António Neves Nobre

António Neves Nobre trabalha sobretudo a pintura, criando obras marcadas pela indeterminação tanto a nível técnico como a nível daquilo que é enunciado. Os materiais usados são identificáveis, contudo, a forma como a tinta é aplicada sobre a tela permanece, propositadamente, indefinida. Esta dicotomia é parte integrante da prática do artista, que mantém as suas obras num enquadramento que invoca a imprecisão e contradição percetivas, abrindo espaço a experiências e interpretações exteriores.

Em Laboratório de Próteses, Neves Nobre apresenta uma nova série de pinturas que dão continuidade a uma linguagem que tem vindo a explorar em trabalhos anteriores, numa proposta que revela breves momentos imersivos. Neste conjunto de obras, cuja escala é manifestamente mais intimista, o artista apela a uma contemplação mais demorada e atenta. Estas são obras que nos levam ao encontro de aparentes transformações e reações químicas, fenómenos terrestres e atmosféricos.

A exposição propõe cristalizar momentos particulares, amostras de pequenos mundos, conferindo-lhes individualidade, numa tentativa de fixar o instante de emulsão da matéria líquida, ou a vibração da superfície depois de um impacto.

As obras expostas abrem caminho a uma abstração inteiramente vinculada ao universo imaginativo do artista, mas sobre o qual pouco é revelado, deixando espaço para que quem as observa e perscruta lhes possa conferir novos significados. Assim, Neves Nobre dá o mote, potenciando um diálogo com o visitante e deixando-lhe um convite em aberto para um encontro de referências, de modo a que este lhe dê continuidade e substância.

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