Os dias de Margarida Ferra

A escritora revela a sua agenda cultural para esta semana

Os dias de Margarida Ferra

Com um novo livro, o primeiro de prosa, recentemente publicado, Margarida Ferra faz as suas sugestões para a semana de Carnaval, que é também aquela em que se assinala o Dia Internacional da Mulher.

“Aproveito o tempo a mais que passamos em casa para ensinar a um dos meus filhos como se faz malha.” Assim começa Saber Perder, o primeiro livro de prosa de Margarida Ferra, recentemente editado pela Companhia das Letras, mais de uma década depois da autora ter publicado Sorte de Principiante, de poesia. Ao longo das páginas, entrelaça uma narrativa de pequenos textos, num tecido feito de histórias, lugares, gestos e pensamentos, usando as suas memórias para nos falar de escrita – o prazer de escrever, a dificuldade de escrever, a tentação e a fuga à escrita. Um bom livro para ler nos intervalos das tantas atividades que aqui sugere.

Baile de Carnaval

4 março, das 14h30 às 16h30 e das 17h às 19h
Teatro LU.CA

Já é uma tradição no Teatro LU.CA, este Baile de Carnaval para famílias com crianças a partir dos três anos. Na terça-feira gorda, é Ana Markl quem está aos comandos da música e promete “pop, rock e outros géneros de alegria sonora”, entre máscaras e purpurinas. “Nunca fui, mas gostava muito de ter uma criança foliona para me acompanhar”, diz Margarida Ferra, a rir. “Apesar de já não brincar ao Carnaval há muito tempo, gosto de festas e, sobretudo, de festas à tarde, por isso, a perspetiva de passar uma tarde a dançar parece-me maravilhosa.”

Visitas com jardineiros

5 março, pela manhã
Jardim Botânico de Lisboa

Nas primeiras quartas-feiras do mês, os jardineiros e jardineiras do Jardim Botânico de Lisboa fazem visitas guiadas, bastando para isso dar essa indicação na bilheteira. “Parece-me um ótimo programa para a quarta-feira de cinzas, passar uma manhã ao ar livre, no dia seguinte à folia”, aponta Margarida. “É sempre bom ouvir quem faz e acredito que os jardineiros têm uma relação secreta com as plantas. O Jardim Botânico de Lisboa é lindíssimo e, às vezes, até nos esquecemos de que ele ali está no meio da cidade.”

Uma deriva atlântica. As artes do século XX a partir da Coleção Berardo

MAC/CCB

A nova exposição permanente do MAC/CCB reúne obras de cerca de 160 artistas, “de Pablo Picasso a Amadeo de Souza-Cardoso, de Lourdes de Castro a Marcel Duchamp, de Andy Warhol a Wifredo Lam, de Maria Helena Vieira da Silva a Joaquín Torres-García, de Jackson Pollock a Malangatana, e de Lucio Fontana a Ana Hatherly”… “Quero muito ir ver, porque me interessa tudo o que sejam propostas de leituras de coleções, combinando peças de formas diferentes e criando novos sentidos”, afirma Margarida, apontando os nomes por detrás desta mostra que tem curadoria de Nuria Enguita e Marta Mestre, e assessoria científica de Mariana Pinto dos Santos. “A Marta e a Mariana fizeram juntas uma exposição em Guimarães que era fabulosa, foi a melhor que vi no ano passado, por isso, desta dupla só espero o melhor”, elogia, sublinhando que gosta de exposições que “façam pensar e levantem questões, mesmo quando nos põem num lugar de desconforto”.

Mbye Ebrima

7 março, às 22h30
B.Leza

Margarida Ferra conheceu Mbye Ebrima, cantor, compositor e tocador de kora, natural da Gâmbia e residente em Lisboa, quando o músico atuou recentemente na Quinta Alegre, onde a escritora trabalha como responsável pela Comunicação. Agora, não hesita em sugerir este concerto no B.Leza em que Ebrima apresenta o seu novo álbum. “Ele é fantástico, muito físico e corporal, consegue transmitir pela música uma história. Tem um ritmo narrativo, de alguma forma”, descreve. “Também gosto muito do B.Leza, nunca saio de lá desiludida, mesmo quando vou às cegas. É um lugar muito confortável, com uma proximidade em relação aos músicos que me agrada.”

Mulheres na cidade

8 março, às 11h
Torreão Poente da Praça do Comércio

No Dia Internacional da Mulher, este percurso de duas horas, organizado pelo Museu de Lisboa, anuncia-se como um caminho “por histórias de vida e momentos marcantes da história da cidade e do país, em que o feminino se impôs alto e bom som”. Para Margarida Ferra, “é muito interessante este programa de museu fora de portas, como se o museu estendesse para fora do seu edifício em vez de estar fechado entre quatro paredes”. “Vejo os museus como lugares em que olhamos para o passado em relação com o nosso presente. E a perspetiva feminina desta visita, depois de tantos séculos de invisibilidade, é de celebrar”, acrescenta.

Há dias mais alegretes – contos e panelas

8 março, das 10h30 às 14h

Laboratório (In)Visível

8 março, às 15h
Quinta Alegre

Um programa duplo é o que Margarida Ferra sugere para este sábado na Quinta Alegre. De manhã, o encontro está marcado para a cozinha do palácio, onde se pode aprender a fazer (e depois comer) cachupa vegetariana, com Victoriana Neto e Eupremio Scarpa, dois chefes não profissionais mas que dominam as panelas – a iniciativa é dos Alegretes, o grupo de pessoas que frequentam a Quinta Alegre e se tem juntado para pensar e criar propostas de atividades para a programação. À tarde, Maria Remédio convida crianças a partir dos 6 anos para “uma oficina-laboratório onde se vão experimentar ideias de coisas visíveis e invisíveis” e fazer uma instalação artística em conjunto. Ambas as atividades requerem reserva. “São sugestões aqui na casa, mas acredito que vão ser bons pretextos para voltar ou para vir pela primeira vez”, garante Margarida.

No reino de O’Neill

Até 8 março
Biblioteca Nacional de Portugal

É a última semana para visitar a exposição que assinala o centenário de Alexandre O’Neill na Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) e Margarida Ferra não quer deixar de fazer esta sugestão para quem ainda não conseguiu ir. “Recomendo o O’Neill de olhos fechados. Gosto muito de ver exposições de literatura, embora não seja fácil mostrar uma coisa que é para ser lida.” Com curadoria de Joana Meirim, a mostra sobre um dos nomes maiores do surrealismo em Portugal parte do seu espólio, doado pela família à BNP, e percorre as várias dimensões do autor. “Os livros estão aí para ser lidos e falam por si, por isso, interessam-me os bastidores da escrita, esses caminhos da arqueologia do texto são fascinantes para mim”, confessa a escritora.