teatro
O aniversário ao lado da festa
Teatro Meia Volta celebra um 'Joyeux Anniversaire'
O Teatro Meia Volta e Depois à Esquerda Quando Eu Disser cumpre, neste 2021, 15 anos de atividade e preparou um espetáculo-festa de aniversário na Casa do Capitão, ao Beato. Contudo, Joyeux Anniversaire vai além da celebração e, guiado pelos anfitriões, o público é convidado a testemunhar os dilemas e as contradições mais intimas e pessoais de cinco personagens ao assinalar a passagem de mais um ano de vida.
Festejar um aniversário é quase sempre um ritual de celebração da vida. Reunir familiares e amigos, cortar o bolo ou brindar à vida do aniversariante, fazem parte desta tão nossa tradição festiva associada à passagem do tempo. Ora, é precisamente para uma festa de aniversário do Teatro Meia Volta e Depois à Esquerda Quando Eu Disser, que a Casa do Capitão abre portas diariamente, até 20 de novembro, por volta das 19h30.
Por lá estarão as personagens-anfitriãs de Alfredo Martins, Anabela Almeida, Cláudia Gaiolas, Luís Godinho e Sara Duarte prometendo a boa disposição que se exige à ocasião. Porém, não se surpreenda se a dado momento cada um deles o convidar a entrar num quarto ou numa sala mais recôndita da casa. Há, certamente, uma história para contar à margem da festa, e talvez esteja longe de ser tão festiva quanto o esperado num espetáculo que, afinal, se intitula Joyeux Anniversaire.
Descortinada parte da surpresa, talvez já tenha percebido que o espetáculo está longe de transbordar felicidade. É verdade que tudo começa e acaba numa festa, mas no recato do local onde se dança ou rebentam pinhatas, existem personagens que procuram lidar com o avanço dos anos, com os corações quebrados pela solidão ou com os sonhos nunca cumpridos nesses tempos que já não voltam. Em comum, este é o dia dos seus aniversários e, muitas vezes, como já nos ensinou tanta poesia, isso só pode mesmo ser trágico.
Aproveitando as particularidades arquitetónicas de um primeiro andar na Casa do Capitão, em Joyeux Anniversaire, o Teatro Meia Volta apanha a boleia da festa de aniversário e procura uma reflexão sobre a vida e o tempo, a partir de cinco monólogos escritos pelo artista plástico e poeta André Tecedeiro, concebidos especificamente para cada um dos atores do coletivo.
Ali mesmo ao lado da sala onde se faz a festa, em cada uma das cinco salas de cinco cores diferentes, cada uma das cinco personagens despoja-se perante uma plateia reduzidíssima (são três espectadores em cada sala, de um total de…15). E, muito provavelmente, quando no final anfitriões e convidados se reúnem para a fotografia de grupo, talvez se conclua que nunca uma festa de aniversário foi tão melancólica.