O rapaz que inventou o melhor amigo

Adaptação portuguesa de "Querido Evan Hansen" estreia no Teatro Maria Matos

O rapaz que inventou o melhor amigo

O musical de Benj Pasek e Justin Paul, a aclamada dupla de compositores de La La Land e The Greatest Showman, chega a Lisboa, na adaptação portuguesa assinada por Rui Melo. Querido Evan Hansen conta a história de um rapaz tímido e desadaptado, cuja vida muda quando um colega de escola se suicida e um equívoco o coloca no centro das atenções da comunidade. Em cena, a partir de 11 de setembro.

Evan Hansen está a terminar o secundário e não tem um único amigo. A sua existência resume-se ao quarto sombrio, onde passa as horas no computador ensaiando cartas para o próprio, conforme prescrição do psiquiatra que a mãe lhe arranjou.

Um dia, na escola, é abordado por Connor, um rapaz problemático, particularmente violento, que se apropria de uma dessas cartas iniciada por “querido Evan Hansen”. Para sua surpresa, poucos dias depois, o sempre ansioso Evan recebe a notícia de que Connor se suicidou, tendo o corpo sido encontrado com a carta, imediatamente atribuída ao próprio.

Enredado na sua timidez e incapacidade de esclarecer a situação, Evan passa a ser olhado pela família do rapaz que se suicidou e pelos colegas de escola como o melhor e único amigo de Connor. Perante um súbito e surpreendente protagonismo decorrente da tragédia, o rapaz acaba por se reinventar, encarnar o papel e passar a viver uma nova vida, juntando à popularidade jamais sonhada uma nova família e uma namorada.

Mais do que um musical adolescente, Querido Evan Hansen transformou-se num fenómeno teatral intergeracional que tem conquistado plateias por todo o mundo desde a estreia na Broadway, em meados da década passada. Escrito por Steven Levenson, com letras e canções da dupla  Benj Pasek e Justin Paul, responsável por sucessos como La La Land e The Greatest Showman, a peça marca o regresso ao teatro musical do ator e encenador Rui Melo, depois do grande sucesso de Avenida Q, que dirigiu entre 2017 e 2020.

Conta Rui Melo que a vontade de adaptar e dirigir Querido Evan Hansen não surgiu propriamente por “ser um grande fã de musicais” – aliás, “não sou”, confessa –, mas sim pela panóplia de temas contidos na peça, como “a ansiedade e a depressão, o suicídio na adolescência, o isolamento e a solidão em que vivemos todos nós, e não só os jovens. E, enquanto pai, identifico-me muito com uma das primeiras canções”, em que as mães de Evan e de Connor lamentam não ter “um livro de instruções que as possa guiar” nesta “coisa tão difícil de se ser pai ou mãe.”

A vivência juvenil no ambiente escolar e nas redes sociais (que aqui vão ser determinantes no desenrolar da ação) aliada às questões adultas da paternidade são tratadas na peça com um justo equilíbrio entre a comédia e o drama, entre a luz e as sombras. Para isso, Rui Melo quis que a versão portuguesa se distanciasse daquele “brilho, cor e movimento” a que associamos, normalmente, o teatro musical, optando por um tom mais grave e sombrio, muito minimal, que sublinha as emoções e os conflitos e contradições das várias personagens.

“A versão que vi em Londres era absolutamente convencional”, conta o encenador. “Na minha perspetiva, este texto pedia outra coisa. Não quis que os artifícios se sobrepusessem ao texto e à sua urgência, nem ao trabalho dos atores.”

Protagonizado por João Sá Coelho, que estuda teatro musical em Barcelona, e que chegou ao espetáculo por via de uma audição “surpreendente e arrebatadora”, Querido Evan Hansen conta ainda com interpretações dos “veteranos” Sílvia Filipe, Gabriela Barros e Miguel Raposo, e dos jovens Brienne Keller, Dany Duarte, Inês Pires Tavares e João Maria Cardoso. A direção musical é de Artur Guimarães e, para além do próprio, nas teclas, a música ao vivo é interpretada por Tom Neiva (bateria), André Galvão (baixo), Marcelo Cantarinhas (guitarra), João Valpaços (violoncelo) e Inês Nunes (viola de arco).

Com estreia marcada para 11 de setembro no Teatro Maria Matos, esta é a última grande produção deste ano de 2024 com a assinatura da Força de Produção.