Pais & Filhos

Para construir este espetáculo, à experiência decorrente de um projeto da vida pessoal, Pedro Penim decidiu juntar um ensaio feminista recente sobre a abolição da família e aquele que é um dos mais importantes romances da literatura universal: Pais e Filhos de Ivan Turguéniev.

Por partes: Penim tem a decorrer um projeto de parentalidade através do sempre controverso processo de gestação por substituição (vulgarmente denominado por “barriga de aluguer”). Ora, o apelo da paternidade levou o dramaturgo, encenador e ator a múltiplos questionamentos, resultando na leitura do ensaio da britânica Sophie Lewis, Full Surrogacy Now: Feminism Against Family.  A ativista feminista, “comprometida com a Ecologia Cyborg e o Comunismo Queer”, critica tanto as noções tradicionais de parentesco quanto a indústria de gestação por substituição que move, segundo dados referidos no ensaio, mais de mil milhões de dólares por ano só nos Estados Unidos. Para não resumir a discussão ao campo estrito do “documento biográfico”, Penim assenta esta nova criação na obra-prima de Turguéniev, um dos maiores autores russos do século XIX, que através de uma brilhante narrativa romanesca olha para os choques geracionais, sobretudo entre pais e filhos, como motores de mudança cultural, social e política.

Ao criar a partir desta referência um “universo ficcional”, o autor e encenador procura que Pais & Filhos consiga – certamente, com a irreverência a que o Teatro Praga sempre nos habituou – estender o delicado e controverso debate sobre a filiação e a família para além da sala de teatro. FB

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