sugestão
Os livros de março
O mês de março traz muitas e boas razões para ler. Aqui deixamos uma mão cheia de sugestões. Da pequena narrativa (Joel Neto) ao romance de grande folego (Thomas Mann), da poesia (Antero de Quental) à ficção cientifica (Ursula K. Le Guin ), do famoso ensaio de Paul Virilio sobre guerra e cinema ao estudo crítico de José Manuel Pedreirinho sobre o Prémio Valmor. Terminamos com o audiolivro Histórias Magnéticas destinado aos mais pequenos, que são, afinal, os primeiros leitores.
Joel Neto
Só Tinha Saudades de Contar uma História
O livro é tão curto que o podemos ler na íntegra numa viagem de comboio Cascais-Lisboa ou num trajeto de autocarro que atravesse a cidade. A resposta à curiosidade de saber que motivo leva um autor de fôlego comprovado a decidir lançar um objeto tão pouco usual de vermos editado, está no título da obra. Joel Neto só tinha saudades de contar uma história. Uma saudade momentânea deu este pequeno livro que contém mais que as suas 60 páginas em corpo de letra grande. A narrativa contada pelo rapaz que ia com os amigos ouvir um velho polícia negro e matulão contar histórias ou oferecer respostas e alibis a quem deles necessitasse, fala da função universal da literatura que é a de oferecer uma chave interpretativa para a vida de cada um de nós. Lemos também em busca de nós próprios e de soluções que redimam as dificuldades da vida. Este livro singelo não se propõe safar ninguém fora da história que conta, mas proporciona uma boa leitura que só termina com a moral da história.
Cultura Editora
Paul Virilio
Guerra e Cinema
Quando em 1983, o arquitecto urbanista e filósofo francês Paul Virilio escreveu a obra de referência Guerra e Cinema, o mundo ainda não havia assistido às imagens em directo captadas na Guerra do Iraque por câmaras instaladas nos capacetes dos soldados. Neste seu livro, o autor analisa a utilização sistemática das técnicas cinematográficas nos conflitos decorridos ao longo do século XX e comprova como o cinema, desde o seu surgimento, abasteceu conceitual e tecnologicamente a guerra e os nacionalismos bélicos. Recorrendo a imagens de combate e a filmes como O nascimento de uma Nação de D. W. Griffith. Napoleão de Abel Gance, Guerra e Paz de King Vidor ou Dois Vultos na Paisagem de Joseph Losey, compõe um inventário histórico dos vários intercâmbios técnicos e ideológicos entre a indústria do armamento, a fotografia e o cinema. Uma fascinante reflexão crítica sobre a capacidade persuasiva das imagens de guerra que demonstra, de forma erudita e original, como o domínio da percepção mediática se tornou mais decisivo do que os acontecimentos no campo de batalha.
Orfeu Negro
Thomas Mann
José e os Seus Irmãos
Thomas Mann (1875/1950), Prémio Nobel de Literatura de 1929, é com frequência considerado o mais importante escritor alemão do século XX. Nas suas novelas revela-se um profundo analista de uma época à beira de uma crise cultural e expõe os principais problemas políticos e morais contemporâneos. Preocupa-o, de forma persistente, a responsabilidade do artista face à sociedade. O escritor evoluiu do conservadorismo para o humanismo social incompatível com o nazismo, vendo-se forçado ao exílio em 1933, primeiro na Suíça e depois nos EUA. Em 1944 torna-se cidadão norte-americano. A sua prosa é complexa, de estilo cuidado e exigente. Sobre José e os Seus Irmãos, romance monumental em quatro partes sobre a figura bíblica de José, escreveu Milan Kundera: “é uma exploração histórica e psicológica dos textos sagrados (…) contados num tom sorridente”. “Porque a religião e o humor são incompatíveis”, o respeito que o romance de Thomas Mann granjeou constituiu, ainda segundo Kundera, “prova de que a profanação deixara de ser percebida como ofensa para fazer doravante parte dos costumes”.
