música
Um festival de ópera para todos
A 4.ª edição do Operafest começa a 18 de agosto
O Operafest está de volta sob o mote Entre o céu e o inferno. O festival conta com direção artística da soprano Catarina Molder, e volta a ter como epicentro o Jardim do Museu Nacional de Arte Antiga. Para além dos muito aguardados espetáculos de ópera, de onde se destacam Carmen de Bizet e A Flauta Mágica de Mozart, o programa inclui ainda aulas de canto para curiosos, um concurso para cantores de ópera, um curso e uma conferência e um ciclo de cinema.
Cantora lírica de formação, Catarina Molder é a mulher por trás do Operafest. A diretora artística do festival que vai para a quarta edição conta-nos que esta aventura nasceu em plena pandemia. “A ideia já estava no forno há mais de cinco anos e arrancou no primeiro ano de pandemia. Era uma coisa que estava no meu coração há muito tempo porque fazia falta. Vai ao encontro das grandes carências do mercado operático português.”
A verdade é que, até ao aparecimento do Operafest, “não existia, em Portugal, nenhum festival que entrasse no roteiro internacional dos festivais de ópera de verão”. Em tão poucas edições, o festival já se afirma “como um dos festivais europeus mais fora da caixa, e isso deve-se ao facto de apresentarmos grandes clássicos, mas também por apoiarmos muito a nova ópera, cruzamentos e revisitações.”
A resposta dos espectadores tem sido surpreendente, com “recordes absolutos de público que vem à ópera pela primeira vez. Estamos a chegar a um público que não consumia ópera. Este meio sempre foi muito fechado sobre si próprio, era preciso saber comunicá-lo. Chegámos a um ponto em que as pessoas só vão se à ópera se ela for quase 100% financiada pelo Estado, porque o público não pode pagar. A ópera afastou-se do grande público.”
Para a diretora artística, esse afastamento pode ter-se acentuado com a invenção do cinema, “que veio alterar a forma como as pessoas se divertiam. Com o aparecimento da televisão e das novas tecnologias, o divertimento deixou de estar no palco e passou a chegar a um número ilimitado de espectadores. O Homem entrou na utopia por excelência, e isso é maravilhoso, porque a arte tenta recriar utopias, o que tem um elemento muito catártico, porque enriquece a nossa existência, que é limitada, e apazigua as dores relativas à nossa finitude. Até lá, vamos tentando compreender os mistérios da vida e o objeto artístico tem uma ligação muito forte a estas grandes questões, que vão estar muito presentes nesta edição”.
O tema deste ano é Entre o céu e o inferno, com o subtema da libertação feminina: “as histórias das grandes óperas de repertório têm quase sempre heroínas, mulheres que são umas sacrificadas, tal como na vida real”, explica. A programação é marcada por grandes clássicos, com a presença das duas óperas mais vistas de sempre: Carmen, de George Bizet, no arranque do festival, e A Flauta Mágica, de Mozart. Molder destaca ainda “o grande clássico Suor Angelica, de Puccini, e a estreia absoluta de Rigor Mortis, do talentosíssimo Francisco Lima da Silva.”
Outro dos pontos fortes do festival é a ópera satélite, “que promove novos olhares e explorações da matéria operática a vários níveis, e que inclui uma conferência do Ruy Vieira Nery em torno do fenómeno [Maria] Callas na celebração do centenário do seu nascimento, e um curso livre que viaja pelo mundo da ópera”. Mas há muito mais para ver, como “a rave operática que se tornou a imagem de marca do Operafest, e onde se mistura o mundo pop com a ópera, demostrando o ecletismo do festival”.
A diretora artística do Operafest realça ainda a qualidade de todos os artistas envolvidos, “um viveiro de novo talento. Todos os encenadores deste ano estão a encenar ópera pela primeira vez”, como é o caso de Tónan Quito, com Carmen, Mónica Garnel, em A Flauta Mágica, ou David Pereira Bastos, em Suor Angelica e Rigor Mortis. “Alguns já são nomes consagrados no meio teatral, mas nunca encenaram ópera. Não vão estar preocupados com nenhum preconceito ou com a tradição. Acho que podem trazer propostas estimulantes para o mundo da ópera, que tem muita dificuldade em reinventar-se”.
Toda a informação e programação completa pode ser consultada aqui.