Os dias de Ana Tang

A agenda cultural da atriz para esta semana

Os dias de Ana Tang

O que fazer em Lisboa? Entre os ensaios de Uma peça para quem vive em tempo de extinção, a atriz Ana Tang dá as suas sugestões de cinema, música, artes plásticas e literatura.

Nunca deixa de ir ver uma exposição ou um concerto por estar embrenhada nos ensaios de um espetáculo. É o que acontece por estes dias. A 5 de dezembro, Ana Tang estreia Uma peça para quem vive em tempo de extinção, projeto do Teatro Nacional D. Maria II que estará no Teatro do Bairro Alto até 8 de dezembro. O monólogo que interpreta, escrito por Miranda Rose Hall, foi encenado por Katie Mitchell e é agora reinterpretado em vários países por artistas diferentes. Em Portugal, Ana Tang partilha a recriação com Guilherme Gomes, numa encomenda do STAGES (Sustainable Theatre Alliance for a Green Environmental Shift), que reflete sobre o contributo do setor cultural para os desafios colocados pela emergência climática, testando soluções sustentáveis para a criação e a circulação internacional de espetáculos – todos os teatros parceiros desenvolvem reencenações da peça com recursos e equipas locais, sem a deslocação de pessoas ou objetos. Em cena, paira a pergunta “O que fazer diante do fim?” e a energia elétrica para a iluminação é gerada em palco, em tempo real, através de um engenho criado pelos alunos da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Naked Spaces: Living is Round, de Trinh T. Minh-ha

25 novembro, 21h30
Cinemateca Portuguesa

É a primeira longa-metragem de Trinh T. Minh-ha, realizadora de origem vietnamita, que, acompanhando “três vozes femininas representativas de diferentes heranças culturais e modos de perceber o mundo”, desconecta intencionalmente som e imagem, para criar “uma experiência visual e auditiva verdadeiramente desorientadora e poética”. Assim se apresenta este filme que Ana Tang já pôs na agenda. “Não conheço a realizadora, mas quero muito conhecer, porque já me falaram muito bem dela”, justifica. “Além disso, adoro o Vietname, amei lá estar e gostava de voltar. Há seis anos que não vou à Ásia e sempre que vejo alguma referência, sinto saudades”, revela a atriz que nasceu e viveu em Macau até aos 8 anos. “Já sei que vou conseguir ir ver, mesmo sendo a última semana de ensaios antes da estreia. Ver coisas que não têm nada a ver com o que estou a fazer ajuda-me imenso, porque preciso de desligar. Gosto de ir ao encontro do trabalho artístico de outras pessoas e voltar aos ensaios e sentir que trago bagagem e coisas para dizer. Tenho visto imensos filmes durante a preparação deste espetáculo.”

Coro Alarido – Festival A(r)tivismo

29 novembro, às 19h
Avenidas – Um Teatro em Cada Bairro

Nascido em 2017, o Alarido – Coro Feminista e LGBT faz ativismo através da música, cantando sobretudo arranjos a cappella de canções pop. Ana Tang destaca este concerto, inserido no Festival A(r)tivismo, onde estarão dois dos cantores que integram também o coro de Uma peça para quem vive em tempo de extinção e que serão os elementos que, em cena, ativam o mecanismo produtor de energia elétrica.

Sound Preta

29 novembro, às 22h
Lisa

“É um espaço muito fixe com boa programação”, define Ana, falando da sala Lisa, na Rua das Gaivotas. “Tenho vários amigos músicos que são programados lá, tal como na ZDB 8 Marvila, a ramificação mais recente da Galeria Zé dos Bois, com programação musical semanal feita pelo Orlando Rodriguez, que é meu amigo e tem bom gosto”. Sobre Sound Preta, que nunca viu atuar, tem ouvido vários elogios e isso despertou-lhe a vontade de conhecer melhor esta dj que se movimenta por entre os beats de trap, grime e drill, funk brasileiro e sonoridades eletrónicas.

Mutual Benefits, de Diana Policarpo

Até 24 janeiro 2025
Galeria Rialto6

Ana Tang dá voz a um dos vídeos desta exposição onde Diana Policarpo apresenta vários trabalhos sobre um dos temas que tem explorado: os fungos. “Interessa-me bastante também porque são um dos componentes da medicina tradicional chinesa, o curso que acabei este ano”, diz a atriz. “A Diana é minha amiga e a Rialto6 é das galerias onde mais gosto de ir. As inaugurações são sempre grandes acontecimentos.”

Bardo Loop, de Gabriel Abrantes

Até 11 maio 2025
CAM – Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian

Obrigatório, aconselha Ana Tang, descobrir a instalação de Gabriel Abrantes inserida na exposição Linha de Maré, no novo CAM. Partindo do 25 de Abril de 1974 para chegar aos dias de hoje e refletindo sobre as revoluções em curso, sobretudo as relacionadas com o planeta, a mostra reúne 99 obras de pintura, desenho, vídeo, fotografia e escultura e apresenta este novo trabalho de Gabriel Abrantes, encomendado para este propósito. “Gosto muito do trabalho dele, sobretudo como artista visual”, nota a atriz que participou no último filme do realizador, A Semente do Mal. “Fui à sala ver a peça dele e depois não me apeteceu ver mais nada, senti-me abalroada, fui para o jardim, só estar. É raro ter estas experiências num museu, por isso, foi mesmo bom. Tem contornos de comentário político, mas é assumidamente pessoal, o que me agrada muito, considero corajoso. As pessoas que conheço também têm tido reações muito fortes.”

Livraria Greta

Rua Palmira, 66C – Anjos

“A Greta tem uma ótima seleção de livros de mulheres, pessoas não binárias e pessoas trans. É no meu bairro, por isso, passo lá muito. Como organiza imensos lançamentos, vale a pena estar atento à agenda desta livraria feminista”, afirma Ana Tang, acrescentando que tem frequentado também a livraria do CAM. Foi na Greta que comprou Episódios de Fantasia & Violência, de p. feijó, um dos livros que começará a ler depois de estrear o novo espetáculo. “Conheci-a no liceu Camões, onde andámos ao mesmo tempo. Não acompanhei de perto a sua evolução académica e existencial, mas reencontrei-a há pouco tempo”, conta sobre a escritora, investigadora e “militante da monstruosidade, enquanto teoria e práxis de lutas minoritárias”, que lançou este título no passado mês de agosto, onde fala “de um mundo violento para com o que não é binário ou, em geral, não encaixa na experiência masculina dominante”.