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Os dias de Isabel Lucas
As sugestões da jornalista e crítica literária em Lisboa
A autora do livro Conversas com escritores é uma “lisboeta adotada” e gosta de caminhar a pé pela cidade. Aqui, revela os seus lugares de eleição.
Chegou às livrarias em outubro, o novo livro de Isabel Lucas. Conversas com escritores, editado pela Companhia das Letras, reúne entrevistas a 15 escritores, conduzidas pela jornalista e crítica literária, quase todas publicadas no Ípsilon, o suplemento do jornal Público dedicado às artes. Elena Ferrante, Paul Auster, Zadie Smith, Patti Smith, Javier Marías, Salman Rushdie, Peter Handke, Don DeLillo, Julian Barnes, Jonathan Franzen e Enrique Vila-Matas são algumas das pessoas com quem se sentou para conversar.
331 Amoreiras em Metamorfose
Até 31 dezembro 2025
Museu Arpad Szenes Vieira da Silva
Na celebração dos 30 anos do Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva, Isabel Lucas sugere uma visita à nova exposição. “Evoca-se a memória do edifício e do próprio museu, com obras a remeter para o universo animal e vegetal, e para o amor cantado por Ovídio. São muitos corpos, de muitas espécies, num canto quase inicial”, descreve. “É também o regresso à fachada dos nomes dos dois artistas, da autoria de Pedro Falcão, onde antes de 1994 estavam gravadas as letras ‘Fábrica de Tecidos de Seda’”, acrescenta, lembrando que o museu “fica num dos recantos mais bonitos de Lisboa, o Jardim das Amoreiras”.
Livraria da Travessa
Como não podia deixar de ser, a jornalista elege as suas livrarias preferidas em Lisboa. Da Livraria da Travessa, na Rua da Escola Politécnica, diz: “Os livros bem exibidos, bem organizados, numa seleção cuidada, vasta, que parece resistir a pressões de fluxo rápido que fazem parte da gestão de grandes cadeias, da necessidade de escoar. A Travessa é um exemplo de bem cuidar dos livros e de quem lê. Além disso, traz edições do Brasil, reveladoras de outro cuidado: o editorial, com objetos literários que apetece namorar, mesmo quando não os podemos levar connosco”. A esta, junta, ainda, na sua lista de eleição, a Tigre de Papel, a Snob, a Poesia Incompleta e a Almedina do Rato.
Cinema Ideal
Em Lisboa, não há como o Ideal, afiança Isabel Lucas. “O cinema no meio da cidade é um refúgio com a garantia de não ver maus filmes”, afirma. “Salas como estas foram desaparecendo e as que ficam – poucas – são um benesse, fora de centros comerciais ou de aglomerados ou de pipocas – nada contra, mas prefiro não. Estes lugares ficam na memória, saber onde se viu um filme que marca é um dado que ajuda a retê-lo. Dar o passo para passar a porta do Ideal, ali no Loreto, é um dos gestos que me dão muito prazer enquanto lisboeta adotada.”
Mercado de Alvalade
Isabel Lucas gosta de mercados e conta que, sempre que viaja, vai em busca do mercado local mais próximo. “Os produtos expostos, os aromas, as compras, o ruído dão-me um retrato muito vivo e rápido, uma boa maneira de aproximação. Procuro comprar em mercados e falar com a peixeira do ‘meu’ mercado, o de Alvalade, é uma boa sensação, a de estar em casa.”
Café Fermenta
Também em Alvalade, mais precisamente no bairro de São Miguel, a jornalista frequenta o café Fermenta. “Sobretudo quando dá para estar na esplanada, permite ter o silêncio que vai escasseando em Lisboa. As conversas cortadas de quem passa, o cheiro a croissants frescos, o sol de outono de manhã, um sossego que permite ler enquanto se bebe um bom café, longo, de preferência. E ainda há livros e revistas usados à disposição”, conta. Outra opção, não muito longe, acrescenta, é o Fora do Saco, na Avenida de Roma, “outro bom recanto, sobretudo de porta fechada, com o pão, os cozinhados das manas, a pequena mercearia”.
Caminhar pela cidade
“Nas cidades gosto de caminhar”, revela Isabel, garantindo que, em Lisboa, sempre que pode, é a pé que se desloca. “Os altos e baixos lisboetas levam por vezes a lugares e vistas que surpreendem mesmo quem vive há muito tempo na cidade. Um vislumbre de rio, um beco, a sensação de partilhar alguma intimidade através de um pátio ou de uma janela entreaberta. E isto enquanto se resolvem textos, se pensa, ou simplesmente se anda sem saber muito bem para onde.”