património
Para a cidade, para o mundo
Pavilhão de Portugal reabre ao público a 1 de maio

Depois de mais de duas décadas de quase abandono, o mais relevante edifício projetado por Álvaro Siza Vieira em Lisboa é devolvido à cidade. O Pavilhão de Portugal, concebido para a Expo’98, abre ao público completamente requalificado, dispondo agora de um centro de congressos, com um auditório polivalente, e um centro de exposições, que acolhe, até julho, uma exposição que reúne arte, literatura e património sob a égide da vida e obra de Camões. A partir de 22 de maio, no torreão do edifício é inaugurada a Biblioteca Mega Ferreira, um espaço de estudo aberto 24 horas por dia e o Centro Interpretativo do Parque das Nações.
Entre a Alameda dos Oceanos e a Doca dos Olivais, naquele que foi outrora o coração da Expo’98, o Pavilhão de Portugal, com a sua imponente pala de betão, renasce e “abre portas à cidade e ao mundo”, como faz questão de enfatizar o Professor Luís Ferreira. É com entusiasmo e orgulho que o reitor da Universidade de Lisboa (ULisboa), entidade que desde agosto de 2015 passou a integrar o emblemático imóvel no seu património, vê concluídas as obras de requalificação que, após múltiplas vicissitudes, resgatam de um incompreensível abandono uma das mais notáveis peças da arquitetura contemporânea portuguesa.
Projetado por Álvaro Siza Vieira, Prémio Pritzker de Arquitetura em 1992, o edifício foi concebido para albergar a representação do país anfitrião na Exposição Internacional de Lisboa. Embora tenha sido distinguido em 1998 com o Prémio Valmor e classificado como Monumento de Interesse Público, ao longo de quase 27 anos o Pavilhão de Portugal debateu-se com um errático destino, entre a indefinição funcional e os entraves burocráticos, chegando mesmo a ser apontado como um mero mono plantado “num dos sítios mais bonitos de Lisboa”. Conta o reitor da ULisboa que, desanimado pela degradação e pela dúvida quanto ao uso do edifício, o próprio Álvaro Siza chegou mesmo a sugerir a sua demolição. Felizmente, lembra o atual reitor, o seu antecessor, “o Professor António Cruz Serra defendeu desde sempre que este edifício não poderia estar aqui a apodrecer. E algo tinha mesmo de ser feito.”
O país, a cultura e a língua portuguesa
Meticulosamente acompanhada pelo ateliê de Álvaro Siza, a reabilitação dos seis mil metros quadrados do edifício revelam em toda a sua magnificência “a obra de um grande arquiteto a pensar tudo ao pormenor”. Luís Ferreira destaca o magnífico soalho em madeira Riga Nova proveniente do Tartaristão, “que devido à guerra na Ucrânia foi complicado fazer chegar a Portugal”, os candeeiros e os tetos desenhados pelo próprio Siza ou “as sete camadas das paredes que garantem em todos os espaços uma acústica perfeita”. Tudo isto, em conjunto com o respeito pela integridade do projeto original, tornam o Pavilhão de Portugal um espaço moderno, amplo e luminoso, que tem como ponto vital o Centro de Congressos, com um auditório polivalente, duas salas multiusos e outras quatro paralelas.
“Pretendemos que este extraordinário edifício seja uma montra de Lisboa e de Portugal”, com uma programação que privilegie não só a ciência, como a cultura e a língua portuguesa. Ao mesmo tempo, e pelas suas novas valências, o Pavilhão de Portugal passa também a ser um polo de afirmação internacional da ULisboa enquanto instituição de ensino de excelência, “distinguida entre as 200 melhores universidades do mundo”, como lembra o reitor da instituição.
Vencidas assim incontáveis tormentas, a ULisboa consegue, finalmente, reabrir ao público o Pavilhão de Portugal a 1 de maio, um dia após a inauguração oficial, que inclui o primeiro Concerto à Pala. Agendado para 30 de abril, a partir das 21 horas, o palco pertence à jovem cantautora Milhanas, e abre uma programação regular de concertos de entrada livre sob a pala de betão que cobre a Praça Cerimonial do edifício.
Camões, pois claro…
E de que melhor modo se poderia assinalar a reabertura do Pavilhão de Portugal, e dar mote à sua nova vida, senão com “uma evocação contemporânea” de Camões? A inaugurar o Centro de Exposições, Meu matalote e amigo Luís de Camões, ou onde a lírica camoniana e os grandes eixos narrativos de Os Lusíadas se encontram com a pintura, a escultura e a fotografia contemporânea, naquilo que Luís Ferreira considera “um apelo aos sentidos”. Acrescenta o reitor que, “ao contrário de outras exposições no âmbito dos 500 anos do nascimento de Camões, esta não se destina apenas aos entendidos, mas, pelo seu diálogo inovador, a todos os públicos, nomeadamente àqueles jovens que pensam não gostar de Os Lusíadas.”
Ainda sob a égide do poeta, a 9 de maio pelas 21 horas, o magnífico auditório do Pavilhão de Portugal, com 620 lugares distribuídos por duas plateias e balcões em espelho, recebe o concerto Camões na eternidade do tempo. Inserido na Temporada Darcos, o concerto conta com a participação da soprano Ana Quintans e do ator Victor d’Andrade. A interpretação musical é do Ensemble Darcos, dirigido pelo maestro Nuno Côrte-Real.
Na data em que se assinalam 27 anos da abertura da Expo’98, a 22 de maio, é inaugurada a Biblioteca Mega Ferreira. Instalada no torreão do Pavilhão de Portugal, este novo equipamento, integrado na Rede Municipal de Bibliotecas, reúne o espólio do escritor e antigo comissário da exposição de Lisboa.
Nesse mesmo dia, é também inaugurado o Centro Interpretativo do Parque das Nações e entra em funcionamento o novo espaço de estudos da ULisboa. À semelhança do Caleidoscópio e do Arco do Cego, este é mais um espaço “destinado a todos os estudantes da cidade”, aberto 24 horas por dia e com capacidade para cerca de 70 utentes.
Nos próximos meses, entre outras atividades e eventos, o Pavilhão de Portugal irá receber um congresso internacional de arquitetura e a exposição evocativa do centenário de Mário Soares. Se ficou curioso em visitar os espaços públicos e os bastidores do edifício na perspetiva da história e da arquitetura, anote que, a 10 e 11 de maio, o Pavilhão de Portugal integrará a Open House Lisboa.