Dom Quixote
Antero de Quental
Poesia – III
A presente edição crítica da Poesia de Antero de Quental distribuída por três volumes, pretende disponibilizar ao leitor de hoje o conjunto da obra poética do autor: a que ele publicou em livro e manteve; a que publicou em livro mas destruiu ou de algum modo alterou; e a que publicou dispersamente ou deixou inédita. Neste terceiro e último volume reúnem-se todos os seus poemas inéditos, bem como aqueles que foram abandonados, alterados ou destruídos e que foi possível recuperar. Sobre e edição de Os Sonetos Completos escreveu Antero: “Ele Forma uma espécie de autobiografia de um pensamento e como que as memória de uma consciência”. Como refere Luiz fagundes Duarte, responsável por esta edição crítica no seu prólogo: Esta relação de convivência entre os sonetos canónicos e a restante produção poética de Antero é particularmente interessante, na medida em que nos permite (…) tomar consciência de um facto incontornável: que há outro Antero para além dos Sonetos”. É esse “outro Antero” que esta magnífica edição nos dá a descobrir.
Abysmo
José Manuel Pedreirinho
História Crítica do Prémio Valmor
Conhecer o Prémio Valmor de Arquitectura e a sua evolução, desde que foi regulamentado em 1902 é, de certa forma, compreender também a arquitectura e o próprio desenvolvimento da cidade de Lisboa. O prémio constitui efectivamente um excelente reflexo da arquitectura que se foi fazendo, e dos gostos dominantes em cada época, já que nele se espelham os estilos predominantes. O galardão tem também funcionado como forma de chamar a atenção do público para o ambiente edificado, seja através das notícias relativas às obras e autores distinguidos, seja pelo inegável prestígio que tem sabido manter. Nesta edição, ilustrada com 150 imagens, o autor analisa os diversos factores e contexto das obras premiadas nos 116 anos da existência do Prémio. Um livro indispensável para conhecer o processo de distinção da arquitectura pelo mais importante prémio instituído pelo Município de Lisboa, sob proposta testamental do Visconde de Valmor (1837-1898).
Argumentum
Ursula K. Le Guin
A Mão Esquerda das Trevas
Neste clássico da ficção científica, Ursula K. Le Guin explora criativamente os temas da identidade sexual, incesto, xenofobia, fidelidade e traição deixando, como na maior parte dos seus trabalhos, uma poderosa mensagem social que nos convida a ir além do racismo e sexismo. A escritora, que Harold Bloom considerou que “elevou a fantasia à alta literatura, mais do que Tolkien”, cria um livro fascinante ambientado num mundo gelado de seres andróginos, vencedor dos Prémios “Hugo” e “Nebula” (1969). Genly Ai é enviado para o planeta Gethen por uma federação interestelar, o Ecuménio. Governado por um rei extravagante, a estranheza deste universo acentua-se na multiplicidade de géneros sexuais, em que os seres podem ser simultaneamente mães e pais de diferentes crianças. Através de Genly, o leitor sofre uma mudança de pensamento e aprende a aceitar as diferenças abismais que encontra na forma de relacionamento entre estes seres, alargando a compreensão da sua própria realidade.
Relógio D’Água
Sérgio Pelágio e Isabel Galvão
Hístórias Magnéticas
Nos últimos dez anos, Sérgio Pelágio, compositor e guitarrista, compôs bandas sonoras originais para histórias infantis narradas por Isabel Galvão e levou-as a escolas, bibliotecas e a outros lugares menos convencionais. Ali, eram recriados os ambientes dos textos de partida e construídos novos significados para as situações narradas. Este projeto, de seu nome Histórias Magnéticas, deu agora origem a um livro que fala!, um CD que reúne as seis histórias-concerto que compõem o seu repertório. A bomba e o general, de Umberto Eco; O meu primeiro Dom Quixote, traduzido do castelhano por Alice Vieira; Enquanto o meu cabelo crescia, de Isabel Minhós Martins; Uma galinha, de Clarice Lispector; Um estranho barulho de asas, de Alice Vieira a partir de um conto macaense, e Nungu e a senhora hipopótamo, de Babette Cole, são os textos que se podem ouvir neste audiolivro e que prometem estimular a imaginação de qualquer pessoa, seja criança ou adulto. Porque a experiência diz a Sérgio e a Isabel que o hábito de ouvir contar boas histórias torna as crianças mais curiosas, mais inteligentes e mais calmas.