Lisboa, a capital europeia da inovação

Espaços de inovação, tecnologia e empreendedorismo

Lisboa, a capital europeia da inovação

Em Lisboa multiplicam-se os espaços onde a inovação, a tecnologia e o empreendedorismo se cruzam. Considerado um forte motor de desenvolvimento, este ecossistema, como é designado, é formado por uma rede que integra organismos públicos, empresas, academia, indústrias e sociedade civil. Apesar de complexa e variada em termos de projetos, missões e objetivos, esta rede e os seus agentes partilham uma ambição: colocar Lisboa na linha da frente da tecnologia, inovação e criatividade, atraindo investidores, investigadores, cientistas e projetos de sucesso.

O prémio Capital Europeia da Inovação, atribuído à cidade no final de 2023, vem legitimar esta pretensão. Traz também um milhão de euros que a Unicorn Factory (Fábrica de Unicórnios) pretende investir em  projetos que coloquem a tecnologia ao serviço da inovação social e do combate à exclusão. Neste sector que quer mudar a cidade nem tudo é acessível, mas há lugar para todos. Damos a conhecer quatro espaços onde as ideias nascem e ganham forma.

HUB CRIATIVO DO BEATO

Rua da Manutenção, 71
hubcriativobeato.com

É uma das principais moradas da inovação em Lisboa e esse é, precisamente, o principal critério de seleção das empresas e projetos que aqui se instalam. Ocupando a área fabril da Antiga Manutenção Militar, o Hub Criativo do Beato será, quando totalmente reabilitado, um dos maiores espaços do seu género na Europa, com capacidade para 3000 postos de trabalho. Dos 18 edifícios do complexo, cinco estão recuperados e 15 estão contratualizados, diz-nos o gestor do projeto, José Mota Leal.

Aqui funcionam os escritórios da Web Summit e da Unicorn Factory estrutura que, em apenas dois anos, atraiu 54 novos centros tecnológicos para Lisboa, vindos de 23 países. Operam-se negócios de grandes multinacionais como a Sixt, desenvolvem-se tecnologias de informação (Claranet), alia-se a arte à tecnologia (Interactive TechnoIogies Institute) e transformam-se bactérias em proteína (Microharvest). A presença de serviços faz-se notar, para já, com a Praça, uma área de restauração e  mercado onde os produtos nacionais têm exclusividade.

Para breve estão previstas a abertura de um museu, a instalar na antiga Fábrica de Moagem e de um espaço de coliving.

CIM – CENTRO DE INOVAÇÃO DA MOURARIA

Travessa dos Lagares, 1
facebook.com/mourariacreativehub

Foi a primeira incubadora municipal a apoiar projetos e ideias de negócio nas áreas das indústrias culturais e criativas, como o design, media, moda, música, azulejaria, joalharia, entre outras. Além de  disponibilizar postos de trabalho totalmente equipados, formação e consultoria à medida, ou uma ampla rede de mentores, o CIM presta ainda apoio aos serviços de incubação ao nível da gestão,  marketing, assessoria jurídica, desenvolvimento de produtos e serviços e financiamento.

De momento, o centro tem 13 projetos em desenvolvimento, sobretudo nas áreas de design de moda, design de comunicação, design para sustentabilidade, design de produto ou têxtil, que ali chegam “através de calls ou de candidaturas abertas ao longo do ano”, diz Rosário Pedrosa, coordenadora do equipamento. “Depois de feita a seleção, os projetos são incubados pelo período máximo de quatro anos, durante os quais cada projeto pode ter até quatro postos de trabalho”, acrescenta.

“O nosso principal foco é o trabalho para os residentes, com workshops, masterclasses, open days, speed datings, etc, mas também trabalhamos para os criativos em geral, assim como para a comunidade”, sublinha Rosário Pedrosa.

FABLAB LISBOA

Rua Maria da Fonte, 4 – Mercado do Forno do Tijolo
fablablisboa.pt

“Um FabLab é um sítio onde se pode fazer quase tudo. E o seu grande objetivo é a capacitação. Sempre foi e sempre será”. É André Martins, coordenador do espaço, quem o garante. “Fazemos essa capacitação através da democratização do acesso a ferramentas, nomeadamente a ferramentas de fabricação digital e prototipagem”, avança. Ali, pode fazer-se mesmo quase tudo, já que o intuito primordial deste laboratório-oficina é transformar ideias em realidade.

Aberto desde 2013, funciona no Mercado do Forno do Tijolo e disponibiliza equipamento industrial, acessível e seguro, como fresadoras de pequeno e grande porte, máquinas de corte a laser e de corte de vinil, impressora 3D, uma bancada de eletrónica, computadores e respetivas ferramentas de programação informática suportadas por software CAD e CAM.

Estando acessível ao cidadão comum, mediante marcação, o FabLab promove open days às segundas e terças-feiras, onde a utilização das máquinas é livre e gratuita, sempre sob o olhar atento da equipa responsável. Este espaço de partilha de conhecimentos e experiências quer-se, segundo André Martins, “cada vez mais um laboratório que tenha um impacto na cidade”.

BIOLAB LISBOA

Rua Maria da Fonte, 4 – Mercado do Forno do Tijolo
biolablisboa.pt

Nasceu em 2022 como um spin-off do FabLab e com a sustentabilidade no seu ADN. É um laboratório de investigação, experimentação e prototipagem, cujo funcionamento é assegurado, em parceria, pela Câmara Municipal de Lisboa e pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Aberto a todos os cidadãos, privilegia ideias e projetos que tragam mais valias para a cidade, como nos diz Rafael Calado, o coordenador deste espaço.

O acesso ao laboratório é feito por convite, por candidatura espontânea ou nos open days que acontecem todas as quintas-feiras. Não é preciso ser cientista ou ter conhecimentos de ciência, como refere Calado, lembrando o caso de uma frequentadora do Repair Café que pediu ajuda para criar embalagens para sabonetes a partir de cascas de amêndoa. No entanto, são muitos os investigadores de várias áreas de conhecimento, que procuram o BioLab para desenvolver os seus projetos.

Atualmente, e por proposta da equipa que dirige este espaço, um grupo de designers faz experiências com algas em protótipos de objetos utilitários. O laboratório tem 3 níveis de segurança biológica e uma carta de ética que define os limites daquilo que aqui pode e não pode ser feito.

[* reportagem em parceria com Ana Rita Vaz]

Glossário
Ecossistema de Inovação – Sistema constituído por vários elementos – organismos públicos, universidades, hubs de inovação, incubadoras, parques tecnológicos – que criam um ambiente propício ao aparecimento de novas ideias, talentos e negócios.
Hub – Polo onde se promove a interação entre diferentes agentes de inovação para partilha de experiências, cocriação e fortalecimento de uma área de negócio.
Coliving – Espaços habitacionais destinados a pessoas ou grupos com afinidades de interesses. Normalmente não habitações permanentes.
Cowork – Espaços de trabalho partilhados que fomentam a partilha de informação e experiências.
Incubadora – Organismos públicos ou privados que disponibilizam apoio estruturado e personalizado a start-ups num estágio inicial.
Spin-off – Empresa ou estrutura criada a partir de uma outra organização já existente que a apoia no seu desenvolvimento.
Start Up – Empresa emergente, normalmente do segmento tecnológico, que aposta em ideias inovadoras.
Unicórnio – Empresa tecnológica que atinge o valor de mil milhões de dólares sem estar cotada na Bolsa.