Rui Castanho
Once upon a time
À maneira da personagem Alice, de Lewis Carroll – que depois de beber um elixir mágico, decresce e pode passar através de uma porta minúscula – é preciso que nós mudemos para entrar e percorrer este “Once upon a time” de Rui Castanho. Este texto é uma parte do exercício de procurar por diferentes acessos um encontro com estes trabalhos, sabendo que nunca se tem garantias de admissão, e que qualquer acesso é parcial.
O interesse dos artistas pela “arte das crianças” ou a “arte dos loucos”, ou seja, pelos seus modos de fazer, não é de hoje. A criança com que Rui Castanho aprende é uma certa criança, e muito significativa e originalmente, também aprende com um certo tipo de adolescente. (…)
(…) Estes são desenhos e pinturas de imaginação e não de observação. Mas, são também, desenhos e pinturas de um imaginário. A mais evidente manifestação dessa potenciação é a densificação material e a grande dimensão dos trabalhos que (conjuntamente) excedem os desenhos “retinianos” – escrevemos com humor – de qualquer criança. Esse trabalho está presente igualmente nas dissonantes grandezas afetivas que os diferentes elementos do desenho e da pintura adquirem nos trabalhos, e ainda, na ampliação das escalas dos gestos deste modo de fazer: o risco risca gigante e repetidamente, a cor vibra, a cor acidifica, a cor fosforesce e brilha, a matéria adensa-se ou liquefaz-se. (…)
(…)“Once upon a time” é sobretudo um tempo contemporâneo: um tempo em que as imagens da arte se misturam com imagens BD ou imagens de origem muito variada na superfície luminosa dos ecrãs; é também um espaço de uma certa comunidade contemporânea e uma “cena artística” mediática e performativa, mas fundamentalmente, é uma possibilidade presente da arte materialmente ser, existir por si própria, irredutível.
Fernando Poeiras
Terça a sábado, das 14h às 19h30
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