Uma solidão demasiado ruidosa
B. Hrabal/A. Simão
Em 1997, os Artistas Unidos levavam a cena, no Centro Cultural de Belém, um espetáculo criado e interpretado por António Simão, adaptação para teatro do romance Uma solidão demasiado ruidosa do escritor checo Bohumil Hrabal (1914-1997). Mais de duas décadas depois, o ator revisita (“não é uma reposição, é uma revisão da matéria dada”, garante a companhia) o velho Hanta, homem que numa cave “sombria e suja como um esgoto”, exerce, há mais de 30 anos, a tarefa tenebrosa de empurrar livros e papeis para uma prensa que os tritura.
Mas, Hanta não é um destruidor de livros qualquer. Apesar de soterrado em volumes poeirentos, estar rodeado de ratos e beber ininterruptamente cerveja, ele é o “carniceiro terno” que salva como troféus alguns livros e guarda na memória as palavras mais belas que ali repousam. E é com as palavras que conta a história do seu tempo, da II Guerra Mundial à Primavera de Praga.
Por ironia, ou apenas laivos de grotesco, como verifica António Simão, “aquilo de que sofreu Hanta, a personagem desta história, chega nestes nossos dias ao pico do seu horrendo desenvolvimento – a industrialização, a tecnologia, o consumo e a desumanização”. Talvez, por isso, seja tão urgente voltar àquele subterrâneo em Praga, tantos anos depois. FB
O Teatro da Politécnica adverte que os horários e o número de sessões estão sujeitas a confirmação, dependendo das lotações autorizadas pelas autoridades sanitárias.
Ficha técnica:
Artistas Unidos. A partir de Bohumil Hrabal. António Simão, criação e interpretação.
10 € - preço normal (ver descontos)
6 € - terça-feira (dia do espectador)
Local: