agenda
Os dias de Sara Inês Gigante
A agenda cultural da atriz para a semana do Natal
Antes de abrir o ano com Popular no Teatro Variedades, a criadora e atriz partilhou as suas sugestões culturais para a semana do Natal, e eis que temos um desafio artístico e sensorial na Culturgest, um livro, um tv special de um dos artistas mais vibrantes da atualidade, uma série contagiante made in Portugal e a música de Malva.
Natural de Viana do Castelo, a atriz e criadora Sara Inês Gigante é um dos valores mais seguros da nova geração do teatro português. Formada na ACE- Teatro do Bolhão, no Porto, e na Escola Superior de Teatro e Cinema, soma no currículo colaborações com Jorge Silva Melo e Artistas Unidos, Bruno Bravo, Nuno Nunes, Raquel Castro ou Pedro Frias, com quem se estreou há pouco mais de uma década a representar Tchékhov. Em 2021, a atriz assinou a sua primeira criação, YOLO, e apenas um ano depois Massa-Mãe, onde esfarelava sem rodeios as suas raízes e identidade minhotas. Logo a seguir, Sara venceu a Bolsa Amélia Rey Colaço com um novo projeto: Popular. O espetáculo estreou em 2024 em Guimarães, fez temporada no Teatro Meridional, em Lisboa, e correu o país, sempre com salas cheias. Contudo, como o público pode confirmar a 4 de janeiro, no Teatro Variedades, numa récita única que será gravada para a RTP, Sara Inês Gigante continua muito longe de se sentir uma artista Popular.
Metade dos Minutos
Instalação de Ângela Rocha
Até 5 de janeiro na Culturgest
Sugiro vivamente a instalação Metade dos Minutos da Ângela Rocha. Trata-se de um desafio olharmos para um objeto artístico de uma forma que não estamos acostumados: através do tato, do toque. A Ângela é uma artista incrível e muito completa com quem já tive o prazer de trabalhar, e oferece-nos aqui um mergulho muito especial e sensorial em que não basta ver e ouvir, é preciso tocar, mexer, entrar num espaço e ocupá-lo, investigá-lo também com as mãos. É preciso estar presente, e acho que isso traz em si uma mensagem provocadora, mas pertinente.
Dores Crónicas
de Bruno Nogueira
Dom Quixote, 2024
Sugiro o livro que estou a ler, Dores Crónicas do Bruno Nogueira. Já tinha lido o anterior, Aqui Dentro Faz Muito Barulho, e encontro sempre uma inquietação nas crónicas do Bruno que me agrada. Sinto-lhe uma rara inconformidade e uma constante procura pela reflexão, seja nas coisas mais mundanas ou nas mais difíceis de olhar de frente. Numa primeira instância, a crónica é um estilo de escrita e de leitura que aprecio bastante. E depois, porque efetivamente o Bruno é um artista que me inspira. Nas suas crónicas ora traz uma lufada de ar fresco leve e irónica sobre determinado tema, ora me incita a um pensamento ou a um novo ponto de vista sobre algo. Não ter medo do questionamento contínuo ou de não fechar uma ideia ou uma opinião é um exercício que aprecio, por acreditar que seja esse o caminho evolutivo, e é uma característica que encontro neste livro, e que por isso também me ajuda a pensar ou a repensar, o que é sempre bom, a meu ver.
Inside
de Bo Burnham
disponível na plataforma Netflix
Num contexto mais caseiro, sugiro Inside do Bo Burnham, que está disponível na Netflix, e é talvez a coisa que mais vezes vi repetidamente. Este Especial foi feito durante a pandemia e, para mim, a destreza com que o Bo Burnham alinha a música, o humor, e também a sátira e a crítica a muitas das coisas trágicas do mundo, da atualidade e da humanidade é uma característica que me move, e acho inovadora e muito única a forma como o faz. Armadilha-nos através do humor e do entretenimento, e logo a seguir tira-nos o tapete, e esse vaivém é desarmante. Sempre que estou em processos criativos da minha autoria, vou a muitos materiais do Bo Burnham tentar buscar inspiração.
O Americano
de Ivo M. Ferreira
disponível na RTP Play
Outra sugestão: O Americano, série realizada pelo Ivo M. Ferreira. É inspirada numa das maiores fugas prisionais que tivemos em Portugal, nos anos 80, no Algarve, e foi criada a partir do livro autobiográfico Vida e Mortes de Faustino Cavaco. É protagonizada por um grande amigo meu, o João Estima, que brilhantemente dá vida a Faustino Cavaco na série. Obras inspiradas em factos verídicos, ou que tenham materiais biográficos, atraem-me particularmente, há qualquer coisa na tensão entre a realidade e a ficção que acho avassaladora, e esta série, para além de ter esse carácter, está muito bem conseguida, sobretudo no que toca às interpretações dos atores.
Malva
Álbum vens ou ficas
disponível nas plataformas digitais
Uma sugestão musical, de uma artista e amiga com quem já tive o privilégio de trabalhar, a Carolina Viana com nome artístico Malva. Fez a música do meu espetáculo anterior, Massa Mãe, e é uma artista musical maravilhosa. Tem lançado músicas da sua autoria, e é sem dúvida uma forte recomendação. As músicas de Malva são especiais, não só pela voz incrível que tem, mas porque todas elas têm mesmo a capacidade de nos tocar. São tristes, melancólicas, e ao mesmo tempo belas e inquietantes. Malva está disponível nas plataformas habituais (Spotify, YouTube, etc) e tem feito vários concertos, é uma questão de estarem atentos que o concerto vale muito a pena.