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Para ficar de ‘Boca Aberta’
Histórias encenadas no TNDM II
Depois de circular por uma dúzia de jardins-de-infância de Lisboa, o projeto Boca Aberta instala-se no aconchego do Salão Nobre do Teatro Nacional D. Maria II. Em março, as histórias encenadas por Catarina Requeijo reúnem-se no espetáculo Isto Não é um Sonho? Em final de abril, quando a aventura trocar a interrogação pela exclamação, teremos Isto é uma Viagem!
Na sua segunda temporada, o projeto Boca Aberta tem vindo a levar o teatro aos jardins-de-infância da rede municipal de Lisboa, encantando com as suas histórias pejadas de imprevisibilidade e aventura esse público tão exigente que vai dos três aos cinco anos de idade. Integrado na programação infanto-juvenil Cresce e Aparece, do Teatro Nacional D. Maria II, o Boca Aberta convida agora as crianças a virem ao teatro. A 11 de março, estreia Isto Não é um Sonho?, um espetáculo onde “os sonhos são as brincadeiras do sono, e as aventuras de quem sonha acordado”.
“Neste espetáculo criamos um lugar entre o sonho e a realidade e cultivamos a dúvida, dai a interrogação: Isto não é um sonho?”, explica-nos a encenadora Catarina Requeijo que, depois de uma recolha de textos feita pelas escritoras Inês Fonseca Santos e Maria João Cruz, as transforma em aventuras de palco. E quem serão os simpáticos amiguinhos que nos levarão à aventura? Sem quebrar o mistério, Catarina Requeijo desvenda que, neste espetáculo, estará “o Escaravelho, uma deliciosa personagem criada pelo escritor Manuel António Pina, e três carteiros sonhadores que viajam através das cartas que levam a vários sítios do mundo, numa alusão ao filme Escola de Carteiros”, do cineasta francês Jacques Tati.
Posteriormente, a partir de 29 de abril, um novo espetáculo vai pôr os miúdos de Boca Aberta. Chama-se Isto é uma Viagem! e, tal como em Isto não é um Sonho?, as interpretações estão a cargo de Carla Galvão, Lucília Raimundo, Sandra Pereira e Vítor Yovani.
É “um público muito exigente”, afirma Catarina Requeijo, a encenadora do projeto Boca Aberta. Com quase duas décadas de trabalho em teatro infanto-juvenil, crê “que nunca podemos acreditar estar completamente preparados para este público: não faz fretes, quando não gosta desliga e é absolutamente sincero.”
Com Inês Fonseca Santos e Maria João Cruz, responsáveis pela seleção e colagem de textos que integram as histórias do Boca Aberta, a encenadora assume esta experiência em concreto como “um trabalho constante de tentativa e erro, onde não basta haver coisas muito bem escritas, que parecem ser perfeitas e que, depois, não funcionam”. Sublinha, a exemplo, o humor que se aplica nos espetáculos: “nós pensamos saber quando é que os miúdos se vão rir, mas, às vezes, eles acabam por rir onde nós jamais imaginariamos, e isso é um desafio para os atores que têm de ser capazes de se adaptar numa fração de segundo”.
Adaptação é, precisamente, algo a ter muito em conta num projeto como o Boca Aberta, concebido especialmente para se introduzir no ambiente escolar. “Nas escolas temos de ter espetáculos todo-o-terreno, como lhe costumo chamar, capazes de aguentar tudo, como os barulhos da cantina, o movimento nos corredores, as entradas na sala para dar um recado, etc. Ou seja, têm de ser espetáculos aptos a conviver com o dia-a-dia da escola.”
Mas, agora, o Boca Aberta instala-se no teatro e… o espetáculo muda! “Estes dois espetáculos são pensados para um certo aconchego, por isso diria que são mais misteriosos. Afinal, vamos tratar do sonho”, sublinha. E nada melhor do que o conforto de um espaço tão bonito como o do Salão Nobre do Teatro Nacional D. Maria II para esquecer os tablets ou a televisão e vir viver “um tempo suspenso”, o tempo do teatro “onde se pode parar e ouvir uma história”, e se consegue “um foco único”, algo que Catarina Requeijo acredita ser “fundamental para as crianças de hoje.”