agenda
Os dias de Fernando Mota
As sugestões do músico e compositor para esta semana

É esta terça-feira que Fernando Mota estreia, no Centro Cultural de Belém, o seu novo espetáculo. Antes da Chuva Sopra o Vento dirige-se a “todas as infâncias”, diz o músico que aqui sugere programas para os mais caseiros.
Compositor, músico, performer e artista multidisciplinar, Fernando Mota confessa que sai pouco de casa. Não quer isso dizer que tenha uma vida cultural pouco intensa, já que há muito que se pode fazer sem pôr um pé na rua. Esta semana, no entanto, há de estar no Centro Cultural de Belém, onde estreia, no dia 18, o novo espetáculo, que depois levará em digressão pelo país. Antes da Chuva Sopra o Vento “cruza a dança contemporânea com informática musical, utilizando instrumentos experimentais e objetos sonoros criados a partir de árvores, rochas, água e outros materiais naturais”, descreve. “É sobre como os nossos corpos juntos formam um grande corpo. Sobre como os nossos seres vêm de outros seres, como somos parte de uma consciência coletiva interdependente. Um corpo comum.” Um espetáculo em que divide o palco com Carlota Fairfield Oliveira e José Grossinho, rodeados por uma plateia circular, que promove o encontro. A pouco mais de um mês de se apresentar no Japão, na Expo 2025 Osaka, deixa aqui algumas sugestões para aqueles que, como ele, são mais caseiros (e para todos os outros também).
MONSTRA – Festival de Animação de Lisboa
20 a 30 março
Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa e Museu da Marioneta
É um dos festivais favoritos de Fernando Mota e começa já esta semana. “Ainda por cima organizado por um querido amigo homónimo, o Fernando Galrito”, sublinha o músico. “Já lá toquei, fui júri, vi filmes com bandas sonoras minhas”, conta. Todos os anos, é programa certo, em família, com os filhos – “ainda gatinhavam e já viam por lá filmes de animação do mundo inteiro”. Este ano, revela, há uma sessão especial, que não vai perder: “Vou ver pela primeira vez na grande tela, o filme O rapaz que apagava beijos, da Radostina Neykova e do Fernando Galrito, com música da minha autoria”.
No Other Land
de Basel Adra, Rachel Szor, Yuval Abraham e Hamdan Ballal
Cinema Ideal e em streaming na Filmin Portugal
Obrigatório ver, para Fernando Mota, é o filme No Other Land: “Um retrato cru e angustiante acerca da brutalidade e imoralidade da ocupação e limpeza étnica que os israelitas impõem às terras e populações palestinianas há mais de sete décadas, com o financiamento dos EUA e a indiferença da Europa”, descreve. “Apesar de ter acabado de vencer o Oscar de Melhor Documentário, não houve nenhum distribuidor norte-americano a exibi-lo até agora”, lembra. Por cá, é possível vê-lo em casa ou numa sala de cinema de Lisboa.
Do Claro ao Breu, de Sopa de Pedra
Lovers & Lollypops
Para banda sonora desta semana (ou das próximas), Fernando Mota sugere um disco do coletivo Sopa de Pedra. “Já tem uns dois ou três anos, mas continua a visitar frequentemente o meu carro, sobretudo em viagens mais longas fora das autoestradas. É de um dos meus grupos de música portuguesa favoritos, as Sopa de Pedra, coro feminino do qual fazem parte as minhas amigas Teresa e Inês Campos e Inês Melo. O primeiro disco já tinha arranjos e interpretações de um grande bom gosto e subtileza. Este viaja por territórios mais exploratórios e misteriosos. Sou fã.”
Torrões de Terra, de Manuel Zimbro
Assírio & Alvim
O livro está esgotado nas livrarias e na editora, mas pode ser encontrado nas Bibliotecas de Lisboa, começa por avisar Fernando Mota. “Sou um péssimo leitor e a maior parte dos livros que leio acabam por estar relacionados com os temas que estou a pesquisar para algum projeto de criação. Este é um deles. Um estranho livro de poesia e guaches, em formato de disco para, segundo o autor, ser guardado ao lado da música na casa de cada um. De um enigmático artista plástico e poeta, que colaborou com René Bertholo e Lourdes de Castro, tendo sido companheiro desta nos seus últimos anos de vida, as suas palavras têm exercido uma grande ressonância nas minhas explorações sonoras e visuais e na forma como observo e escuto o mundo.”
Metamorphosis, de Emanuele Coccia
Ainda sem edição portuguesa
Fernando Mota descobriu o filósofo Emanuele Coccia ao ler o seu livro A Vida das Plantas, editado por cá pela Documenta. “Tem sido um colaborador involuntário em praticamente todos os meus processos criativos. O facto de ter estudo botânica e depois disso filosofia dá-lhe um olhar totalmente novo acerca dos fenómenos naturais e acerca da perceção que temos sobre aquilo a que chamamos natureza, vida ou biologia”, nota o músico. “Este Metamorfoses chamou a minha atenção porque o tema da transformação e da memória tem estado muito presente na minha vida e no meu pensamento.”