opinião
Os teatros estão fechados, mas o teatro não é impossível
Um artigo de Francisco Frazão
Depois de ter dirigido a programação de artes performativas da Culturgest, Francisco Frazão assumiu, em 2019, a direção artística do TBA - Teatro do Bairro Alto, um novo espaço municipal inteiramente dedicado a projetos artísticos experimentais, nacionais e internacionais. Para a edição de maio da Agenda Cultural de Lisboa, Francisco Frazão foi uma das personalidades desafiadas a refletir sobre o teatro que dirige em tempos de pandemia e a enorme incógnita do futuro.
Desde que fechámos, a coisa mais importante que estamos a fazer no Teatro do Bairro Alto é encontrar maneira de, com os mecanismos legais disponíveis, assegurar o pagamento dos compromissos com artistas e restantes trabalhadores. Não deixámos de fazer planos e conjecturas, de reagendar espectáculos, de imaginar o futuro (é essa a definição de programar); mas temo-nos sobretudo concentrado no presente, é aí que começa a nossa obrigação.
Neste presente suspenso, divulgámos online a brochura que teria a nossa programação até Junho e ficou por imprimir, artefacto de uma realidade alternativa; preparamos um novo processo de obras no edifício, desta vez nas zonas de bastidores; e pensamos no que pode fazer, em tempos de isolamento, um espaço que serve para juntar pessoas.
Como o TBA, antes de abrir, começou online (com fotos e vídeos e um podcast), interessa-nos promover a interrogação de alguns formatos digitais, prosseguindo assim a nossa vocação experimental: os teatros estão fechados, mas o teatro não é impossível. E também não é obrigatório: há muitas pessoas (público e artistas) que não querem nem podem mudar-se de armas e bagagens para o Zoom. Esperaremos por/com elas.
E será talvez gradualmente que voltaremos a estar juntos, a estar perto. Pouco a pouco, que de crescimentos exponenciais já estamos fartos.