Everywoman
Milo Rau e Ursina Lardi
A Schaubühne está de volta a Lisboa, num espetáculo integrado na 40.ª edição do Festival de Almada, com a mais recente criação do conceituado autor e encenador suíço Milo Rau.
Estreada em 2021 no Festival de Salzburgo, Everywoman surgiu como a resposta de Rau ao desafio anual que o festival lança a um encenador consagrado de encenar a peça “faustiana” de Hugo von Hoffmannsthal Jadermann (em português, “todos os homens”). Fiel ao seu percurso, o suíço decidiu subverter o convite e, embora inspirado pela alegoria do homem que é visitado pela morte na peça de Hoffmannsthal, decidiu cumprir o desejo de voltar a trabalhar com a atriz residente da Schaubühne, Ursina Lardi, mas alterar a visão sobre o texto.
Everywoman parte assim de uma carta que a atriz recebeu, em 2020, numa altura em que os teatros fecharam devido ao confinamento. A remetente, de seu nome Helga Bedau, era uma admiradora a padecer de uma doença terminal, triste por presumir que, muito provavelmente, nunca mais poderia ir ao teatro. Além disso, a mulher revelava ter, há muitos anos, sido figurante numa produção de Romeu e Julieta, sendo seu malogrado desejo voltar a pisar um palco.
No espetáculo, que Bedau já não viu estrear, a atriz Ursina Lardi contracena com a própria Helga Bedau, a mulher que em vídeo incorpora a alegoria de “todas as mulheres”. Mas, desengane-se quem pense que Rau e Lardi recorrem ao sentimentalismo ou à comoção fácil que o estado da mulher poderia suscitar como motor do espetáculo. Em Everywoman há um piano em cena e há Bach, logo, é música a pulsar vida e a levar-nos para além da inevitabilidade da morte. [texto:Frederico Bernardino/ACL]
Espetáculo inserido no Festival de Almada
Ficha técnica:
Schaubühne Berlin. Milo Rau e Ursina Lardi, texto; Milo Rau, encenação; Ursina Lardi e Helga Bedau (em video), interpretação.
14 € e 17,50 €
Local: