Cinema Paraíso

Locais para ver e conversar sobre filmes

Cinema Paraíso

Neste início de ano, fomos ao encontro de cineclubes, associações e espaços que promovem um cinema de proximidade, alternativo ao circuito comercial de exibição. São algumas das entidades e locais que, em Lisboa, exibem regularmente ciclos com sessões especiais, conversas e debates. É, acima de tudo, por amor aos filmes que estes “cinemas paraíso” continuam a existir e a programar.

Da Casa da Achada – Centro Mário Dionísio à Prosa, passando pelo Royal_Cineclube, Zero em Comportamento, Casa do Comum do Bairro Alto, Cinetoscópio e Clube de Cinema da Fábrica de Terror, damos a conhecer locais para ver e conversar sobre filmes.

Teresa Costa (fotografada na Voz do Operário)

Royal_Cine Cineclube

O projeto Royal_Cine, nome inspirado no antigo cinema da Graça, nasceu da vontade de uma equipa interdisciplinar, composta por Teresa Costa, Nathalie Mansoux, Andrea Sozzi, Hugo Soares, unida pelo amor ao cinema. O projeto avançou depois de ter concorrido ao programa BipZip, da Câmara Municipal de Lisboa. A sensibilização e educação para o cinema e a dinamização de um cineclube comunitário são a principal missão do Royal_Cine. Ligados ao território das Juntas de Freguesia de São Vicente e da Penha de França têm promovido, através do cineclube, sessões de cinema em vários espaços.

O salão da Voz do Operário é um deles, mas a intenção é exibir em diversas salas. Para programar as sessões são muitas vezes convidadas entidades ou pessoas individuais que pretendem dar a conhecer um filme ou refletir sobre uma temática associada à exibição, promovendo conversas após as sessões. Teresa Costa, coordenadora do projeto, afirma que o feedback tem sido positivo e que muito do trabalho que é feito junto das crianças e jovens, nas escolas, os leva a aderir às sessões do cineclube.

Rui Pereira (fotografado na Biblioteca de Alcântara)

Zero em Comportamento

A Zero em Comportamento – Associação Cultural nasceu em 2000 afirmando-se como uma alternativa ao cinema comercial. No início a atividade estava centrada na programação do antigo Cine-Estúdio 222, ao Saldanha. Em 2004, a Zero em Comportamento organizou a primeira edição do IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema Independente, hoje um dos mais importantes festivais portugueses.

A formação de um público infantil e juvenil continua a ser um dos principais objetivos, para o qual contribui o programa de curtas de animação Filminhos Infantis à Solta pelo País que percorre vários espaços a nível nacional. Promovem ainda, em Lisboa, O Filme do Mês, com exibições em bibliotecas municipais e no Cinema City Alvalade, assim como sessões de cinema em parceria com a BAIRROS e o Centro de Inovação da Mouraria.

Para Rui Pereira é o gosto pela sétima arte que os move, os leva a programar um cinema de proximidade, e refere que muitos dos que hoje aparecem, agora com os filhos pequenos, eram jovens que assistiam à programação do hoje encerrado Cine-Estúdio 222.

Alexandre Braga (fotografado na Prosa)

Prosa – Plataforma Cultural

A Prosa – Plataforma Cultural foi fundada por Maria Angela da Silva, responsável pela programação cultural ligada à história da arte e educação, e por Alexandre Braga, que assume a vertente das artes narrativas e cinema. Promover o acesso à cultura, inspirar a comunidade, estimular o pensamento e educar para a arte são alguns dos principais objetivos.

A programação de cinema é da responsabilidade de Alexandre Braga. A intenção é escolher filmes que tenham impacto no público, revelando mundos, conflitos humanos e vivências que permitem uma reflexão. O espaço acolhe também o FILM CLUB Curious Monkey, com curadoria de Catarina Jerónimo. Estas sessões apresentam alguns dos melhores clássicos do cinema mundial das décadas de 1940, 1950 e 1960, e seguem a tradição do film club, promovendo sempre conversas estimulantes após as exibições. A paixão pelo cinema, o convívio que este promove e o poder que tem de instigar a “catarse” são, para Alexandre Braga, as motivações que justificam todo o trabalho.

