cinema
Descobrir Allan Dwan
Cinemateca dedica retrospetiva a um dos pioneiros da cinematografia americana
A Cinemateca Portuguesa apresenta uma retrospetiva dedicada a Allan Dwan, um dos mais prolíferos cineastas da história do cinema. O ciclo começa a 2 de dezembro, naquela que será a mais extensa retrospetiva da obra de Dwan exibida em qualquer parte do mundo, com cerca de 60 títulos representativos de todas as fases do seu trabalho.
Segundo o programador Nuno Sena “há vários anos que a Cinemateca tinha a intenção de organizar um extenso ciclo sobre a obra de um dos mais relevantes – e porventura menos conhecidos – cineastas americanos, cuja prolífica obra (com cerca de 1600 títulos) atravessa cinco décadas da história dessa cinematografia, desde o tempo dos pioneiros até ao final do período clássico.”
Inicialmente programada para 2020 “acabou por ser adiada pela pandemia, mas é finalmente apresentada, preenchendo talvez a maior lacuna da história da programação da Cinemateca, já que nunca tínhamos dedicado um programa com alguma extensão a este enorme cineasta.”
Allan Dwan nasceu no Canadá em 1885. Ainda jovem muda-se com a família para os Estado Unidos, onde se formou em engenharia elétrica. Quando trabalhava numa empresa do ramo como especialista de iluminação, entrou em contacto com a Essanay Film Manufacturing Company. Foi nesse estúdio cinematográfico que começou a colaborar, clandestinamente, como escritor, acabando por ingressar na empresa, que cedo o promoveu a editor. Estava criada a base para uma surpreendente e longa carreira no cinema que terminou apenas em 1958, com a rodagem de The Most Dangerous Man Alive, estreado em 1961. Allan Dwan faleceu vinte anos após a estreia do seu último filme, na Califórnia.
A maior parte dos filmes realizados por Dwan datam de 1911, ano em que começou a dirigir a partir de uma bobina, ao ritmo de três filmes por semana. Era o início do cinema, onde tudo estava ainda por inventar, o que contribuiu para que Dwan fosse um dos pioneiros da indústria cinematográfica americana. Foi com ele que nasceu o dolly shot – usou um automóvel em movimento para filmar o passeio do ator William H. Crane, em David Harum (1915). A sua capacidade inventiva era extraordinária e num trabalho que fez para o realizador D.W. Griffith, colocou pela primeira vez as câmaras a “pairar” sobre os gigantescos cenários de Intolerance (1916).
Cineasta imaginativo, pragmático e elegante fez um percurso que passou pelo período pré-clássico e por todo o classicismo americano, atravessando várias décadas onde trabalhou os diferentes géneros: musical, filme de guerra, melodrama, noir, western, comédia.
A primeira parte da retrospetiva, já em dezembro, abre com a curta-metragem Mother of The Ranch, obra do ano inicial de Dwan como realizador e o título mais antigo apresentado no ciclo. De seguida é exibido o seu derradeiro trabalho The Most Dangerous Man Alive (1961), uma história de ficção científica que o produtor Benedict Bogeaus, com quem Dwan colaborou nos últimos anos da sua obra, planeara como episódio-piloto para uma série televisiva de baixo budget.
Destaque também para Sands of Iwo Jima (1949), excelente filme de guerra onde o tom documental de Dwan imprimi um enorme realismo. Aqui, John Wayne protagoniza o tradicional papel do sargento duro, tendo recebido a primeira nomeação para o Óscar.
Ainda em dezembro, de salientar Manhandled, obra feminista, que conta, para além de Douglas Fairbanks, com outra vedeta do apogeu do cinema mudo, Gloria Swanson; e Driftwood, filme do pós-guerra, período em que o cineasta passou a trabalhar quase exclusivamente para produtores independentes e pequenos estúdios de “série B”, onde dirige a muito jovem Natalie Wood.
Para janeiro Nuno Sena destaca “três das obras máximas de Dwan, feitas em períodos muito distintos da sua filmografia e que são prova do seu talento e à vontade em géneros tão diferentes: ainda do período mudo, Robin Hood, um fabuloso filme de aventuras com o lendário Douglas Fairbanks como protagonista, Silver Lode, um trepidante western que merece figurar entre os maiores filmes deste género; e Slightly Scarltet, um film noir (a cores) de uma modernidade surpreendente que mostra que mesmo quase até ao final da carreira Dwan foi capaz de renovar o seu cinema.”
Por fim, é importante referir que a organização deste ciclo contou com a colaboração de diversas entidades estrangeiras, com destaque para os arquivos americanos, nomeadamente a George Eastman House, a Library of Congress e a UCLA. Sem a sua ajuda não teria sido possível revelar ao público a obra única de um realizador que esteve esquecido, mas que nos últimos anos tem vindo a ser valorizado por várias gerações de críticos e historiadores.
A retrospetiva é acompanhada por uma pequena edição dedicada ao cineasta, a primeira de uma nova coleção da Cinemateca Portuguesa, de cadernos de apoio a ciclos de autores estrangeiros ou temas do cinema internacional.
Programação completa aqui