sugestão
Os livros de agosto
Sete livros para ler em mês de férias
O cinema é o tema que domina esta escolha de livros para ler no mês de agosto: as Folhas da Cinemateca dedicadas a Paulo Rocha e um monumental estudo sobre o esforço de guerra em Hollywood a partir da experiência de cinco dos seus melhores cineastas, John Ford, George Stevens, John Huston, William Wyler e Frank Capra. A arte do romance surge representada pelas obras mais recentes de dois dos seus mais distintos cultores, o escritor turco Orhan Pamuk, prémio Nobel de Literatura, e a portuguesa Lídia Jorge. A poesia não é esquecida num volume que une um poeta português contemporâneo ao grande mestre do romantismo inglês: Daniel Jonas antologia e traduz William Wordsworth. A terminar, um original livro sobre o tema da calçada portuguesa e, a pensar nas férias que se avizinham, um roteiro sobre as mais belas praias nos arredores de Lisboa. Boas leituras!
Orhan Pamuk
A Mulher de Cabelo Ruivo
Editorial Presença
Romance edipiano, narra a história de Cem Çelik, um jovem abandonado pelo pai. Cem aceita um trabalho como aprendiz de um escavador de poços, criando com o mestre uma ligação filial. Um dia, sente uma atração irresistível por uma mulher de cabelo ruivo e abandona o mestre no momento em que este sofre um grave acidente. O sentimento de culpa é incomensurável. Ao longo da vida tenta agir “como se nada tivesse acontecido”, mas tudo lhe recorda o seu crime. Lê os Irmãos Karamazov de Dostoiévski, em Teerão depara-se com imagens de Rostam, o héroi do poema épico Shahnameh, nos museus de Paris com os quadros Édipo e a Esfinge de Ingres e de Gustave Moreau, em Moscovo com Ivan, O Terrível, com seu Filho, de Ilya Repin. Em Istambul assiste à projecção de Oedipus Rex de Pasolini, com Silvana Mangano, ruiva magnífica. Pamuk escreve sobre um dos temas mais antigos da história da literatura, “o enigma de pais e filhos”, e promove uma reflexão fascinante sobre a relação entre mito e realidade, passado e presente, memória e esquecimento.
Lídia Jorge
Estuário
Dom Quixote
Após Os Memoráveis, lúcida e corajosa revisitação dos mitos da Revolução de Abril de 19174, Lídia Jorge narra, neste seu novo romance, a história de um jovem sonhador que tem uma terrível premonição do futuro. Edmundo Galeano esteve em missão humanitária nos campos de Dadaab no Quénia onde, na sequência de um acidente, perdeu três dedos da mão direita. Foi junto dos refugiados, nessa imensa cidade de poeira, que teve um vislumbre do fim da humanidade. De regresso a Lisboa, à casa de família no Largo do Corpo Santo, treina incansavelmente a sua mão, copiando trechos da Ode Marítima e da Ilíada, a fim de se preparar para escrever um livro destinado a tentar evitar o fim do mundo. A falência do negócio de família, leva os seus quatro irmãos a venderem o património e a refugiarem-se na casa paterna, desencadeando uma verdadeira luta territorial. É de volta ao seio da família que vai vivenciar uma tragédia e perceber que antes de escrever o livro sobre o fim do mundo é preciso tentar salvar aqueles que melhor conhece e mais ama.
Mark Harris
Os Cinco Magníficos: Hollywood e a Segunda Guerra Mundial
Edições 70
Os primeiros anos da II Grande Guerra constituíram um período crítico para o cinema americano que perdeu quase por completo o mercado europeu. Hollywood, com uma comunidade em grande parte composta por emigrantes do velho continente, incluindo alguns dos seus principais cineastas, não pôde passar ao lado da guerra. A partir de 1938, com Confissões de um Espião Nazi de Anatol Litvak, muito antes do ataque a Pearl Harbour e da entrada dos Estados Unidos no conflito, a indústria associava-se ao esforço de guerra produzindo filmes de propaganda antinazi. Este livro, rigoroso mas de leitura compulsiva, narra a história de cinco grandes realizadores de Hollywood – John Ford, George Stevens, John Huston, William Wyler e Frank Capra – que foram para os campos de batalha armados com câmaras de filmar, moldando a percepção do público sobre os grandes momentos da guerra. Demonstra como Hollywood contribuiu para alterar o rumo da Segunda Guerra Mundial e revela, consequentemente, a forma como a guerra mudou a indústria do cinema americano.
