A cortiça e a cidade

'City Cortex' explora o uso desta matéria-prima nos contextos urbanos contemporâneos

A cortiça e a cidade

Explorar o uso da cortiça, uma das matérias-primas mais versáteis e sustentáveis que a natureza oferece nos contextos urbanos contemporâneos, é o principal objetivo do City Cortex. Trata-se de um programa de pesquisa cultural que vê a cidade como um organismo vivo e dinâmico, tendo a coesão social, o conforto e bem-estar, a participação, a segurança, a sustentabilidade e a gestão de recursos como preocupações centrais.

De forma a inspirar o pensamento inovador e oferecer uma contribuição positiva, útil à nossa experiência de vida enquanto comunidade e à interação com o mundo natural, o City Cortex convidou seis arquitetos e estúdios de design internacionalmente reconhecidos – Diller Scofidio + Renfro, Eduardo Souto de Moura, Gabriel Calatrava, Leong Leong, Sagmeister & Walsh e Yves Béhar – a criar oito projetos originais em cortiça para espaços públicos e semi-públicos das duas margens do Tejo.

Produzido pela Corticeira Amorim, com apoio à produção da Artworks, curadoria de Guta Moura Guedes e desenvolvimento da experimentadesign, o City Cortex tomou como pontos de partida as freguesias de Belém, em Lisboa, e da Trafaria, em Almada. Os estúdios convidados reinventaram e testaram as possibilidades da cortiça portuguesa e da sua indústria de transformação. Para além de explorar o potencial da própria matéria, esta iniciativa procura também que a experiência do utilizador possa ser lúdica, oferecendo ao espaço urbano de uso comum a possibilidade de ser um espaço de interação multidisciplinar e multicultural.

Para visitar este museu a céu aberto, sugerimos o seguinte percurso:

Comece em Belém, na Praça do Império. Ao atravessar a passagem pedonal para o Padrão dos Descobrimentos, olhe para cima e conheça a primeira instalação de Sagmeister & Walsh (1). Dirija-se ao rio e vire à direita, até ao Espelho d’Água, onde encontra mais uma intervenção desta dupla, flutuando na água (2). Ao seu lado está o Museu de Arte Popular. Aí encontra a terceira instalação de Sagmeister & Walsh (3). Regresse até perto do túnel e, mantendo-se do lado do rio, caminhe até aos jardins do MAAT, onde estão as instalações de Yves Béhar (4), de Leong Leong (5) e, um pouco mais à frente, a peça de Souto de Moura (6).

Siga pela ponte pedonal na cobertura do MAAT e vire na primeira saída à esquerda. Desça a pequena rua e encontre o jardim com as intervenções de Diller Scofidio + Renfro (7). Continue pela Rua da Junqueira, atravesse o Museu dos Coches e utilize a sua ponte pedonal para chegar de novo à margem do Tejo. Em frente está o Terminal Fluvial de Belém: aí apanhe o barco que leva à Trafaria e à intervenção de Gabriel Calatrava (8).

1 – Life Expectancy | Sagmeister & Walsh

Tirando partido das propriedades de isolamento sonoro e térmico da cortiça, os designers de comunicação Sagmeister & Walsh desenharam painéis neste material para o teto do túnel, transformando o espaço e proporcionando uma melhor atmosfera sonora e experiência estética. Mas há também uma vertente comunicacional e inspiradora nesta instalação: a frase que se lê em cortiça, “se um jornal saísse apenas a cada cinquenta anos, reportaria sobre o aumento da esperança média de vida em vinte anos”, refere-se a uma das conquistas positivas da espécie humana.

2 – Humpacks | Sagmeister & Walsh

Uma vez que as zonas citadinas têm frequentemente locais de convívio com água, a dupla de designers nova-iorquina criou um colchão flutuante ecológico produzido a partir de esferas de cortiça e que é apresentado como uma alternativa aos colchões de plástico. A cor vermelha nesta peça representa os dados estatísticos sobre o crescimento da população mundial de baleias-jubarte em três anos, 2006, 2014 e 2022, no Oeste do Pacífico Sul.

[peça temporariamente indisponível devido a obras no lago onde se encontra]

3 – Cork Bottles | Sagmeister & Walsh

A poluição sonora em espaços públicos ou semi-públicos continua a ser um dos problemas nas cidades contemporâneas. Abordando, com sentido de humor, a questão do ruído dentro de um  restaurante, os designers idealizaram uma série de objetos em forma de garrafa, mas invertendo os materiais – o vidro é agora cortiça e vice-versa. Estas criações permitem absorver o som e criar um controlo acústico nestes espaços interiores.

[a peça é visitável com entrada paga no Museu de Arte Popular]

4 – Port_All | Yves Béhar

Inspirada na Torre de Belém, a instalação de Yves Béhar “assenta na ideia de uma receção acolhedora e de um espaço protetor. E a cortiça é o material perfeito para expressar estas qualidades”, avança o designer suíço. É que este material natural permite um isolamento dos sons envolventes, criando uma espacialidade interiorizada, tranquila, na qual materiais e forma se combinam para concretizar um acolhedor portal de entrada para a cidade.

5 – Lily Pad | Leong Leong

“O nosso projeto reflete sobre a hipótese dos equipamentos urbanos serem produzidos em cortiça. É uma forma de amenizar a dureza da paisagem da cidade, tendo em conta as diferentes exigências de cada corpo para se sentir confortável nos espaços urbanos”, diz Dominic Leong, do estúdio de arquitetura e design nova-iorquino Leong Leong. Inspirado pela ideia da cidade como espaço lúdico e de recreio, Lily Pad utiliza um aglomerado natural de cortiça para criar elementos esculturais que definem uma nova paisagem sensorial e micro-urbana para um público de todas as idades.

6 – Conversadeira II | Eduardo Souto de Moura

Conversadeira II é uma cadeira dupla, lugar para uma conversa ou para a partilha de um silêncio. O arquiteto português utiliza a cortiça para criar um ambiente de calma e refúgio,  possibilitando o encontro entre dois indivíduos e originando um espaço quase privado num local onde passam centenas de pessoas. Para Souto de Moura, “este protótipo vai funcionar como um teste para vermos o seu comportamento, que já sabemos que é altamente resistente e isolante, contra o tempo e o uso.”

7 – Second Skin | Diller Scofidio + Renfro

Focando-se na importância da leitura e da literacia, bem como na relevância dos espaços verdes nas cidades, o estúdio de Nova Iorque utilizou a cortiça para a construção de uma pequena biblioteca comunitária ao ar livre. A instalação, que “explora o potencial natural de sustentabilidade da cortiça num contexto urbano”, cria uma segunda pele de cortiça que envolve o tronco das árvores,  desenhando estantes e bancos, surpreendendo e convidando o público a sentar-se, a ler e a aprender.

8 – Onda | Gabriel Calatrava

São muitas as cidades que têm espaços urbanos vazios, abandonados ou subutilizados, que potencialmente têm grande valor para a comunidade. O arquiteto e engenheiro Gabriel Calatrava e o coletivo CAL criaram Onda, “com o objetivo de reforçar a identidade emergente da localidade como comunidade que valoriza os seus espaços públicos e a promoção da vida cívica”. Utilizando a cortiça como componente central de um sistema de ocupação, temporário ou permanente, Onda pretende ativar o encontro e o convívio da comunidade local e dos visitantes da Trafaria.