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Um ciclo em forma de O’Neill
O LU.CA homenageia o poeta Alexandre O'Neill com um programa para toda a família
“Há mar e mar, há ir e voltar”. Todos conhecem a expressão, mas poucos saberão a sua autoria. É de Alexandre O’Neill, e talvez seja o primeiro poema português a transformar-se em provérbio. O poeta, que este ano faria 100 anos (nasceu a 19 de dezembro de 1924), está tão presente nos nossos dias que o LU.CA, em jeito de celebração, decidiu organizar o Ciclo O'Neill e convidar os mais jovens a descobrir um dos nomes maiores das letras portuguesas do século XX.
Inspirando-se no seu trabalho, da poesia à publicidade, passando pelas peças de teatro, canções e filmes, a sala de teatro de Lisboa que se assume como um lugar para as crianças, os jovens e as artes, criou um pequeno programa a várias vozes, intitulado Ciclo O’Neill.
Susana Menezes, diretora do LU.CA, diz que quando se decide a fazer um ciclo temático é porque acredita que existe “um lugar de fala” e que se vão “acrescentar experiências várias e conhecimento” a quem visita o teatro. “Neste caso escolhi Alexandre O´Neill, porque é um sujeito singular na produção literária portuguesa do século XX, para além da comemoração, no final deste ano, dos 100 anos do seu nascimento. Talvez seja um tema pouco óbvio quando se trata de programar para as crianças, mas considero que esta é também a nossa função e objetivo, apresentar propostas artísticas que são alternativas, contextualizadas e na língua adequada, apontando para novos ou reinventados assuntos, para que as crianças e jovens de hoje possam conhecer outras leituras e descobrir o que ainda não conheciam”, diz.
Pensado em diferentes formatos, tempos e linguagens, a criação do ciclo contou com a colaboração determinante de Luís Leal Miranda, que escreveu o espetáculo central (a peça Um Poeta em Forma de Assim: visita guiada à cabeça de Alexandre O’Neill), cocriou a exposição e ainda preparou uma playlist. “Quando me convidaram para escrever um espetáculo sobre o O’Neill, percebi que não queria fazer uma biografia chata sobre o seu nascimento, onde estudou, o que fez, etc. Percebi que queria fazer uma coisa um bocadinho diferente”, adianta Luís. Na peça, cocriada por Malu Vilas Boas, contextualiza-se O’Neill numa viagem ao interior da sua cabeça, da sua vida e obra, um guia do Museu do Pensamento Poético leva o público numa visita guiada pelos objetos desta invulgar “cabeça-museu”, que permite conhecer de perto a forma de ser e escrever do poeta.
Além deste espetáculo, o Ciclo O’Neill compreende outros eventos para que os mais novos fiquem a conhecer este poeta português um pouco melhor. Entre eles, Tomai lá de O’Neill, uma playlist também criada por Luís Leal Miranda com músicas e poemas inspirados pela obra do escritor, uma espécie de banda sonora para um filme que não existe, mas que todos podem ir fazendo na sua cabeça. E há ainda Poemas para Estes Dias, uma programação online de poesia, interpretada por Miguel Fragata e Pedro Mourão, que levam ao site e às redes sociais do LU.CA poemas-vídeo do universo de Alexandre O’Neill. Porque não há hora certa para nos cruzarmos com palavras que nos despertam.
Imperdível, A Loja a fingir do Museu Imaginário, uma exposição de Lavandaria e Luís Leal Miranda, disfarçada de loja de souvenirs, memorabilia ou recuerdos relacionados com a vida e obra do poeta. A mostra surge como complemento à peça de teatro Um Poeta em Forma de Assim, transformando-se numa delegação do Museu do Pensamento Poético. Nenhum dos artigos expostos está à venda, porque esta é, literalmente, A Loja a Fingir do Museu Imaginário.
A completar o ciclo, AlfabetO’Neill é uma oficina de Ana Ribeiro que tem como inspiração os poemas-comentários conhecidos como Divertimentos com Sinais Ortográficos, que Alexandre O’Neill escreveu para a revista Almanaque. Esta oficina convida os mais novos a divertirem-se fazendo desenhos com letras e brincando com o alfabeto mesmo que ainda não saibam ler.