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O Dona Maria II está de regresso a Lisboa
No próximo ano, o teatro nacional sobe ao palco de outras salas da cidade
O Teatro Nacional D. Maria II apresentou a programação para 2025, o ano em que, ainda sem voltar ao edifício do Rossio, terá uma presença regular em Lisboa. Utopia, transformação social e desejo de mudança são as ideias sublinhadas pelo diretor artístico, Pedro Penim, nos espetáculos que aí vêm.
Não é o regresso a casa, mas já estará mais perto. Em 2025, com o edifício do Rossio ainda em obras de requalificação, o Teatro Nacional D. Maria II (TNDMII) pede o palco emprestado a outras salas de Lisboa. De fevereiro a dezembro, a programação regular faz-se entre o Teatro Variedades e os Jardins do Bombarda, passando também pelo Coliseu dos Recreios e o Mosteiro dos Jerónimos.
A Farsa de Inês Pereira, reescrita de Pedro Penim a partir de Gil Vicente, encabeça a cronologia de espetáculos fora de portas do TNDMII. Estreado no final de 2023 e distinguido recentemente pela SPA – Sociedade Portuguesa de Autores como o melhor texto português representado, chega ao recém-inaugurado Teatro Variedades, no Parque Mayer, a 12 de fevereiro, e aí fica até 2 de março. Este “olhar cáustico sobre alguns alicerces da sociedade contemporânea, nomeadamente o trabalho, a sexualidade e a célula familiar” será o pontapé de saída para uma programação que tem como pensamento “a utopia, a transformação social e o desejo de mudança, numa sociedade marcada por conflitos e desigualdades” – as palavras são do encenador e diretor artístico do TNDMII, que recorda o filme suíço dos anos 1970 Jonas qui aura 25 ans en l’an 2000, dirigido por Alain Tanner e escrito em colaboração com o crítico de arte e romancista John Berger, uma obra que acompanha um grupo de personagens em busca constante por alternativas ao sistema vigente.
“Creio que evocar este filme é a forma mais justa de colocar neste editorial o que julgo ser a potência da programação do Teatro Nacional D. Maria II para 2025”, escreve no texto de apresentação. “Enquanto o futuro não chega, demoremo-nos no seu instigante ensaio”, reforça.
Nacional no Variedades e Bombarda
No Teatro Variedades estarão, também, criações de Patrícia Portela (Homens Hediondos, monólogo interpretado por Nuno Cardoso, a partir de David Foster Wallace, em maio), Odete (As mulheres que celebram as Tesmofórias, a partir de Aristófanes, em junho), Marco Mendonça (Reparations Baby!, em julho), Cristina Carvalhal (O Nariz de Cleópatra, pois claro!, a partir de Augusto Abelaira, em setembro) e Jorge Jácome (Cosmic Sans, uma obra em formato digital com elementos das artes performativas e das media arts, que se estreia online em junho e terá uma instalação física em setembro). O novo teatro do Parque Mayer foi também o escolhido para apresentar um espetáculo do FIMFA Lx25 – Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas, em maio.
Já a Sala Estúdio Valentim de Barros, nos Jardins do Bombarda (situados no recinto do antigo Hospital Miguel Bombarda), recebe mais de uma dezena de espetáculos ao longo do ano. Inês Vaz e Pedro Baptista estreiam, em março, Auto das Anfitriãs, a partir de Luís de Camões, no âmbito das comemorações dos 500 anos do nascimento do poeta; Raquel Castro traz o seu As Castro a Lisboa, em maio; Sónia Baptista apresenta King Size, em junho; Ary Zara e Gaya de Medeiros mostram, em junho, a criação feita com a Bolsa Amélia Rey Colaço, Corre, bebé!; o Teatro Praga celebra 30 anos em julho; a companhia Hotel Europa volta a Luta Armada, em setembro; Rogério Nuno Costa estreia uma nova criação, em outubro; Maria Inês Marques leva ao palco As Secretárias, do coletivo norte-americano feminista The Five Lesbian Brothers, em outubro; e Ritó Natálio conduz-nos por Rito de Transição, em dezembro. Na programação dos Jardins do Bombarda haverá, também, espaço para a École des Maîtres, a BoCA – Bienal de Artes Contemporâneas e o Alkantara Festival.
Anos redondos
Há, ainda, dois destaques na programação anunciada pelo TNDMII: os espetáculos que acontecem no Coliseu dos Recreios e no Mosteiro dos Jerónimos. Na sala das Portas de Santo Antão, Pedro Penim repõe, de 24 a 26 de abril, Quis Saber Quem Sou, a peça estreada no Teatro São Luiz este ano e que voltará a Lisboa depois de um ano de digressão pelo país, assinalando agora os 51 anos da Revolução dos Cravos.
A outra grande empreitada será a sessão única de Os Lusíadas como nunca os ouviu, a 3 de maio, em que António Fonseca apresentará “a falação integral” de Os Lusíadas, agora nos Jerónimos e também inserido na celebração dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões.
Paralelamente, continua a digressão fora de Lisboa, em mais de 30 teatros e municípios de todo o país, e continuam as apresentações internacionais, assim como os programas de participação, de pensamento e de formação. É pegar na agenda de 2025 e começar a assinalar os dias.