agenda
Os dias de António Jorge Gonçalves
A agenda cultural do ilustrador para esta semana

Ganhou recentemente um prémio em Bolonha pela sua novela gráfica DITA DOR e acabou de publicar um livro com texto de Ondjaki, O Tempo do Cão, e de lançar uma nova coleção na sua chancela de autoedição. O ilustrador António Jorge Gonçalves não pára...
“Ganhar um Ragazzi Award de Bolonha é como ganhar a lotaria: são milhares de livros a concorrer de todo o mundo, muitos tão bons ou melhores que o teu, numa espécie dos óscares da literatura infantojuvenil”, diz António Jorge Gonçalves sobre o prémio que recebeu recentemente na categoria de Banda Desenhada Infantil, pelo seu DITA DOR, uma novela gráfica integrada na coleção Missão: Democracia, editada pela Assembleia da República.
A distinção chegou numa altura em que não faltam outras boas notícias. O ilustrador acabou de ver editado pela Caminho o seu mais recente livro, criado a quatro mãos com o escritor Ondjaki, O Tempo do Cão, título de capa vermelha e páginas azuis desenhadas a branco que conta a história de um cão que, à noite, “adormece com saudades de um guerrilheiro”.
Foi também por estes dias que António Jorge Gonçalves lançou a coleção de “narrativas autobiográficas de autoras que usam a imagem como forma primordial de escrita”. Publicada pela Noturno Azul – a sua chancela de autoedição –, estas edições têm uma tiragem limitada de 200 exemplares numerados e assinados. vai, mas volta, de Liliana Lourenço, e amanhã, de Ana Biscaia, são os primeiros títulos e já podem ser encomendados no site do ilustrador. “Existe uma escrita visível nos desenhos destas pessoas, a narrativa ali é palpável, elas escrevem através do desenho”, descreve. São dias ocupados, estes, mas muito felizes, reconhece – e, ainda assim, consegue “encaixar” outros programas culturais na agenda.
A Família Addams – o musical
Até maio
Teatro Maria Matos
Ricardo Neves-Neves faz uma encenação musical a partir da história da família mais gótica da ficção. Wednesday, a mãe Morticia, o pai Gomez e outros membros do clã reúnem-se em palco e prometem gargalhadas. “Estou com muita vontade de ver, porque tem atrizes e atores de que gosto muito. A Ana Brandão é fantástica em tudo o que faz, por exemplo”, começa por elogiar António Jorge Gonçalves, destacando também o trabalho de Neves-Neves, “contemporâneo, arejado e com muito sentido de humor”. “Diria que tem muito para poder dar certo”, continua o ilustrador, que assume ter “um coração tim burtiano” – “para mim, tudo o que é comédia negra é particularmente satisfatório… mesmo não querendo isso dizer que também não goste de uma boa comédia romântica”.
LANDA + Oko Ebombo
11 março, 20h30
B.Leza
O ciclo de música Inquietação decorre no B.Leza até final de maio, apresentando “músicos que desafiam fronteiras sonoras e culturais” e “cuja música é cheia de beleza, coragem e mensagens relevantes – permitindo um espaço de reflexão, solidariedade e expressão”. António Jorge destaca os concertos desta terça-feira: “Conheço o Oko Ebombo, de quem gosto muito, mas não conheço LANDA e estou curioso. Agrada-me a mistura do afro e da eletrónica”, diz. Além disso, sublinha, “vai ser bom de certeza, porque é no B.Leza e gosto sempre de lá ir.”
A Semente do Figo Sagrado
12 março, 16h
Cinema Nimas
Está nas prioridades de António Jorge ver este filme do iraniano Mohammad Rasoulof, que já não se encontra em muitas salas de cinema. “Gosto de ir ao Nimas, que é quase uma segunda cinemateca para cinema mais contemporâneo. O filme foi-me aconselhado por um amigo cinéfilo e toda a gente me tem dito que tenho de o ver.” Para o ilustrador, a curiosidade sobre A Semente do Figo Sagrado começa logo por este ser um filme feito à revelia do governo do Irão. “Ser artista em certas sociedades é uma profissão de alto risco”, lembra.
Francisco Vidal, Escola Utópica de Lisboa
15 março a 8 junho
Pavilhão Branco
É inaugurada esta semana a nova exposição de Francisco Vidal no Pavilhão Branco. “Sou fã incondicional do trabalho dele. O Francisco Vidal é um portento”, afirma António Jorge Gonçalves. “Em tempos, pensou ser ilustrador, mas acho que ganhámos um artista visual fantástico. As obras dele têm um poder incrível.” Sobre Francisco Vidal, diz ainda admirá-lo por ser “uma torneira que não para de jorrar trabalho” e confessa que se revê nessa forma de criar. “Há uma alegria enorme nas suas peças, acredito que o Francisco adora fazer o que faz. É mesmo muito forte.”
Tristany Mundu, Cidade à volta da cidade
Até 5 maio
CAM – Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian
Na sua primeira exposição individual, Tristany Mundu apresenta uma vídeo instalação inédita, encomendada pelo CAM. Uma tripla projeção e um conjunto de “bandeiras”, em que o artista “funde o real com o surreal”. “Desde que fiz, no LU.CA, o ciclo dedicado ao grafitti, Porque desenhamos nas paredes?, fiquei mais próximo da linguagem do hip hop e da cultura das periferias, que é muito pulsante. Parece-me muito bem que uma instituição como a Gulbenkian abra espaço e dê visibilidade a uma representatividade forte da cultura afrodescendente”, defende o ilustrador.
Baan e Lobo e Cão
em streaming na Filmin Portugal
“Vejo muito cinema em casa”, começa por dizer António Jorge Gonçalves. Do catálogo da Filmin, destaca dois filmes que pretende ver esta semana: Baan, de Leonor Teles, e Lobo e Cão, de Cláudia Varejão. Sobre o primeiro, que lhe foi recomendado, diz estar curioso, por conhecer mal a obra da realizadora e por acreditar que vale a pena descobrir o trabalho desta nova geração. “Já os filmes da Cláudia, conheço bem e, para mim, as obras dela têm sempre um pó mágico qualquer.”
Olhos d’água, de Conceição Evaristo
Edição da Orfeu Negro
É o livro que está a ler neste momento e recomenda-o sem hesitar: “Muito bom, mesmo”. Em Olhos d’água, da brasileira Conceição Evaristo, o ilustrador tem encontrado “uma escrita depurada”, que o tem encantado. “Gosto do formato de contos, que é, muitas vezes, desprezado e que cria um efeito de mosaico que me agrada muito”, nota. António Jorge, que já tinha lido outras obras da mesma autora, em edições do Brasil, considera que Evaristo “cresceu como escritora” e conseguiu criar “uma ourivesaria de escrita muito apurada”.