Amar em tempos de luta e resistência

Hotel Europa apresenta "Esta é a minha história de amor" no TNDM II

Amar em tempos de luta e resistência

Como amavam os resistentes antifascistas e os clandestinos comunistas em pleno Estado Novo? O casal de artistas André Amálio e Tereza Havlicková fecha o ciclo de espetáculos, que investigou as implicações da luta política na vida amorosa de vários ativistas, com Esta é a minha história de amor, em estreia a 17 de março no Teatro Nacional D. Maria II. Alguns desses protagonistas contam mesmo as suas histórias de amor, luta e resistência in loco.

Para estas mulheres e estes homens o amor é indissociável da luta política que travaram durante longos e árduos anos. Porque amar é também político, como estava tão presente no primeiro espetáculo, Amores Pós-Coloniais (2019), que o Hotel Europa, coletivo dirigido por André Amálio e Tereza Havlicková, dedicou ao tema, e que Esta é a minha história de amor encerra, trazendo para o palco, para testemunhar de viva voz, Isabel do Carmo, Armando e Mariana Morais e, em vídeo, Adolfo Maria, Gouveia de Carvalho, Mário Jorge Maria e Margarida Tengarrinha.

“Era um passo importante para nós fechar este ciclo de espetáculos sobre o modo como o amor é condicionado por sistemas políticos ou estruturas de pensamento político não com atores, mas com alguns desses protagonistas”, esclarece André Amálio.

De entre o leque de pessoas que pretendiam convidar, André e Tereza apenas lamentam não ter ao vivo Adolfo Maria, impossibilitado por um AVC. “Mas, só o facto de ter aqui estas três pessoas, de estar a trabalhar com elas e a dar ao público o prazer de as ver e ouvir ao vivo, como nós quando as entrevistamos, já é qualquer coisa de mágico.”

Um amor nascido na clandestinidade: Armando e Mariana Morais

Uma vez mais é o território da vida privada, afinal tão entrelaçado na vida política destas personalidades, que surge como principal foco do espetáculo. “Concluímos um caminho que, por sinal, se iniciou aqui no Teatro Nacional D. Maria II, com Amores Pós-Coloniais, e prosseguiu com Amores na Clandestinidade, Perfect Match e Amores de Leste” lembram. “Foi bastante enriquecedor perceber como é que as relações amorosas, consoante o sistema que estávamos na altura a estudar, alimentavam a luta.”

Uma ideia que Margarida Tengarrinha, resistente antifascista, antiga funcionária clandestina do Partido Comunista Português e companheira de José Dias Coelho, profere em entrevista dada a André Amálio, exibida no espetáculo: “estávamos apaixonados um pelo outro e pela luta que estávamos a travar.”

Margarida Tengarrinha conta as suas histórias de amor em tempos terríveis numa emocionante entrevista em vídeo.

E, são histórias de amor, resistência e luta que ouvimos contar de viva voz por alguns protagonistas. As da médica Isabel do Carmo, como aquela de um namorado que lhe escrevia arrebatadoras cartas de amor e que, já após o 25 de Abril, ela viria a descobrir que a denunciara à polícia política fascista. Ou as do casal Armando e Mariana Morais que se conheceram na clandestinidade, se apaixonaram, casaram e tiveram filhos mas, saltando de casa em casa, mantiveram incólume uma tipografia clandestina.

Esta é a minha história de amor testemunha vidas onde o amor foi tocado pelo político, e vice-versa, tal como amores que venceram a opressão ou amores que a opressão destruiu. Mas é sempre, na alegria e na tristeza, uma bela história de amor coletiva aquela que se conta, na Sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II, até 10 de abril.