exposição
Arquiteturas e escultura em diálogo
Fernanda Fragateiro leva "Em Bruto: Relações Comoventes" ao Museu CCB
Refletir sobre o espaço, a arquitetura, a cidade e a modernidade é um dos objetivos da exposição que Fernanda Fragateiro agora apresenta no Museu CCB. Fruto de um convite feito pela Fundación Cerezales Antonino y Cinia de Léon, em Espanha, onde o projeto foi mostrado pela primeira vez em 2022, Em Bruto: Relações Comoventes está patente até 10 de setembro.
Com curadoria de Alfredo Puente, Em Bruto: Relações Comoventes consiste numa instalação de grandes dimensões que encontra novas expressões e promove novos diálogos com a arquitetura de cada vez que é mostrada. Partindo de uma estrutura complexa de traves, cavaletes, vigas e barrotes que convocam noções de reconstrução do espaço e da sua reconfiguração, a obra, agora repensada por Fernanda Fragateiro para o espaço do Museu CCB, ostenta títulos discretamente inscritos de obras assinadas por arquitetos e arquitetas que têm constituído referências importantes no percurso da artista. O resultado apresenta-se em forma de teia física, que é também uma teia de reflexões sobre o arquitetónico, a cidade, o espaço e a modernidade.
Mas, antes de se chegar à sala principal, atravessa-se uma outra, que, segundo a artista “é uma obra por si só”. Chama-se Materials Labs e trata-se “de uma obra aberta”, que vai crescendo à medida que Fernanda Fragateiro vai continuando o seu trabalho como escultora. São peças que reúnem, em mesas/caixas, materiais de proveniência muito diversa e entre os quais se incluem livros, artigos, mapas cromáticos, restos de materiais usados noutras obras, fotografias e manuscritos que contam a história do seu processo criativo.
“Na verdade, é um arquivo onde reúno uma série de referências e materiais de referência que foram importantes para construir determinadas exposições e determinadas esculturas, mas que, depois, se materializa da mesma forma que uma pintura. No fundo, é como se eu pintasse uma série de materiais que me interessam”, avança a artista.
A mostra expande-se depois para uma sala de leitura, onde os visitantes podem consultar os livros de arquitetura referidos na obra que visitarão a seguir. Após esta introdução, a exposição abre-se à instalação que, segundo Delfim Sardo, da direção do Centro Cultural de Belém, “é o corolário de um processo de diálogo com as questões políticas, sociais e formais da arquitetura com as quais a Fernanda Fragateiro tem vindo a lidar”.
Na última sala surgem então várias estruturas concebidas em madeira, carregadas de referências escritas, que evocam a ideia de construção. Sobre este trabalho, a artista revela: “A mim, o que me interessava enquanto escultora era trabalhar a ideia de processo, de uma construção que está em decurso e não uma obra acabada, finalizada, que depois fosse comercializável. Pretendia uma peça que nos interrogasse sobre como é que entendemos o que é matéria-prima, o que são materiais, o que é a construção, o que é ruína, o que é fragmento e também que nos interrogasse sobre a forma como nós nos relacionamos com essas matérias.”
Fernanda Fragateiro, artista plástica e escultora reconhecida pelo seu trabalho que transita entre as áreas da escultura, instalação e intervenção artística, tem-se destacado pelas suas obras site-specific, utilizando a arquitetura e o contexto como elementos fundamentais das suas criações, estabelecendo um diálogo entre a obra e o ambiente que a rodeia.
Em Bruto: Relações Comoventes pode ser visitada no agora denominado Museu CCB de terça a domingo, até 10 de setembro. A entrada no museu é gratuita no primeiro domingo de cada mês.