Os dias de Rute Ribeiro e Luís Vieira

Um 'especial' FIMFA pelos seus diretores artísticos

Os dias de Rute Ribeiro e Luís Vieira

O FIMFA Lx faz 25 anos e apresenta, numa dezena de espaços da cidade entre 8 de maio e 1 de junho, 23 espetáculos nacionais e internacionais. Com as bilheteiras ao rubro, desafiámos os diretores artísticos Luís Vieira e Rute Ribeiro a fazer o papel de espectadores e a partilhar quais os espetáculos que não pode mesmo perder antes que esgotem.

O alerta está dado: há muitos espetáculos do FIMFA prestes a esgotar e, como espectador precavido vale por mil, decidimos antecipar Os dias dos nossos convidados Rute Ribeiro e Luís Vieira, desafiando-os a fazer escolhas difíceis. Ou seja, aos diretores artísticos do Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas pedimos que elegessem seis espetáculos  imperdíveis, naquela que será uma edição histórica pelos 25 anos de vida do maior festival dedicado à marioneta contemporânea que se realiza na capital.

À margem, como dica, lembramos que a companhia dirigida por Rute e Luís, A Tarumba, apresenta no festival a mais recente criação Dramas Curtos em Miniatura. Entre Edward Gordon Craig e Mário Henrique-Leiria, preparemo-nos para uma aventura em “ambiente tropical e surrealista”, onde não faltarão chupa-chupas e flamingos, nem sequer feras ferozes em pelúcia.

©Tomas Lauvland Pettersen

Uma Casa de Bonecas
Plexus Polaire (França-Noruega)

São Luiz Teatro Municipal, 8 a 11 de maio

Depois de, em 2021, terem maravilhado o público do FIMFA com Moby Dick, os Plexus Polaire de Yngvild Aspeli abrem a 25.ª edição do festival com uma revisitação original e perturbadora da obra-prima do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, Casa de Bonecas. “Trata-se de um olhar muito pessoal da Yngvild” sobre a obra do seu conterrâneo, explica Rute, sublinhando que são apenas dois atores-manipuladores em palco (incluindo a própria Yngvild) “a fazer mexer os dispositivos que ela inventou para animar todas as marionetas, incluindo uma aranha gigante”. Para Luís, Uma Casa de Bonecas é “um espetáculo muito especial, onde as inquietações de Nora [a protagonista] vão surgir aos nossos olhos através de marionetas extraordinárias que proporcionam visões absolutamente incríveis”. Um espetáculo que confirma aquilo que já se sabe de Yngvild Aspeli: “ela é uma das grandes mestras desta arte”. Não esquecer: a criadora norueguesa realiza uma masterclass a 10 de maio, destinada a profissionais e curiosos de todas as áreas, onde poderemos ficar a saber mais sobre os seus métodos de trabalho e pesquisa artística (inscrições já abertas).

©Oligor Y Microscopía

Agencia El Solar. Detectives de Objetos
Shaday Larios, Jomi Oligor & Xavier Bobés (México-Espanha)

Teatro do Bairro, 16 a 18 de maio

Jomi Oligor é “um velho amigo do FIMFA”, festival onde amiúde vem marcando presença desde 2005. Ao lado da mexicana Shaday Larios e de Xavier Bobés, Oligor volta a vestir a pele de detetive de objetos e apresenta, em estreia absoluta em Lisboa, “uma instalação e conferência performativa de teatro de objetos documental comunitário”. “É um projeto incrível porque, como qualquer detetive, eles resolvem casos”, explica Rute. Em Agencia El Solar. Detectives de Objetos, o trio apresenta oito casos resolvidos em Espanha “sobre memória, território e comunidade”. Como exemplo, “o de uma carpintaria em Girona, prestes a ser encerrada, que pertenceu a quatro gerações de uma mesma família. Naquele sítio, nada tinha sido deitado fora, desde papéis a objetos. E ainda conseguiram descobrir que, há mais de cem anos, aquela carpintaria havia sido um teatro”.

©Lorenza Daverio

A Sagração da Primavera
Dewey Dell (Itália)

Teatro Variedades, 22 a 24 de maio

Rute e Luís são perentórios: “pela plasticidade, pela imaginação, pela criatividade, este é um dos espetáculos mais fantásticos que vimos nos últimos anos”. Inspirando-se na história da arte e no comportamento animal, a companhia Dewey Dell, de Teodora, Agata e Demetrio Castellucci, filhos do dramaturgo e encenador italiano Romeo Castellucci, oferece um festim visual e sonoro único, passado no reino dos insetos. “Há muito que procurávamos trazer esta companhia ao FIMFA e, por fim, conseguimos”, congratula-se Rute. “O palco do Variedades vai ser transformado numa gruta onde se revela um olhar completamente novo sobre a música de Stravinsky. Diria ser toda a graça da primavera no mundo dos insetos”, sublinha Luís. Como curiosidade, Rute revela uma surpresa: “ao longo do espetáculo, todos vamos ficar a pensar que os bailarinos têm mais de dois metros de altura… Mas é apenas uma ilusão, como verão no final”.

Antichambre
Stereoptick (França)

São Luiz Teatro Municipal, 24 e 25 de maio

Podemos resumir Antichambre como “uma espécie de recriação do universo da criação artística”. Neste espetáculo “tudo é produzido ao vivo, desde os desenhos à animação de objetos. No fundo, em palco é reproduzido o ambiente de trabalho dos artistas”, conta Luís. “À nossa frente, vão testando novas técnicas que, no final, tudo combinado, resultam num poético pequeno filme de animação”. Antes do desfecho, “verdadeiramente fantástico”, assegura Luís, “vamos descobrir os muitos segredos de que se faz um espetáculo, as muitas coisas a que raramente temos acesso”. Imperdível para quem sempre desejou estar, ao mesmo tempo, “na oficina e no palco e descobrir como tudo se faz”.

Nano Steps
Trial & Theatre (Finlândia)

Teatro do Bairro, 27 e 28 de maio

Sejam bem-vindos ao teatro mais pequeno do mundo! Nano Steps – Into the Lab, dos finlandeses Trial&Theatre, combina com criatividade e engenho teatro de objetos e ciência de um modo nunca visto. Neste espetáculo absolutamente singular, são as micropartículas as marionetas capazes de maravilhar plateias. Como refere Luís, “em Nano Steps vamos perceber que os manipuladores de marionetas têm mais em comum com os físicos do que podemos imaginar”.

©Sarah Vanheuverzwijn

Us
Company Midnight (Bélgica)

Teatro do Bairro, 30 de maio a 1 de junho

“Digamos que este é, literalmente, um espetáculo no fio da navalha”, ironiza Luís perante a proposta que a Company Midnight apresenta nos últimos dias do FIMFA. O malabarista Joris Verbeeren e o acrobata Simone Scaini habitam “uma oficina onde existem todo o tipo de objetos do quotidiano, aos quais dão usos inesperados. Sobre eles está uma estrutura com, precisamente, cem facas”. Asseguram os diretores do festival que Us se revela “um daqueles espetáculos que nos faz rir à gargalhada e é do mais bem feito, do mais impressionante e surpreendente que temos visto. E é mesmo super divertido”.