Agriões e outras poções

Visita encenada conta a história (e as estórias) do Teatro Nacional D. Maria II

Agriões e outras poções

Quem sabe quem foi Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga certamente saberá também que é a ela que se deve o nome do Teatro Nacional D. Maria II. E quem não sabe pode ficar a saber – isso e muito mais – em O Bolo de Aniversário de Agrião, uma visita encenada à exposição Quem és tu? — Um teatro nacional a olhar para o país, patente no Museu Nacional do Teatro e da Dança. A exploração performativa, dinamizada por Joana Brito Silva e Mariana Fonseca, promete ser uma viagem dinâmica pela história daquele teatro.

A rainha D. Maria II faz 27 anos e Eugénia Maurícia, camareira-mor de Sua Alteza Real, está decidida a fazer-lhe um bolo de agrião para comemorar. É um dia mesmo muito importante, até porque, por ocasião do seu aniversário, a rainha vai receber o maior de todos os presentes: vai ter um Teatro Nacional com o seu nome! Mas a tarefa não se afigurada nada fácil, especialmente porque a rapariga não se consegue lembrar da receita.

Enquanto tenta descobrir os ingredientes necessários, Eugénia, personagem aqui interpretada por Joana Brito Silva, vai percorrendo a exposição e, fazendo uso do seu espólio, vai contando a história do Teatro Nacional D. Maria II (TNDM II), desde a ideia da sua construção até à atualidade.

Joana Brito Silva interpreta Eugénia Maurícia, camareira-mor da rainha D. Maria II | ©Filipe Ferreira

 

“Neste percurso, passamos por vários espetáculos que foram encenados no D. Maria, falamos de várias pessoas que trabalharam no teatro, lembramos vários momentos políticos e da história do nosso país, e mostramos como é que o teatro nacional se foi moldando ou reagindo a esses mesmos eventos políticos. E, claro, como é que foi, também, influenciado por eles”, diz a atriz.

A Joana Brito Silva junta-se, adiante na visita, Mariana Fonseca, com quem divide a criação do espetáculo. A dupla é fundadora da Lobby Teatro, uma companhia que tem como propósito fundamental promover criações e textos originais de artistas emergentes, contribuindo para a renovação do tecido artístico, e que se destaca pelos seus projetos multidisciplinares e pelo trabalho que desenvolve no seio de comunidades que vivem situações vulneráveis, em locais com acesso diminuto à cultura.

Neste espetáculo, Mariana assume várias personagens, que vão aparecendo durante o percurso. “Interpreto a Dona Amélia Rey Colaço, que foi responsável pela Companhia do Teatro Nacional durante 45 anos; entro também como uma bruxa de Macbeth, a peça escocesa de Shakespeare; depois volto a entrar como uma capitã de Abril, e por último, sou a Dona Maria II, a menina dos anos”, adianta.

Algures durante o percurso, Mariana Fonseca interpreta uma Capitã de Abril | ©Filipe Ferreira

 

Na visita dirigida aos mais novos, além da história do teatro e da história do país, são abordadas uma série de questões importantes, como o racismo, a igualdade de género ou a importância da democracia e da liberdade. “A empatia deve ser cultivada desde pequeninos. Se os temas forem normalizados, eventualmente deixará de ser uma questão e isto é o cenário ideal”, acrescenta Mariana.

Precisamente por ser criado para crianças, O Bolo de Aniversário de Agrião revela-se um verdadeiro desafio para as atrizes. “A peça pede um diálogo quase constante e muitas vezes não se conquistam as crianças de forma imediata. Mas normalmente mantêm-se agarradas, até porque os adereços pedem isso. Há agriões a voar, panelas a arder, extintores para apagar o fumo… portanto achamos que o desafio está cumprido. Mas sim, é difícil”, admite Joana.

A exposição Quem és tu? — Um teatro nacional a olhar para o país reflete sobre a história do D. Maria II nos últimos 100 anos e a sua relação com Portugal. A partir de fotografias, trajes, maquetes, desenhos, filmes, objetos de cena e arquivo administrativo e criativo, é uma viagem que começa com a instauração da ditadura militar pelo golpe de 1926 e que explora as muitas realidades de quase um século de história, cada uma delas procurando o que existe de comum entre a memória coletiva e a identificação pessoal. A mostra pode ser visitada no Museu Nacional do Teatro e da Dança até ao próximo dia 29 de dezembro.

O Bolo de Aniversário de Agrião, a visita encenada a esta exposição, acontece nos dias 3 e 17 de novembro, e 1 e 15 de dezembro, às 10h30. A participação é gratuita, mediante inscrição prévia para se.mnteatroedanca@museusemonumentos.pt. Há também sessões para escolas agendadas de 27 a 29 de novembro, às 10h30 e às 14h30.