artes e ofícios
A arte das agulhas
Ofícios manuais recuperam tradições antigas
Nos últimos anos, o interesse por ofícios manuais que utilizam agulhas, como o tricô, o croché e os diferentes tipos de bordados, tem crescido de forma significativa. Esses saberes, que carregam tradições antigas e vínculos culturais, ganharam um novo fôlego com a procura de atividades que promovem o relaxamento, a criatividade e a sustentabilidade.
Para responder a essa tendência, diversos espaços têm-se dedicado a promover cursos e oficinas, tanto para iniciantes, como para pessoas experientes nessas práticas artesanais. Mas o que esses espaços oferecem vai muito além da aprendizagem técnica; eles criam verdadeiras redes de conexão e troca de experiências entre os participantes.
Retrosaria Rosa Pomar
Rua Maria Andrade, 50A / 213 473 090
Na Retrosaria Rosa Pomar somos recebidos por muita cor, graças aos novelos, meadas e tecidos que forram as várias mesas e estantes do amplo espaço. Aquela que é considerada uma referência na cidade para os amantes de tricô tem como principal missão valorizar as lãs de ovelhas portuguesas. “O nosso foco principal e diferenciador em relação às outras lojas é o facto de nós fazermos os nossos próprios fios, exclusivamente com lã de ovelhas de raças autóctones portuguesas. Já temos mais de uma decada de trabalho em prol da defesa dessas raças e do aproveitamento dessa matéria-prima. Além de fazermos um trabalho de valorização das lãs autóctones, criamos uma série de fios para tricô, diferentes uns dos outros, com a lã das várias raças, que também exportamos para o estrangeiro”, conta-nos Rosa.
Para lá do comércio de fios, a retrosaria aposta também na formação, algo que está presente desde o ínico da loja e que surgiu devido a “uma lacuna no mercado”. Os workshops de tricô são dados pela própria, mas há mais labores na área têxtil para aprender ou aperfeiçoar, sempre através das técnicas tradicionais, como é o caso do croché, diferentes tipos de bordados, tapeçaria, costura, entre muitos outros. “Ensinar as pessoas a trabalhar com as mãos é uma coisa muito bonita de se fazer. As pessoas saem daqui com um grande sorriso e, muitas vezes, orgulhosas de uma nova conquista. O facto de ser capaz de criar uma coisa com as próprias mãos é um poder que se tem perdido muito ao longo do tempo, mas que é fantástico e que traz muita alegria e bem-estar”.
Auri Retrosaria
Rua Oliveira Martins, 10E / 961 201 042
A Auri é uma retrosaria tradicional, daquelas à antiga, onde há novelos de lã, carrinhos de linha, kits de costura e todos os acessórios imagináveis para os ofícios com agulhas um pouco por todo o lado. Fundada em 1961, assume-se como mais do que uma loja, é um espaço de convívio. Prova disso são os encontros semanais de tricô que promove e que, inclusive, se estendem para fora de portas: “Temos uma situação muito engraçada, que é o Museu do Tricô. Todos os meses, um grupo de senhoras visita um museu e tricota nesse museu. E também fazemos retiros de fim de semana. É muito giro, é uma coisa fabulosa”, diz Adelina, a atual proprietária do espaço.
Além de aulas de tricô, a loja oferece também aulas de croché, bordado em lã, patchwork e costura criativa e, no âmbito do Projeto RADAR da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que tem como objetivo a promoção de bairros mais solidários, comunicativos e atentos à população com mais de 65 anos em situação de risco de isolamento e de solidão não desejada, atua de forma integrada para contribuir para o bem-estar e melhor qualidade de vida destas pessoas através do ensino do tricô. Essa técnica de entrelaçar o fio é, aliás, a maior aposta da Auri, como esclarece Adelina: “O nosso forte é o tricô. Todos os anos vamos ao Jardim Fernando Pessa celebrar o Dia Mundial de Tricotar em Público e também temos o Jornal do Tricô, que tem uma peridiocidade mensal”.
