Leopoldo Criner

Esta é uma exposição sobre o olhar. Por um lado, o olhar do espetador, por outro o olhar que a obra oferece à visão. Um simulacro, uma irrealidade da imagem, uma coisa oferecida para ser vista e retribuir essa visão, uma revelação de rostos e dos seus olhares, seres que se querem vivos e a ver.

“O meu assunto é a criação”, disse-me Leopoldo Criner há meses, num dia de estio, de fogo e de cinzas em que o mundo natural parecia rebelar-se contra nós. Compreendi-o logo. A sua obra passou por muitas transformações, mas, quer nas pinturas abstratas, de cores vibrantes, que conheci há cerca de uma década, quer nos dípticos figurativos a tinta-da-china que nos apresenta agora, somos acolhidos por uma flora e uma fauna imaginárias que nenhuma outra palavra resume tão bem.

São raros os momentos em que fala sobre os temas que pinta. Quando o faz, cultiva a reticência, que é nele uma manifestação de respeito pelo espectador. As imagens, diz, falam por si. Nem estas, nem os títulos, nem os contextos devem impor uma interpretação.
Parece-me que há algo de oriental na relutância do artista que se afasta para preservar uma relação hierática entre a obra e quem a observa, e tento encontrar os seus traços nos quadros que me revela.

Depois penso que não me cabe a mim descobrir o que ele quis deixar guardado, e recolho-me também, para que o leitor fique a sós com as pinturas e possa pensar sobre elas o que lhe apetecer.
Luís M. Jorge