Alto Nível Baixo

Esta exposição pretende mostrar pela primeira vez em Lisboa (e Portugal) uma seleção de produções audiovisuais de artistas, criadores e cineastas brasileiros realizadas durante a ditadura civil-militar brasileira, com especial atenção para o período referente ao “Ato Institucional nr 5” (AI-5), em 1968, que marca a restrição das liberdades individuais no Brasil. Experimentais, marginais, contestatárias, poéticas, delirantes, absurdas, escatológicas, entre vários outros adjetivos, as produções audiovisuais reunidas para esta exposição revelam um pacto de revolta e alegria face aos tempos pesados da ditadura autoritarismo vigente (“é proibido proibir”), alinhando-se aos movimentos contra-culturais ao redor do mundo; exploram a diversidade de linguagens fílmicas e movimentos artísticos brasileiros deste período (“cinema marginal”, “udigrúdi”, “superoitismo”, “filme de arte”, “filme experimental”, etc.), e testemunham a centralidade da linguagem fílmica para a arte brasileira contemporânea.

Conjuntamente, apresenta-se a série de trabalhos em papel intitulada Desenhos de Guerra do artista português Manoel Barbosa (n. 1953). Realizados em 1974, em Angola, durante o serviço militar obrigatório no ex-Ultramar, são desenhos esquemáticos de “máquinas de guerra”, “à margem” ou “desviantes” do trabalho mais conhecido do artista na área da performance.

Ao conjugar duas linhas narrativas/dois núcleos expositivos em simultâneo, a exposição Alto Nível Baixo oferece espaço para que estes sejam lidos de forma independente ou imbricada, refazendo (ou melhor, baralhando) as relações de poder entre as partes e o todo, a unidade e a multiplicidade, o centro e as periferias, o individual e o particular; em suma, contrariando a mitologia cientifista e tecnocrática da suposta objetividade, arma de arremesso dos movimentos contra-culturais do mundo inteiro.

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