Luís Apolinário, Cátia Sousa, Stefano Savio (fotografados no Cinema Fernando Lopes)

Cinetoscópio

A parceria entre três empresas portuguesas, a produtora O Som e a Fúria, a Gambito, detentora da Alambique Filmes, e a Risi Film resultou, em 2001, na criação da Cinetoscópio. Luís Urbano, Luís Apolinário e Stefano Savio são a “cara” destas empresas, e Cátia Sousa a responsável pela coordenação e produção do projeto. Um dos objetivos iniciais desta parceria era a requalificação e reabertura de espaços de exibição comercial de cinema independente. Foi assim que o Cinema Fernando Lopes, reaberto em 2022, passou a ser a casa da Cinetoscópio, promovendo cinema independente, sessões especiais e mostras exclusivas.

As características da sala constituem uma oportunidade única: localizada no interior da Universidade Lusófona e inserida num enorme campus universitário, tem óbvias ligações a um público mais jovem, um dos principais desafios do sector. Com uma programação eclética e diferenciadora, o Cinema Fernando Lopes oferece uma seleção alternativa de filmes, assegurando que obras de interesse incontornável possam continuar a ser vistas no grande ecrã.

Miguel Ribeiro, Pedro Pinho (fotografados na Casa do Comum)

Casa do Comum

A recém-inaugurada Casa do Comum, centro cultural multidisciplinar, e sonho antigo do falecido livreiro José Pinho, oferece uma programação regular com concertos, leituras, debates e cinema. Miguel Ribeiro, que até este ano assumia a direção do Doclisboa, é responsável pela programação e esclarece que “a sala de cinema tem uma programação multidisciplinar e o cinema está em diálogo com outras formas de expressão artística, nomeadamente a música e a performance.”

O trabalho é desenvolvido em conjunto com o realizador Pedro Pinho. O enfoque está na apresentação de filmes portugueses, com a participação dos cineastas e a promoção de debates entre estes e o público. “Pretendemos que a Casa do Comum seja um espaço aberto ao diálogo e também à proposta. Haverá programas que surgem de dentro, mas também a partir de conversas que aqui se desenvolvem, e convidar outros a programar ciclos será um caminho que entendemos como natural.”

Em janeiro continuam as sessões do ciclo 15 Anos, 100 Filmes, que celebra os 15 anos da produtora portuguesa Terratreme.

Sandra Henriques (fotografada na Sociedade Guilherme Cossoul)

Clube de Cinema da Fábrica de Terror

O gosto pelo terror juntou Sandra Henriques, Pedro Lucas Martins e Ricardo Alfaia que, depois de se conhecerem numa oficina de escrita, decidiram desenvolver uma plataforma que divulgasse a produção cultural portuguesa ligada ao terror. Nasceu assim, em forma de site, A Fábrica do Terror.

Literatura, ilustração, teatro, música e, claro, cinema são todas as artes que pretendem divulgar. O clube de cinema nasce desta vontade de mostrar terror, neste caso no ecrã. Em colaboração com a Cossoul programam regularmente um ciclo de cinema dedicado a curtas-metragens de terror português contemporâneo, com sessões que contam, sempre que possível, com a presença dos realizadores.

Na Cossoul, o cinema é parte importante da programação acolhendo outras iniciativas como o Shortcutz, movimento internacional de curtas-metragens, que acontece todas as terças, ou o ciclo de cinema e debates Cinema & Política, organizado por Marta Fiolić e Maria Irene Aparício, do Instituto de Filosofia da NOVA.

Diana Dionísio, Pedro Rodrigues, Catarina Carvalho, António Cunha (fotografados na Casa da Achada)

Casa da Achada

A Casa da Achada – Centro Mário Dionísio é um polo cultural que acolhe o espólio, os interesses e a obra do escritor, pintor e professor Mário Dionísio (1916-1993). A biblioteca pública e a mediateca servem de inspiração para ler e ver filmes. A programação de cinema acontece há 14 anos e é pensada coletivamente por um “grupo de atividades”, do qual fazem parte os quatro elementos que fotografámos.

Os temas abordados nos ciclos de cinema incidem frequentemente sobre questões sugeridas pela vida e obra de Mário Dionísio, mas, por vezes, são convidadas a programar associações que trabalham temas relevantes, como o antirracismo ou o direito à habitação. Para este coletivo “os filmes são, como os livros, as pinturas, as canções, formas artísticas que nos ajudam a pensar o mundo que nos rodeia e que estimulam o pensamento crítico. Não nos interessa ‘programar’ no sentido convencional, mas pôr as artes em diálogo umas com as outras, e em confronto com a sociedade, para a repensar e transformar.”