Uma alegoria da Arte Contemporânea
por José B. Miranda

Paradoxalmente uma crise difusa atravessa a ideia de arte contemporânea, enquanto as obras de arte se multiplicam e disseminam. Num momento de viragem, em 1970, Adorno afirma que se tornou manifesto que tudo o que diz respeito à arte deixou de ser evidente, tanto em si mesma como na sua relação com o todo, e até mesmo o seu direito à existência.
As diversas estéticas que procuraram pensá-la foram falhando sucessivamente, acima de tudo pela recusa por parte dos artistas de qualquer juízo estético, mas também porque o centro institucional das artes – o museu – foi perdendo força, como se tivesse ocorrido uma espécie de evasão geral.
As atuais tentativas de usar a política como critério constitui mais um problema que uma solução, dado que sem a força da an-arché a arte se reduz a mera auxiliar das ideologias em guerra. Nestas circunstâncias o único critério que parece restar é a “obra de arte”, cada uma delas na sua singularidade produzindo uma estética transitória, inventando conceitos, determinando os seus encontros e desencontros no real.
Neste sentido, cada obra, sendo única, cria espontaneamente uma alegoria da arte. Todas o fazem necessariamente, mas por razões misteriosas nem todas o fazem da mesma maneira, nem possuem a mesma potência.
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