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Peça para marionetas de carne e osso
'A morte de Tintagiles' no Teatro do Bairro
Atores do recém-desaparecido Teatro da Cornucópia juntam-se em palco para interpretar um dos Trois Petits Drames pour Marionnettes do escritor belga Maurice Maeterlinck. Ricardo Aibéo dirige A Morte de Tintagiles, em cena até 4 de junho, no Teatro do Bairro.
“É como estar fechado dentro de um sepulcro a assistir a um conto infantil”, diz Ricardo Aibéo, o ator, agora encenador, que reuniu quatro colegas, “e companheiros ao longo de 20 anos na Cornucópia” – Duarte Guimarães, Rita Durão, Sofia Marques e Dinis Gomes –, sobre o espetáculo que dirige a partir de uma das três peças para marionetas de Maurice Maeterlinck.
Carregado de simbolismo, o texto do nobelizado autor belga, que atingiu a fama com Pelléas et Melisande (peça da qual Debussy fez uma das suas óperas mais famosas), conta a história de Tintagiles (Dinis Gomes), uma criança que regressa à sua ilha natal, ensombrada pelo poder oculto de uma Rainha. Recebido pela irmã mais velha, Ygraine (Duarte Guimarães), depressa o jovem experiencia o negrume que se abateu sobre aquele pequeno mundo e o destino fatídico que o espera, mesmo que Bellangère (Rita Durão) e o velho mestre Anglovale (Sofia Marques) tudo façam para o contrariar.
Como sublinha Aibéo, “a história é apenas um alibi para Maeterlinck promover um exercício teatral”, em que importa mais o que “a imaginação alcança do que aquilo que se vê”. E os atores assumem-se como marionetas, sem género, nem condicionalismos, peças dispostas a serem “movidas” por uma personagem não corpórea, mas omnipresente, que é a Rainha, manipuladora de todas as existências, e até do silêncio, “a música de fundo deste espetáculo”.