agenda
Os dias de Joana Gama
A agenda cultural da pianista para esta semana
Quase a lançar Strata, disco criado com Luís Fernandes, a pianista Joana Gama fala-nos de filmes a não perder nas salas de cinema e deixa outras sugestões, como uma instalação, uma exposição, um concerto e uma peça de teatro.
É no último dia deste mês que Joana Gama lança na Culturgest o álbum Strata, o sexto da dupla de piano e eletrónica que tem com Luís Fernandes. Este concerto, marcado para as 21 horas, celebra também uma década de criação musical conjunta. Um regresso simbólico ao momento inicial da colaboração que têm mantido, voltando a trabalhar com o cineasta Eduardo Brito, autor da capa de Quest, o primeiro álbum, e das primeiras fotografias do duo, e Frederico Rompante, criador dos desenhos de luz de todos os seus concertos. Em palco, criam um “espaço de diálogo entre luz e imagens”, para nos darem a ouvir esta música “para piano, eletrónica e múltiplas camadas de sons recolhidos em diversos pontos do globo”.
Notas para imaginar estranhos mundos
15 janeiro a 28 fevereiro
Centro Cultural de Belém
Para Joana Gama, não há muito a acrescentar ao texto de apresentação desta instalação – que se ramificará, em fevereiro, em três micro conferências dedicadas à Inteligência Artificial, ao Ativismo Climático e à Beleza – onde se lê: “Uma clareira circular rodeada por terra, terra é chão, mas também é Terra, globo, esfera, círculo, planeta. Entramos guiados apenas pela própria intuição. Aqui, podemos respirar juntos, entrar, sair, visitar. Ser impacto, um movimento constante de uma pegada consciente e inconsciente. Uma instalação que pretende escavar na intimidade um lugar de afetos, propor uma ecologia, um estaleiro de sentidos. Dentro da instalação encontra-se uma biblioteca comunitária, um lugar temporário para ler, estar, trocar olhares ou conversar com estranhos. Uma biblioteca-floresta.” Diz a pianista: “Esta proposta aborda muitos temas que me são caros, no trabalho em particular e na vida em geral.”
Jurassic Park pela Orquestra Gulbenkian
15 a 17 janeiro
Fundação Calouste Gulbenkian
O filme Jurassic Park, de Steven Spielberg, estreou-se em 1993, tinha Joana Gama 10 anos. “Tenho a memória da espera numa longa fila na bilheteira do cinema e de ter sentido que o filme era extremamente empolgante e, também, assustador na dose certa”, recorda a pianista. “Neste filme-concerto podemos ouvir a incrível banda sonora de John Williams interpretada pela Orquestra Gulbenkian. Isto talvez se qualifique como guilty-pleasure, mas quem não os tem?”
Atenção: a sua receita será transmitida!
17 a 26 janeiro
Lu.Ca – Teatro Luís de Camões
“Vale tudo para chamar a atenção a um assunto ao qual dou muita importância: a comida”, afirma Joana Gama, destacando a peça de teatro de Joana Barrios e Rogério Nuno Costa que se estreia no Lu.Ca, indicada para maiores de 7 anos. “A sinopse deste espetáculo abre suficientemente o espectro para se perceber, caso dúvidas houvesse, que, a partir da comida, podemos falar de tudo e mais alguma coisa. Sendo essencial à nossa sobrevivência – e, infelizmente, para alguns, se pudessem saltar as refeições e tomar uns comprimidos, assim fariam – acredito que a comida é uma fonte inesgotável de alegria, aprendizagem e magia e acredito também que é importante introduzir estes assuntos desde cedo, para que as crianças tenham prazer em comer, saibam o que estão a comer e tenham vontade de deitar mãos à obra.”
O Calígrafo Ocidental. Fernando Lemos e o Japão
Até 20 janeiro
Fundação Calouste Gulbenkian
É a última semana para ver a exposição que o Centro de Arte Moderna da Gulbenkian dedica à relação de Fernando Lemos com o Japão, artista multidisciplinar que viveu entre 1926 e 2019 e que deixou vasta obra, entre Portugal e o Brasil, como fotógrafo surrealista e pintor modernista. “Tenho uma grande admiração pelo Fernando Lemos. Em 2019 vi uma exposição retrospetiva na Cordoaria Nacional que me impressionou muito, pelo volume e riqueza do seu trabalho, e também pela quantidade de meios diferentes que usou para se exprimir. Apaixonada confessa pelo Japão, foi com alegria que visitei esta exposição no renovado CAM, em que obras do artista, produzidas durante uma prolongada estadia naquele país, com uma bolsa da FCG, convivem com obras de autores japoneses. Numa entrevista que Fernando Lemos concedeu uns meses antes de morrer, e que está reproduzida na exposição, disse: ‘Não é só ir ao Japão e gostar do Japão. Você tem que aprendê-lo em tudo o que ele é. Seja bom ou mau. O Japão é um manifesto.’”
Ainda Estou Aqui, de Walter Salles
Estreia a 16 janeiro nos cinemas
Joana Gama confessa que ainda pouco sabe sobre este filme, mas isso nunca a impede de fazer as suas escolhas. “Quando é possível, gosto de ir em branco para a sala de cinema”, revela. “Já estava curiosa, pela sua boa receção quando foi apresentado em Veneza, e agora que a Fernanda Torres ganhou o Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz em filme dramático, fiquei ainda mais entusiasmada.”
Uma História Simples, de David Lynch
16 janeiro
Cinema Nimas
Programa para a hora de almoço: o filme de David Lynch passa, em cópia digital restaurada, no Cinema Nimas, no dia 16 de janeiro, às 13 horas. “1999 foi um ano em que vi três filmes – dos que me lembro – que tiveram um grande impacto em mim: Magnolia, de Paul Thomas Anderson, Eyes Wide Shut, de Stanley Kubrick, e este A Straight Story, de David Lynch. Revi os outros dois entretanto, mas não voltei a ver este: é um filme que destoa grandemente na filmografia de Lynch – e se ele o fez, é porque tinha de o fazer – e que foca aspetos menos evidentes na sua obra: a lentidão, a placidez, a bonomia.”
O Quarto ao Lado, de Pedro Almodóvar
Em exibição nos cinemas
A terceira sugestão cinematográfica de Joana Gama é o mais recente trabalho de Pedro Almodovar, que ainda se mantém em cartaz nalguns cinemas de Lisboa. “Consegui ir para o filme sabendo apenas da sua temática em linhas gerais, por isso fui surpreendida pela história, que não quero revelar aqui. Interpretado de uma forma cúmplice por Tilda Swinton e Julianne Moore, creio que todos o deviam ver pois toca em muitos temas importantes e sobre os quais vale a pena refletir. Sendo um filme sobre a morte, é muito mais do que isso. A mim deixou-me com muitas perguntas, tais como: Temos consciência do efeito do nosso dia-a-dia no futuro? Queremos estar vivos a qualquer preço? Temos relações suficientemente fortes, com quem partilhar a alegria e a tristeza? Mas acredito que haverá muitas outras leituras possíveis do filme. Como escreveu André Tecedeiro, ‘cada um lê no poema / o poema que traz em si.’”