]. Ele foi espetacular e deu-nos um input muito importante. Este álbum é uma espécie de patchwork, na medida em que há muitas canções que começaram a ser feitas há algum tempo e que contaram com o desempate do Rui. Temos músicas muito diferentes, é uma espécie de manta de retalhos de várias coisas, mas é mesmo a nossa ‘prova de amor’ e de partilha uns pelos outros.

Quem são as tuas referências musicais?

Há uma pessoa a quem quis fazer uma pequenina homenagem, a Ana Deus, dos Três Tristes Tigres. Sempre gostei muito do trabalho dela. Em termos internacionais, as minhas referências recaem sobre artistas como Portishead ou Björk. Dentro da pop dos anos 80, nomes como Boy George ou Dead or Alive.

“Uma sociedade com Cultura resolve melhor os seus problemas, ajuda-nos a amadurecer e a ser mais justos.”

Trabalhaste com o Rodrigo Leão. Isso deu-te mais segurança enquanto vocalista?

Sim, aprendi imenso com ele e utilizo cada experiência que tive. São projetos completamente diferentes, e tive o prazer de contar com o apoio do Rodrigo neste novo projeto. Mostrei-lhe as músicas e foi muito giro ver a reação dele. Se não fosse tudo o que aprendi ao trabalhar com ele, não estaria tão à vontade agora.

Como olhas para o estado da música eletrónica em Portugal?

De há um tempo para cá acho que se começou a fazer mais divulgação deste género musical. Há muitos projetos incríveis a acontecer. Há uns 20/25 anos havia espaço para os grandes artistas, mas pouco espaço para as bandas de garagem e acho que agora se nota uma grande diferença. A geração atual de músicos jovens tem muito conhecimento digital e utiliza uma data de recursos para apresentar as suas ideias. Não tem receio de o fazer nem quer colar-se a nenhum género, avança com toda a segurança. Acho que isso é uma coisa diferente que está a acontecer agora, e que ajuda a que haja mais divulgação e mais projetos. Em relação à divulgação, penso que a música portuguesa poderia ser mais divulgada e já agora também poderia haver mais orçamento para a Cultura. Uma sociedade com Cultura resolve melhor os seus problemas, ajuda-nos a amadurecer e a ser mais justos.

Apresentam o disco de estreia no Maria Matos neste início de novembro. Como vai ser o concerto?

Desde o início da pandemia nunca estivemos parados. Estivemos sempre a ensaiar, nem que fosse cada um em sua casa. Na última fase de preparação do disco tivemos mesmo que trabalhar dessa forma, o que também o torna diferente e especial. A partir do momento em que começou a haver uma maior abertura, agarrámos essa oportunidade com unhas e dentes e temos estado a trabalhar bastante. Uma coisa é trabalhar para o álbum, outra é preparar um espetáculo ao vivo, que é algo que só ao longo do tempo se vai melhorando e afinando. Estamos a trabalhar afincadamente nisso porque queremos que as pessoas vivam uma experiência a vários níveis.

Um dos convidados já é conhecido, e é Alex D’Alva Teixeira. Há mais surpresas que possas revelar?

Estamos a trabalhar nisso, mas neste momento ainda não posso revelar [risos].

Já há planos para o próximo disco ou ainda é cedo?

Já estamos a pensar nisso, como se fosse um sonho projetado para o futuro. O disco de estreia corresponde, definitivamente, àquilo que passámos nos últimos anos. O próximo será um pouco diferente.