Associação dos Artesãos da Região de Lisboa
Rua de Entrecampos, 66 e 66A / 217 962 497
Desde 1982 que as Oficinas de Artes e Ofícios da Associação dos Artesãos da Região de Lisboa (AARL) ensinam diversos saberes, disponibilizando cursos nas mais distintas áreas, como a cerâmica criativa e figurativa, conservação e restauro de loiças, encadernação, olaria, pintura em azulejo, restauro de mobiliário, entre outros. Aliás, quem entra no n.º 66 da Rua de Entrecampos não imagina o que o espaço esconde assim que se desce à cave. Várias oficinas apetrechadas com todo o material necessário para desenvolver os mais diversos ofícios, todas com trabalho a acontecer, o que torna aquele lugar num sítio de convívio e partilha. Na área têxtil, a associação oferece cursos em tecelagem, bordados e Arraiolos, onde se aprendem técnicas tradicionais portuguesas.
A AARL dá apoio aos sócios na divulgação e venda dos seus produtos, mas, de acordo com Carina Trigueiros, “a base da associação sempre foi a formação”. “É um dos nossos pilares. A formação sempre foi muito importante nos objetivos da nossa fundadora; o chegar às pessoas, a toda a gente. As nossas aulas não têm limite nem de idade, nem de género, nem se é sócio ou não, toda a gente pode participar”, diz. “As pessoas vêm aqui por vários motivos: algumas vêm só aprender uma coisinha, umas vêm para se distrair, outras vêm para aprender técnicas, para desenvolverem trabalhos seus. Há, inclusive, pessoas que, ao fim de um tempo de cá estarem, abrem o seu negócio, tornam-se mesmo artesãos”.
FICA – Oficina Criativa
Rua de Arroios, 154B / 913 190 670
O espaço é muito amplo e luminoso. Ali, tudo está preparado para se deitar mãos à obra. Os 300m2 abrem-se a curiosos e profissionais que queiram aprender um ofício – através dos workshops, oficinas ou masterclasses -, ou realizar os seus próprios projetos, seja de forma independente ou com ajuda personalizada – através do Ginásio de Ofícios, uma modalidade onde todos podem usufruir da oficina totalmente equipada com máquinas e ferramentas para os executar. Aquele que se assume como um espaço criativo, e para o qual a democratização do saber e do acesso a oficinas técnicas é prioridade, oferece formação em áreas tão diversas como a serigrafia, a marcenaria, a cerâmica e o têxtil.
No que respeita a este último ofício manual, a FICA dá workshops de tufting, punch needle, tecelagem, bordado sobre tecido, iniciação ao bordado, tapeçaria, croché, esmirna, entre outros. O objetivo, segundo Rita Daniel, “é transmitir ao máximo aquilo que são as técnicas manuais e os ofícios manuais, tentando ter uma oferta um bocadinho pragmática. Apesar dos nossos workshops estarem focados para a transmissão da técnica num sentido muito direto e prático, não queremos facilitar aquilo que é o ofício e aquilo que implica o saber fazer; a ideia é a pessoa ter um conhecimento que lhe permita, depois, valorizar as peças que são feitas à mão e valorizar o artesão em si”.
Artlier
Rua Gervásio Lobato, 47B / 933 932 532
Escola de artes e ofícios, o Artlier junta o conhecimento e o lazer, apresentando-se como um espaço de partilha de saberes, de aprender pelo fazer e aprender o saber fazer. É um lugar de contar histórias e estórias de pessoas e costumes, um lugar de resgatar tempo e tradições, e fá-lo através de cursos, workshops e oficinas em áreas tão distintas como o têxtil, a madeira, a cerâmica, a pintura e o desenho. Em relação ao têxtil, Joana Teixeira interpela-nos: “o têxtil é um mundo, não é? É uma portinha que se abre e é gigantesca”.
Nesta área, o Artlier oferece formação, entre outros, no clássico tricô, croché, tapeçaria, bordado de Arraiolos, bordado livre em papel, remendo de malha e remendo de tecido, sendo estes dois últimos os workshops mais recentes, e Joana explica porquê: “A escola começou em 2002 com restauro de móveis e restauro de madeiras. E, ao longo deste tempo, foram-se acrescentando mais, mas sempre numa vertente de recuperação, de restauro, de reparação. Além disso, o processo de remendo alia a importância ambiental de um guarda-roupa mais circular e os benefícios mentais e criativos da costura manual”. O objetivo deste workshop é aprender formas de recuperar e intervir em peças de roupa danificadas, prolongando o seu uso e conferindo-lhes mais valor.