William Wordsworth
Poemas Escolhidos
Assírio & Alvim
A infância do grande poeta romântico William Wordsworth (1770/1850) vivida na paisagem natural de Lake District foi uma experiência intensamente feliz cuja memória moldaria a sua obra literária. Contudo, a sua poesia não é apenas uma mera evocação da natureza, mas o produto de alguém que, através do “coração e da mente”, procura o elo profundo entre as paixões humanas e a beleza das formas permanentes da natureza. O poeta pretende entender melhor a humanidade mediante uma “apreensão visionária” daquilo a que chama “a forma das coisas”. No poema As Mesas Voltadas escreve: “Um ímpeto de bosque vernal / Pode ensinar-te mais / do Homem, do bem, da moral / Do que sábios e tais.” A Ode: Sugestões de Imortalidade termina com os seguintes versos: “Pra mim a flor mais simples tem em si / Meditações profundas mais que as lágrimas”. A presente antologia, com selecção, tradução e introdução do poeta português Daniel Jonas resulta“ não apenas do gosto pessoal do seu tradutor, mas idealmente de uma leitura desejadamente informada e ampla do seu autor”.
Robert Butler e Andy Mumford
Praias Escondidas: Lisboa
Arte Plural
Quantos lisboetas já ouviram falar ou já se banharam na Praia da Ursa, na Praia do Giribeto ou na Praia dos Lagosteiros? No entanto, todas elas se situam a menos de uma hora de carro da capital. Este livro ilustrado com belíssimas imagens de Andy Mumford, fotógrafo profissional de paisagens e viagens, apresenta-nos 32 praias, verdadeiras jóias escondidas a oeste e a sul de Lisboa (Sintra Norte, Sintra Oeste, Costa de Lisboa, Cabo espichel e Arrábida), e lança o mote para as protegermos e conservarmos. Robert Butler, autor do texto, professor de inglês no British Council Lisboa e guia de percursos pedestres, não se limitou, neste roteiro, a sugerir óbvias praias com belos areais, excelentes para aproveitar o sol e tomar banhos de mar. Incluiu também enseadas rochosas que se alcançam com caminhadas deslumbrantes, baías isoladas ideais para snorkeling e praias perfeitas para piqueniques em família, a prática de canoagem ou de campismo livre. Este verão leve consigo este guia essencial e parta à descoberta do nosso belíssimo litoral.
As Folhas da Cinemateca
Paulo Rocha
Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema
Em 2018 teve início a segunda vida da colecção As Folhas da Cinemateca, que em período anterior, até 2011, deu origem à publicação de 28 volumes. A segunda série arranca com edições dedicadas a Fernando Lopes e a Paulo Rocha, duas figuras principais do cinema feito no nosso país na segunda metade do século XX, que partilham os mesmos anos de nascimento e morte: 1935 e 2012. Maria João Madeira organiza a edição dedicada ao cineasta de Os Verdes Anos (1963), Mudar de Vida (1966) ou O Rio do Ouro (1998), que conheceu recentemente a honra póstuma de ver um dos seus outros filmes, A Ilha dos Amores (1982), ser exibido em cópia recentemente restaurada, numa secção dedicada a clássicos do cinema do Festival de Cannes. O volume abarca como é habitual toda a obra de Paulo Rocha, com textos da autoria de João Bénard da Costa e Jorge Silva Melo, Luís Miguel Oliveira e Inês N. Lourenço, entre outros. É muito agradável a sensação que se tem ao folhear esta nova série da colecção. O prazer táctil é superior, e os olhos também ganham com a maior qualidade do papel que serve na perfeição as muitas imagens que ilustram ou separam os textos. Algumas muito belas, como os filmes de Paulo Rocha.
Ernesto Matos
Calçada Portuguesa – Scriptum in Petris
Sessenta e Nove Manuscritos
“Nenhum povo do mundo se pode gabar de possuir tão rica e vasta colecção de hinos patrióticos (…).” Assim se referiu, Almeida Garrett, à arte de pavimentar as calçadas do Passeio Público de Lisboa, no seu livro O Arco de Sant’Ana. Ernesto Matos, incansável divulgador desta arte tão tipicamente portuguesa, espalhada pelos sete cantos do mundo, oferece-nos agora um dos seus livros mais singulares e originais sobre o tema. Um projeto que aborda a calçada portuguesa através das suas pedras, das suas mensagens gráficas e literárias como formas de arte. Cada interveniente teve aqui a oportunidade de se manifestar livremente, dando à pedra algo de si. Foram convidados vários artistas plásticos de renome nacional e internacional, bem como algumas escolas do país e gente, muita gente que aceitou o desafio de se “confessar”, afinal, numa simples pedra da calçada. Revele-se também numa das páginas deste livro que está guardada para si.