O privilégio de poder fazer em liberdade

Joana Villaverde expõe pinturas abstratas no Pavilhão Branco

O privilégio de poder fazer em liberdade

Óleos sobre tela, de grandes dimensões, compõem a exposição de Joana Villaverde no Pavilhão Branco das Galerias Municipais. My pleasure é uma partilha e um agradecimento da artista plástica pelo espaço e o tempo que tem para trabalhar, sobretudo em dias de guerra no mundo.

Três metros e meio por dois – são grandes, as telas pintadas a óleo por Joana Villaverde, para a exposição My pleasure, patente no Pavilhão Branco das Galerias Municipais a partir de 31 de outubro e até 9 de fevereiro de 2025. Apenas uma obra, um pouco mais pequena, não é totalmente abstrata. Vigia representa a vista a partir do ateliê da artista plástica, instalado no Mosteiro de São Bento, em Avis, um espaço cedido pela Câmara Municipal e onde Joana fundou, em 2018, a sua Officina Mundi, lugar de portas sempre abertas. Foi ali que criou todas as peças que mostra agora em Lisboa e apenas por ali estar nasceu esta exposição, na qual apresenta, pela primeira vez, trabalhos sem qualquer expressão figurativa ou iconográfica. “É por ter este espaço e este tempo que fiz estas pinturas. Há um caminho que jamais podia ter feito se não estivesse em Avis, neste espaço e com este tempo. Artisticamente, cheguei a um lugar a que nem sabia que era possível chegar”, afirma. Por isso, chama a My pleasure “o retrato do privilégio de poder fazer em liberdade”.

Nas pinturas espelha a sensação de plenitude e infinitude que tem por poder trabalhar num ateliê assim, mas também uma vontade de partilha e de relação com o mundo à sua volta, através de pinceladas feitas de gestos largos e fortes. “Como são abstratas, fui livre de me mover diante daquelas telas, foi um movimento físico importantíssimo. Sou pequena e as telas muito grandes, portanto, tive mesmo de usar força física. Foi como se fosse uma dança ou um desporto”, conta. “Neste processo de fazer, vislumbro a infinitude. Para mim um mundo novo. (…) É a enorme ambição de encher o vazio de silêncio”, escreve na folha de sala.

Reflexos do quotidiano

Olhando pela janela do ateliê, começou por pintar céus e apontamentos de terra no fundo da tela. No entanto, a realidade do mundo impôs-se e Joana Villaverde, revoltada com os ataques em Gaza, acabou por cobrir uma tela de vermelho. “Quando acabei estava mesmo maldisposta. Acho que era aquilo que precisava de pintar, era o que tinha de fazer perante o massacre em curso na Palestina, um lugar que já visitei três vezes e ao qual me sinto muito ligada”. Chamou-lhe simplesmente Vermelho.

Estar em Avis, diz, traz-lhe, afinal, uma maior consciência do mundo à sua volta. Longe de se sentir isolada, constata que tem mais tempo para ouvir e prestar atenção ao que vai acontecendo. Também por essa razão criou a Officina Mundi e a abre a outros artistas e à população, organizando residências, exposições e encontros com frequência. “A partilha deste lugar revela-se essencial, porque é demasiado belo para só eu usufruir dele. Tenho a noção do importante que seria termos todos este direito. Não me pertence, é público e assim deve ser.” Para a artista plástica, tudo se resume numa ideia: “Estarmos juntos, abertos, de forma honesta e darmos o melhor que temos uns aos outros”.

Ao mesmo tempo e pensando naquilo que a levou a pintar Vermelho, Joana Villaverde escreve na folha da exposição: My pleasure acaba por ser “a contradição entre a liberdade e a asfixia, a minha liberdade e o colapso da humanidade”. São talvez reflexos do seu quotidiano, expressão que usa nesse texto, e obras que descreve como “céus verticais” com as cores que foi experimentando e misturando nas telas. Numa das outras pinturas, horizontal, confessa que se entregou a tonalidades que antes rejeitava: o roxo e o lilás. Deu-lhe o nome de A cena dos violinos, porque foi também um instrumento com que não simpatizou durante muitos anos… até se ter disposto a ouvir com mais atenção. “Estou mais apaziguada agora”, admite.

My pleasure tem curadoria de António Pinto Ribeiro. De entrada livre, pode ser visitada de terça a domingo, das 10 às 13 horas e das 14 às 18 horas. Joana Villaverde dá as boas-vindas: “Foi com prazer, faça o favor de entrar.”