Michel Foucault
A Escrita como Arte de Existir
Desde os primeiros trabalhos, Michel Foucault defendeu que o ofício da escrita correspondia a uma prática refletida da liberdade e a uma perpetuação do desdobramento de si mesmo, em que os resultados atingidos – expressos na forma de livros, artigos e conferências – se deviam tomar como experimentos descritivos, destinados a problematizar as evidências incontestadas do presente e, nunca por nunca, a constituir-se numa lição sobre a vida dos indivíduos no tempo. O gesto da escrita parece, assim, tomado de uma dupla radicalidade em Foucault: supunha uma entrega sem condição ao seu exercício e, ao mesmo tempo, um combate corpo a corpo a todo e qualquer sinal que a pudesse sacralizar no espaço público. O trabalho escritural originaliza-se nele como o nome que se dá à possibilidade, jamais encerrada, de se inventarem novas formas de existência e de debate público no mundo social do segundo pós-guerra, que ele sentia como estando cada vez mais pressionado pelos discursos multiplicados dos pregadores e pastores da verdade salvadora.
Conferência por Jorge Ramos do Ó, professor catedrático do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.
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