Ouvidor Geral
Miguel Castro Caldas/ Manuel Wiborg
Nos documentos, há um Fernão Lopes que não é o Cronista. Viveu um século depois, partiu em 1506 para a Índia com Afonso de Albuquerque. Foi, ao longo da vida, escudeiro, católico, depois traidor, renegado, mercenário, muçulmano. Ao contrário do seu homónimo, nunca escreveu uma palavra. Viveu os seus últimos vinte e tal anos exilado na pedregosa ilha de Santa Helena, como Napoleão trezentos anos depois. Completamente sozinho, olhava para o que via de si mesmo – as suas mãos – só que não tinha mãos. Mesmo assim, sem mãos nem orelhas nem nariz, mas com as sementes que os barcos deixavam quando ali faziam aguada, transformou a ilha num jardim globalizado.
Miguel Castro Caldas
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